Segunda-feira, 9h da manhã. Um sol brilhava no céu azul de poucas nuvens e clima úmido e quente de João Pessoa para receber os participantes que chegavam para uma semana de debates e reflexões com uma diversificada programação científica. Entre os dias 20 e 24 de novembro, a cidade onde o sol nasce primeiro acolheu pesquisadores, gestores, estudantes e profissionais da saúde na 9ª edição do Simpósio Brasileiro de Vigilância Sanitária (Simbravisa), evento promovido pela Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco).
“Que o sol brilhe e ilumine os caminhos da vigilância sanitária. Vamos provoca-los através de uma programação cuidadosamente preparada, convidando aos debates e particularidades das discussões temáticas”, afirmou a presidente da edição do Simbravisa, Jória Guerreiro, durante a cerimônia de abertura do evento, realizada na noite de terça-feira (21). Foram dias de aprendizado e troca de saberes. 1265 pessoas estiveram presentes apresentando 1183 trabalhos nas comunicações coordenadas e discussões temáticas, e participando de mais de 40 conferências, grandes encontros, mesas redondas e painéis que reuniram ciência, tecnologia, saúde e expertise popular.
A Fiocruz Brasília esteve presente desde o primeiro dia, das atividades pré-simpósio até o encerramento. O pesquisador e coordenador do Programa de Promoção da Saúde, Ambiente e Trabalho (Psat), Jorge Machado, falou sobre o histórico e os diferentes conceitos de uma vigilância em saúde participativa com protagonismo das populações quilombolas, dos campos, florestas e águas; além dos caminhos para o fortalecimento da Educação Popular no SUS durante as atividades da Tenda Paulo Freire.
O contexto da pandemia provocou reflexão quanto ao papel, importância, visibilização e representação na sociedade de uma das áreas mais antigas da saúde pública: a vigilância sanitária. Por isso, o tema da Covid-19 não podia ficar de fora da programação científica e fez parte ainda da apresentação de pesquisas de trabalhadores da unidade da Fundação na capital federal.
Beatriz Tores, do Núcleo de Epidemiologia e Vigilância em Saúde (Nevs) da Fiocruz Brasília apresentou trabalho que analisou o histórico de vendas de hidroxicloroquina e ivermectina no período pandêmico. Outros pesquisadores e bolsistas da instituição participaram de discussões temáticas e falaram sobre seus estudos em vigilância epidemiológica para portos, aeroportos e fronteiras; educação permanente em saúde para o fortalecimento da epidemiologia; articulação entre regulação sanitária e avaliação de tecnologias em saúde; regulação sanitária; regulação internacional de fatores de risco associados a doenças crônicas não transmissíveis; relato de experiência sobre o Curso de Especialização em Epidemiologia Aplicada aos Serviços do Sistema Único de Saúde (EpiSUS-Intermediário) e regulação de alimentos de origem animal e análise de vigilâncias sanitárias estaduais.
Acesse aqui os trabalhos da Fiocruz Brasília que foram apresentados durante o Congresso.
Para a pesquisadora e coordenadora do Programa de Evidências para Políticas e Tecnologias de Saúde (Pepts), Flávia Elias, a importância da participação da Fiocruz Brasília no Simbravisa é apresentar o trabalho desenvolvido pela instituição na vigilância em saúde e avaliação de tecnologias em saúde para apoiar decisões regulatórias, análise de impacto regulatório e vigilância em saúde do ponto de vista da vigilância epidemiológica.
Painéis e mesas redondas
A Covid-19 também foi tema de painéis e mesas redondas da programação do evento. Eduardo Hage, pesquisador do Nevs, foi um dos expositores do painel “Emergências em saúde pública e vigilância sanitária: revisão do regulamento sanitário internacional e implicações para o SUS” e apresentou os principais agravos e desastres de diferentes naturezas e magnitudes que atingiram o mundo entre os anos de 2001 a 2023. Entre eles, a epidemia de SARS na China, de H2N1 no México, de MERS no Oriente Médio e de sarampo e zika vírus no Brasil; terrorismo nos Estados Unidos; contaminação na França, Panamá e China; além de acidente nuclear no Japão.
“As migrações forçadas como as registradas nos últimos anos geram condições favoráveis para novas emergências além da crise humanitária constituída”, afirmou. Hage analisou as regulações que buscam prevenir, proteger e controlar a propagação internacional de doenças para dar uma resposta sobre os riscos de saúde pública, como o International Health Regulations (RSI), de 2005.
O pesquisador destacou a necessidade de implementar estratégias de vigilância integrada em saúde humana, animal e ambiental para uma melhor resposta global às emergências de saúde pública e afirmou que o processo de recuperação de uma pandemia é longo e apresenta uma série de dificuldades políticas, econômicas e institucionais. “Com a pandemia de Covid-19 aprendemos as lições de que a preparação funciona, a resposta deve ser ágil e adaptativa, a saúde é assunto de todos e ninguém está seguro até que todos estejam seguros”, finalizou.
Já a mesa “Mortalidade por Covid-19: relação com a desigualdade social e o acesso aos serviços de saúde” foi coordenada pelo médico sanitarista Claudio Maierovitch e teve a participação de Margareth Portela, da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP/Fiocruz) e Wanderson Oliveira, ex-secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde e servidor do Hospital das Forças Armadas. Os participantes abordaram as doenças emergentes mais relevantes desde 1998 e os determinantes sociais da saúde, destacando o SUS como principal política pública de inclusão social no Brasil e uma das principais ferramentas para reduzir a desigualdade.
Para os pesquisadores, ficou clara a importância de se contar com um sistema de saúde público, gratuito e universal durante a pandemia. “Toda doença atinge de forma desigual a população, sendo pior para os mais vulnerabilizados. Tivemos muitas lições e aprendizados na última emergência de saúde pública, mesmo assim, não vamos superar as desigualdades antes da próxima pandemia” disse Claudio.
O financiamento da vigilância sanitária foi tema de painel coordenador pelo assessor da direção e pesquisador da Fiocruz Brasília, Agenor Álvares. “Esse é um tema que desde antes da criação da Anvisa, talvez anos antes de todos nós trabalharmos com vigilância sanitária, é discutido porque na maioria dos estados, municípios e até mesmo nos Ministérios, ela nunca teve reconhecimento que merecesse uma discussão sobre como financiar as suas ações”, afirmou o ex-ministro, destacando a importância do debate. Participaram também do painel Fabiola Sulpino Vieira, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e Elizeu Diniz, do Centro de Vigilância Sanitária da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo (CVS/SES-SP).
Encerramento
Na noite de sexta-feira (24), foi realizado o encerramento do Simbravisa 2023, com a apresentação de representantes de cidades interessadas em sediar a próxima edição: Brasília (DF), Foz do Iguaçu (PR) e Campo Grande (MS) e aprovação de moções. “Eu faço uma avaliação positiva, não só no sentido da quantidade da participação, mas pela qualidade desse evento, das discussões, conferencistas e trabalhos que vieram”, declarou a presidente do 9º Simbravisa, Jória Guerreiro.
As solenidades de abertura e encerramento foram transmitidas ao vivo, assista na TV Abrasco.
Veja a cobertura completa do evento nos stories da Fiocruz Brasília.
Confira aqui o álbum de foto do Simbravisa 2023.
Fotos: Nathállia Gameiro/Fiocruz Brasília e Kio Lima/Abrasco