Desde 2018, São Tomé e Príncipe conta com um Laboratório Nacional de Referência em Tuberculose que acabou com a dependência internacional do país africano para o diagnóstico desta doença. A conquista é parte do projeto “Apoio ao Programa de Luta contra a Tuberculose de São Tomé e Príncipe”, desenvolvido pelo governo brasileiro ao longo de 13 anos para fortalecer a capacidade técnica dos profissionais do país, por meio da formação de multiplicadores para manejo e gestão laboratorial e criar normas e protocolos para a relação entre as instituições de saúde do país.
Entre os dias 4 e 15 de dezembro, o analista de gestão em saúde da Fiocruz Brasília, Rafael Schleicher participou da comitiva que realizou oficinas técnicas com a participação ativa dos beneficiários e representantes das instituições cooperantes para discutir os resultados do projeto, bem como os parâmetros de uma eventual segunda fase. Desde o ano passado, o profissional desenvolve metodologia de avaliação da cooperação Sul-Sul, quando foi Coordenador de Estudos em Cooperação Internacional no Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), onde atuou com cooperação internacional e avaliação de políticas públicas, incluindo políticas de saúde.
A taxa de tuberculose em São Tomé e Príncipe é alta, de 68 por 100 mil habitantes, considerando-se a população de cerca de 204 mil pessoas. Com esse laboratório, foi possível aumentar a qualidade dos diagnósticos e multiplicar as capacitações que os técnicos brasileiros fizeram e o número de diagnósticos processados, que hoje é maior que toda a história de São Tomé, gerando muito mais dados de saúde para um projeto de cooperação. Para se ter uma ideia, a base de dados de saúde do país, coletada ao longo de seis anos foi anonimizada e disponibilizada para pesquisas futuras da Fiocruz e conta com cerca de 25 mil exames diagnósticos de diferentes doenças.
Com a missão, o Brasil não só ensina, mas também aprende. Em 2020, o Laboratório assumiu papel relevante na detecção e diagnóstico da Covid-19. A qualidade da estrutura e a capacidade técnica da equipe desde então têm sido direcionadas também ao diagnóstico de outras enfermidades, como o HPV, influenza e outras doenças. O projeto de cooperação desenvolvido naquele país pode ser referência pois, segundo Shleicher, é um dos primeiros que se tem uma avaliação sistemática da cooperação Sul-Sul no Brasil. A Agência Brasileira de Cooperação (ABC) faz avaliações dos projetos regularmente mas não de forma sistemática, envolvendo os técnicos do país, com modelagem prévia, usando técnicas estatísticas e questionários padronizados para o fim específico deste projeto.
A continuidade do projeto é importante pois a avaliação vai gerar evidências sobre como e quanto o projeto deu certo, e gerará insumos para a próxima fase, prevista para mais uma década, expandindo para o diagnóstico de HIV e hanseníase. “Existe um interesse via Comunidade de Países de Língua Portuguesa para que a Fiocruz apoie a criação do Instituto de Saúde Pública, então em 2024 haverá nova missão pois o Laboratório será o coração deste novo instituto”, ressaltou.
A Fiocruz Brasília já faz cooperação internacional, mas na avaliação do servidor, é focada em apoiar ações da Fundação na sede, no Rio de Janeiro-RJ, mesmo contando com força de trabalho especializada aqui. “A Escola de Governo Fiocruz-Brasília trabalha na perspectiva de internacionalização e vários colegas tem contatos com pesquisadores estrangeiros, porém é preciso pensar isso de forma orgânica e estratégica e estruturada, seja para ensino e pesquisa, seja para trabalho técnico de pesquisa aplicada como este de São Tomé e Príncipe”. Segundo ele, é possível implementar um núcleo de avaliação na Fiocruz Brasília, que atenda não só a avaliação educacional, mas avalie as políticas de saúde. “A Agência Brasileira de Cooperação quer maior envolvimento da Fiocruz Brasília nestas ações de cooperação, pois a unidade tem capacidade e pessoal capacitado para coordenar isso diretamente, seja na parte de gestão, planejamento e avaliação, seja na parte técnica. As equipes de tuberculose e o programa nacional de tuberculose está todo em Brasília”, finalizou.
O projeto de cooperação técnica implementado pela ABC foi realizado em parceria com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). Leia aqui a notícia divulgada pela imprensa daquele país.
Assista à reportagem produzida pela Rádio STP.