Isabela Schincariol (Campus Virtual Fiocruz)
A região Sul do país atravessa uma tragédia climática sem precedentes. A mistura de calor exacerbado com chuvas intensas, enxurradas, inundações e até fenômenos como tornados, por exemplo, provocam, além de grandes perdas e muita tristeza, uma quantidade incalculável de contaminações e doenças, especialmente as infecciosas, entre elas problemas respiratórios, hepatite A, diarreias, dengue e leptospirose. Cientes de que neste momento de emergência de saúde pública o importante é saber agir e estar sensível a reconhecer sinais e sintomas das principais doenças para a eficaz tomada de decisão, o Campus Virtual Fiocruz lança o curso Leptospirose — Transmissão, diagnóstico, tratamento e prevenção. Especialmente voltada a profissionais de saúde, mas aberta a todos os interessados, a formação é online, gratuita e já está disponível.
O curso é dividido em três módulos, em uma carga horária total de 30 horas, e aborda questões sobre a transmissão da doença, fatores ambientais, sinais, sintomas, diagnóstico e tratamento, bem como a prevenção e a vigilância em saúde. Ele é resultado de uma parceria entre o Campus Virtual Fiocruz (CVF), o Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz) e o Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), e foi desenvolvido em tempo recorde, cerca de 20 dias, para auxiliar na resposta ao enfrentamento dos aumentos de casos de leptospirose que vem sendo notificados em decorrência das enchentes no Sul do país.
A coordenadora adjunta do Campus Virtual, Rosane Mendes, ressaltou que neste momento o Rio Grande do Sul está no foco das atenções, mas lembrou que o Ministério da Saúde considera a leptospirose uma doença endêmica em todo o Brasil, tornando-se epidêmica em períodos chuvosos, principalmente nas capitais e áreas metropolitanas, em decorrência das enchentes associadas à aglomeração populacional, condições precárias de saneamento e à alta infestação de roedores infectados pela doença. Ou seja, a nova formação tem abrangência e relevância nacional. “O CVF organizou uma verdadeira força-tarefa com toda a sua equipe para o rápido desenvolvimento do curso. Ele é fruto de um grande esforço coletivo para responder a essa demanda emergente de saúde pública, disse Rosane, que é também a coordenadora da plataforma Educare, na qual estão disponibilizados todos os materiais e recursos educacionais que compõem o curso, como vídeos, infográficos, podcasts, entre outros.
O curso é voltado a profissionais de saúde e estudantes, mas pode ser feito por pessoas de todo o país interessadas na temática. Conheça a estrutura da nova formação:
Módulo 1 – O que é leptospirose?
Aula 1.1 – A leptospirose;
Aula 1.2 – Fatores condutores ambientais;
Aula 1.3 – A transmissão da doença;
Módulo 2 – Sinais, sintomas, diagnóstico e tratamento.
Aula 2.1 – Os sinais e sintomas;
Aula 2.2 – O diagnóstico;
Aula 2.3 – O tratamento;
Módulo 3 – Prevenção e Vigilância em saúde.
Aula 3.1 – A prevenção;
Aula 3.2 – A quimioprofilaxia;
Aula 3.3 – A vigilância em saúde dos riscos associados aos desastres.
Leptospirose no Brasil
Segundo dados do Ministério da Saúde, existem registros de leptospirose em todos os estados brasileiros, com um maior número de casos nas regiões sul e sudeste. Os locais prováveis de infecção são, em sua maioria, áreas urbanas e em ambientes domiciliares. A leptospirose é uma doença infecciosa febril aguda que é transmitida a partir da exposição direta ou indireta à urina de animais (principalmente ratos) infectados pela bactéria Leptospira. O contágio pode acontecer a partir de lesões na pele, por mucosas ou mesmo em pele íntegra, se imersa por longos períodos em água contaminada. Os principais sintomas são febre, dor de cabeça, fraqueza, dores no corpo (em especial, na panturrilha) e calafrios. Ao apresentar sintomas, deve-se procurar um serviço de saúde e é importante relatar se houve exposição de risco, como o contato com água de chuvas e enchentes.
Trata-se de uma zoonose de grande importância social e econômica, por apresentar elevada incidência em determinadas áreas de vulnerabilidade social, como também por sua letalidade, que pode chegar a 40%, nos casos mais graves. Sua ocorrência está relacionada às precárias condições de infraestrutura sanitária e alta infestação de roedores infectados. As inundações propiciam a disseminação e a persistência da bactéria no ambiente, facilitando a ocorrência de surtos. A leptospirose tem cura, mas, sem tratamento pode causar danos renais, meningite, insuficiência hepática, dificuldades respiratórias e até a morte.