Fiocruz e Butantan participaram, na tarde desta quinta-feira (20/5), na Câmara dos Deputados, de uma reunião técnica organizada pela Comissão Externa de Enfrentamento à Covid-19 para debater o atraso na entrega do Ingrediente Farmacêutico Ativo (IFA) importado usado na produção das vacinas.
Rodrigo Cruz, secretário executivo do Ministério da Saúde, informou sobre as próximas entregas agendadas: neste sábado (22/5), chegam ao país dois lotes de IFA da vacina Oxford-AstraZenexa, produzida pela Fiocruz, um deles antecipado após negociações; já na próxima terça-feira (25/5), chega o IFA da vacina Sinovac, produzida pelo Butantan, matéria-prima que será usada na fabricação de 5 milhões de doses. Segundo o secretário, o Ministério da Saúde está em contato permanente com a Embaixada brasileira em Pequim, o embaixador chinês no Brasil, as autoridades e os laboratórios chineses, em um esforço conjunto com o Ministério das Relações Exteriores para agilizar ao máximo esse processo de recebimento do IFA. Cruz lembrou, no entanto, que a China também tem enfrentado o desafio de imunizar sua população, o que tem acarretado os atrasos nas remessas do IFA.
O diretor do Butantan, Dimas Covas, destacou o papel da China no enfrentamento da pandemia neste momento: o país asiático já exportou um total de 380 milhões de doses para 100 países, e tem feito um grande movimento para vacinar toda a sua população, superior a 1,4 bilhão de habitantes. Covas comentou que a vacina Oxford-AstraZeneca não é usada hoje na China, mas a vacina Sinovac é, o que acrescenta um desafio adicional à remessa do IFA da vacina produzida no Butantan. De um lote de 10 mil litros, o Instituto sediado na capital paulista receberá na próxima semana apenas 3 mil litros. Tratativas já estão sendo feitas para viabilizar a liberação dos restantes 7 mil litros, de modo a não interromper nem prejudicar o cronograma.
O diretor do Butantan comentou, ainda, sobre outra vacina, a Butanvac, já em desenvolvimento e produção integralmente no Instituto, sem dependência da importação de IFA. A Butanvac ainda passará por estudos clínicos e a previsão é que a autorização de uso emergencial ocorra entre setembro e outubro. “Será uma grande contribuição para o Brasil e outros países de renda média e baixa”, disse.
O vice-presidente de Produção e Inovação em Saúde da Fiocruz, Marco Krieger, traçou um breve panorama de todo o trabalho realizado pela Fundação desde a prospecção tecnológica de vacinas candidatas, no início da pandemia. Comentou as peculiaridades do projeto e sua complexidade técnica, jurídica e regulatória, destacando sua realização em tempo recorde, apesar das eventuais intercorrências, tratadas com transparência, como os atrasos no recebimento do IFA.
Conforme dados apresentados por Krieger, a Fiocruz, nesta sexta (21/5), fará uma nova entrega de 5,3 milhões de doses de vacina ao Programa Nacional de Imunizações (PNI). A Fundação completará, assim, mais de 36,2 milhões de doses já entregues, que, somadas às doses da vacina Oxford-AstraZeneca importadas prontas, ultrapassam 40 milhões de doses. A partir da chegada dos lotes de IFA no sábado (22/5), Krieger estima entregas ininterruptas até 3/7, quando a Fiocruz atingiria a marca de 62 milhões de doses já entregues.
Krieger falou também do esforço que está sendo empreendido para antecipar a chegada dos próximos lotes e da segunda fase do projeto, que consiste na produção nacional do IFA. No final de abril, a Anvisa concluiu inspeção na Fiocruz com parecer satisfatório para a produção do IFA nas instalações do Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos). A previsão é que as vacinas com IFA nacional comecem a ser entregues em outubro. O vice-presidente ressaltou, ainda, estudos que têm confirmado o bom desempenho das vacinas na proteção contra a Covid-19.
O secretário Rodrigo Cruz encerrou a reunião com dados da vacina Pfizer, que tem chegado em voos semanais com 630 mil doses, quantidade que aumentará em junho, quando está previsto o recebimento de 12 milhões de doses. Segundo Cruz, estudos já comprovaram a possibilidade de flexibilização das condições de conservação dessa vacina, o que permitirá sua distribuição mais amplamente no país.
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