“A saúde pública brasileira se consolidará quando houver um número adequado de profissionais qualificados. Fazer saúde pública é estar alerta, com vigilância, para dar resposta adequada e avançarmos”. Esta foi parte da fala do secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde (SVS/MS), Arnaldo Correia de Medeiros, na tarde desta terça-feira, 18 de maio, durante o lançamento da nova especialização da Escola de Governo Fiocruz – Brasília. O curso de Epidemiologia Aplicada aos Serviços (Epi-SUS Intermediário) vai formar 800 profissionais de saúde de todo o país, e é uma iniciativa ousada, resultado da parceria entre a Fiocruz Brasília e o Ministério da Saúde.
A meta é capacitar profissionais na área de epidemiologia de campo e vigilância em saúde e fortalecer a capacidade de preparação e resposta aos eventos e emergências em saúde pública, nas esferas federal, estadual e municipal. É necessário investigar os eventos de saúde, controlar e prevenir doenças e agravos, obter melhores informações para tomada de decisão, apoiar a vigilância local e prover oportunidade de treinamento em epidemiologia de campo para qualificar o Sistema Único de Saúde, que abarca a Fiocruz e várias outras instituições de saúde no país. E como isso será feito? Formando epidemiologistas de campo, gente capaz de aplicar princípios e métodos epidemiológicos para problemas de saúde, que pode ter seu conhecimento e trabalho acionado de diversas maneiras, seja pelo aumento expressivo da ocorrência de alguma doença, pela severidade ou magnitude de um problema de saúde específico, quando isso trouxer desvios por uma provável fonte comum, doença nova, emergente ou mesmo por algo desconhecido na área, assim como a partir de uma doença de interesse público.
O curso conta com 14 mentores nas cinco regiões brasileiras e 75 tutores em todos os estados. É a primeira especialização da Fiocruz Brasília com números tão altos. Para se ter uma ideia da relevância dessa formação para a saúde pública brasileira, a meta do regulamento sanitário internacional é de um epidemiologista de campo para cada 200 mil habitantes, e o Brasil deve alcançar esse número até o fim do ano, graças ao curso lançado hoje. A epidemiologia de campo prevê dez passos para a investigação profissional, que os alunos vão aprender ao longo do curso, a saber: confirmar a ocorrência do evento de saúde pública, como um surto ou epidemia, por exemplo; organizar o trabalho de campo, estabelecer uma definição operacional do caso; realizar a busca ativa de casos; caracterizar tempo, lugar e pessoas envolvidas; gerar hipótese e adotar medidas de controle imediato; avaliar hipóteses aplicando métodos de análise exploratória; desencadear as medidas de controle específicas; avaliar medidas de controle e prevenção; e preparar relatório técnico da investigação de campo, comunicando seus resultados.
O coordenador do curso, integrante do Núcleo de Epidemiologia e Vigilância da Fiocruz Brasília e ex-ministro da saúde, Agenor Alvares, ressaltou que os 800 aprovados no processo seletivo não são alunos, mas colegas de trabalho e a formação vai auxiliar a compreender o momento atual e futuro da epidemiologia nacional. “Com mais de 440 mil mortos, não se pode banalizar a morte. Este curso nacional é uma coisa fantástica, e toda a Fiocruz se engajou desde o primeiro momento”, fazendo referência ao fato de que conta com apoio das diferentes regionais da Fiocruz pelo Brasil, que vão, cada um à sua maneira e de acordo com a demanda, participar da formação.
A diretora do Departamento de Saúde Ambiental, do Trabalhador e Vigilância das Emergências em Saúde Pública (SVS/MS), Daniela Buosi Rohlfs, agradeceu à adesão da Fiocruz Brasília ao projeto ousado do Ministério da Saúde, que sai de um curso piloto, ano passado, com 20 alunos para este, com 800, abrangendo todo o país. “Investir no EPI-SUS intermediário era um sonho e, a partir dessa cooperação com a adesão das regionais da Fiocruz, serão formados, de maneira qualificada, profissionais de cada um dos territórios, com turmas nos estados com total autonomia. Pretendemos que a formação se torne um programa de governo, com recurso próprio e turmas periódicas sendo formadas”, afirmou.
