Mariella de Oliveira-Costa
Com o tema “Ciência para a redução de Desigualdades”, abertura ressaltou o papel das mulheres
“Ciência para a Redução das Desigualdades”. Este é o tema da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, atividade de divulgação científica que está sendo realizada em diversas cidades brasileiras de 15 a 19 de outubro. Na Fiocruz Brasília, a programação teve foco na atuação das mulheres (cientistas ou não) na redução das desigualdades. Na segunda-feira, 15, primeiro dia de atividades, as trabalhadoras da instituição foram convidadas a participar de um registro fotográfico nos jardins da instituição, seguido de uma roda de conversa com o tema “Mulheres – Ciência – Democracia, uma combinação potente”. Para isso foram convidados diferentes grupos de mulheres do DF. A diretora da Fiocruz Brasília, Fabiana Damásio, lembrou que é impossível falar de redução das desigualdades sem considerar as desigualdades enfrentadas por cada mulher brasileira, todos os dias. As convidadas apresentaram algumas iniciativas de mulheres para reduzir as desigualdades.
Mariana Almeida apresentou o trabalho de educação popular em saúde realizado pelo Coletivo Eu Livre, que junta parteiras e aprendizes em rodas de debate sobre o corpo feminino, baseados no conhecimento popular. Segundo ela, o grupo tem uma proposta de trazer o parto domiciliar e as terapias alternativas para a periferia. Cleudes Pessoa, apresentou o Coletiva Feminista Cali, que trabalha com os saberes populares, a ginecologia autônoma, que resgata o cuidado integral da mulher de forma não medicalizada, e o projeto “Meu corpo, minhas ervas”, resgatando a medicina alternativa no cuidado do corpo feminino.
Já o Arquitetas Invisíveis, foi apresentado por Luiza Dias, arquiteta formada pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Brasília (Fau/UnB). Ela apresentou o histórico do grupo, que existe desde 2013, a partir de um diagnóstico de que mais de 60% dos arquitetos hoje são mulheres, mas seus perfis são invisibilizados. “As universidades dão destaque para os arquitetos homens. E quanto menos as mulheres estão presentes nas projeções dos espaços, menos espaços podem ocupar”, afirmou. O grupo promoveu, em 2014, uma exposição sobre as mulheres arquitetas e de lá para a cá, tem questionado os professores sobre a ausência de arquitetas nas ementas curriculares. A professora da Fau/UnB Maribel Fuentes, do grupo Elas da Fau, lembrou que é preciso também cumprir as obrigações dos círculos acadêmicos e produzir conhecimento científico sobre essas mulheres arquitetas. Já foram feitas pesquisas com as egressas da Fau e verificou-se que, na primeira formatura, eram apenas duas mulheres, enquanto hoje elas são maioria no curso em todos os semestres. Outra iniciativa do Elas da Fau é a projeção de espaços diferenciados, conforme as vulnerabilidades das mulheres, como o projeto que propõe um centro de acolhimento para mulheres em situação de violência, ou a proposta de uma casa compartilhada por três mulheres que se ajudam no cuidado com as suas crianças.
Também foi apresentado o projeto Promotoras Legais Populares, da Faculdade de Direito da UnB. Entre outras atividades, o grupo promove, desde 1994, um curso anual de formação em direito para mulheres, aos sábados pela manhã. Elen Frida, da Casa Frida, que acolhe há quatro anos, jovens e mulheres em situação de violência, aproveitou a oportunidade para fazer críticas à Emenda Constitucional 95, que define o teto de gastos públicos por 20 anos e denunciar as ameaças pelas quais o grupo tem passado.
Uma das organizadoras da atividade na Fiocruz Brasília é Fernanda Severo, do Laboratório de Educação e Mediações Tecnológicas e Transdisciplinaridade em Saúde (Lemtes/Escola Fiocruz de Governo). Ela lembrou a existência de um comitê de equidade na Fiocruz Brasília e explicou que a escolha das convidadas foi estratégica. “Para falar sobre desigualdade, não adianta ficar só no campo da teoria, é preciso trazer quem está no cotidiano das desigualdades para termos experiências concretas, e não só acadêmicas ou teóricas”, disse. A assessora da direção da Fiocruz Brasília, Celina Roitman, também participou da organização da roda de conversa e ressaltou importância desta troca de experiências entre os acadêmicos e estes grupos atuantes no DF.
A programação de atividades de divulgação científica na Fiocruz Brasília prevê também a participação de alunos de ensino fundamental de escolas públicas do DF na terça-feira, 16, com o evento Saúde em Jogo, que apresentará questões sobre ciência e saúde pública em um programa de auditório interativo.