O EpiSUs é uma formação organizada em três níveis de conhecimento. O Epi-SUS fundamental já formou 1359 pessoas, com 90 trabalhos nacionais e 54 trabalhos internacionais, e 59 investigações de campo, e tem previsão de nova turma em breve, para quase 2 mil alunos. Já o Epi-SUS avançado requer dois anos de dedicação dos alunos ao programa e pressupõe um quantitativo de alunos limitado em função da alta carga horária do curso. As turmas anteriores deste curso já participaram de 15 premiações internacionais e outras 15 nacionais, com resultados que alcançam mais de 170 publicações técnico-científicas, 380 relatórios técnicos, e quase 400 trabalhos de campo desenvolvidos no país, o que mostra a qualidade do trabalho desenvolvido. O Epi-SUS intermediário foi organizado pela primeira vez ano passado, com turma de 19 alunos, apresentação de 20 relatórios técnicos e uma premiação nacional. Foi um curso piloto para que se desenvolvesse a nova turma lançada hoje, que vai aliar a investigação de campo à certificação acadêmica.
A vice-presidente de Educação, Informação e Comunicação (VPEIC/Fiocruz), Cristiani Vieira Machado, ressaltou a parceria da Fiocruz com a SVS/MS em um momento que a profissão de epidemiologista passou a ser mais conhecida pela população brasileira nas emergências sanitárias, e ganhou um outro status. “Formar epidemiologistas de campo tem importância evidente na pandemia. Sua atuação na ponta dos serviços de saúde, vinculados com a Estratégia Saúde da Família (ESF) e outros profissionais da saúde, identificando problemas nos territórios e com uma visão mais abrangente das questões ambientais e de saúde, com capacitação técnica para investigação de surtos é essencial”, afirmou.
A abertura contou com a participação internacional da diretora regional do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC/EUA), Juliete Morgan, que sinalizou que, apesar de estar na boca do povo devido à pandemia de Covid-19, a epidemiologia é uma área muito difícil, pois requer formação específica, não só na sala de aula, mas também no campo, no cotidiano dos serviços, daí a importância do curso como oportunidade enorme para o Brasil e outros países que venham a implementar esse tipo de programa educacional. “Para o CDC, este curso representa uma das atividades mais importantes porque forma as pessoas que serão líderes no futuro e poderão enfrentar ameaças epidemiológicas futuras”, alertou.
A diretora da Escola de Governo Fiocruz-Brasília, Luciana Sepúlveda, ressaltou que as situações de saúde são dinâmicas e se renovam, exigindo dos profissionais a capacidade de aperfeiçoamento técnico, mas também a construção de capacidade reflexiva. “O profissional deve aprender a buscar reflexão a partir da realidade, não só na teoria e com os dados dos sistemas de informação. Integrar o conhecimento científico com a experiência e escuta do território será um diferencial do curso”, disse.
O curso foi organizado em tempo recorde, com proposta pedagógica pensada de maneira a propiciar a discussão de casos reais e intervenção em todo o país, segundo a diretora da Fiocruz Brasília, Fabiana Damásio. “Reforçar a capacitação para as emergências sanitárias é necessário, assim como estruturar processos que atendam a essa qualificação para que os profissionais deem conta das demandas rapidamente”, enfatizou. Ela aproveitou a ocasião para lembrar que será incluído um módulo sobre saúde mental, que possa garantir preparação psicossocial para os estudantes durante os oito meses de curso com carga horária intensa.
A abertura contou também com a participação de representantes do Conselho Nacional de Saúde (CNS), Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems), e Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass). O papel do Núcleo de Educação à Distância (Nead) da Fiocruz Brasília, na criação e manutenção de todo o Ambiente Virtual de Aprendizagem do Epi-SUS também foi bastante destacado e elogiado ao longo do lançamento.
Logo no início do evento, foi exibido um vídeo que apresenta o histórico desta formação no Brasil. Para assistir à gravação da cerimônia de abertura, clique aqui.