Fiocruz  participa de audiência sobre a vacina para covid-19 do Instituto Gamaleya e governo da Rússia

Mariella de Oliveira-Costa 26 de agosto de 2020


Mariella de Oliveira-Costa 

 

O vice-presidente de Produção e Inovação em Saúde da Fiocruz, Marco Aurélio Krieger, participou da Comissão Externa da Câmara dos Deputados destinada a acompanhar o enfrentamento à pandemia da covid-19 no Brasil, nesta quarta-feira, 26 de agosto. Ele citou que a Fiocruz está associada à empresa AstraZeneca, coordenando a produção da vacina em larga escala e falou da importância dos vários projetos em andamento no país. Segundo Krieger, a Fiocruz está à disposição para conversar com os diferentes parceiros sobre a possibilidade de auxílio tecnológico.   “Para a produção de qualquer vacina, é  importante esclarecer qual a capacidade e tempo para que seja produzida, bem como garantir o cumprimento de  todas as etapas de registro na Anvisa, com estudos fase 1, 2 e 3 documentados e número de voluntários suficiente para se ter evidências de eficácia e segurança,” afirmou.

 

O coordenador da  Comissão, deputado Luiz Antonio Teixeira Jr (PP/RJ), informou  que o objetivo da audiência foi trazer aos parlamentares  mais informações técnicas sobre a vacina para covid-19 que vem sendo testada pelo Instituto Gamaleya e o governo da Rússia.

 

Os pesquisadores já utilizaram diferentes métodos para a produç!ao de vacinas, sendo dois deles mais tradicionais: a inativação química do microorganismo, para provocar uma resposta imunológica no corpo da pessoa vacinada, como é o caso das vacinas de poliomielite injetával, tétano, difteria e coqueluche; e a atenuação do microorganismo, deixando – o não virulento, (ele continua vivo, mas sem força e portanto, provoca a produção de anticorpos de defesa no organismo, sem causar a doença) como é o caso da vacina de sarampo, rubéola e caxumba. No caso da vacina da covid-19, o diretor do Instituto Gamaleya, Alexandre Gintsburg, explicou que a produção é similar a outras vacinas já desenvolvidas na Rússia (contra ebola e contra a síndrome respiratória do Oriente Médio (MERS). Por meio do método de vetor não-replicante, os pesquisadores modificaram geneticamente dois adenovírus diferentes, para que carreguem a parte do vírus que provoca uma resposta imune do organismo, sem que possam se  multiplicar. Adenovírus são  tipos de vírus que causam doenças respiratórias.  Cada voluntário vacinado recebe duas doses, em um intervalo de três semanas entre cada uma delas. Já  foram testados mais de cem colaboradores do Instituto Gamaleya, que estão com imunidade há cinco meses. Após os resultados dessa terceira fase de testes da vacina produzida na Russia, será feito  o relato científico para registro no país.

 

O presidente do Fundo de Investimentos Diretos da Rússia (Russian Direct Investment Fund- RDIF), Kiril Dimitriev, também reforçou que a vacina do Instituto Gamaleya, baseada em adenovirus humano, já se comprovou segura e que os resultados dos  testes podem ser repassados aos parlamentares. Segundo ele, que relatou já ter tomado a vacina em teste juntamente com seus familiares, o  artigo científico sobre esta vacina  será publicado em revista internacional na próxima semana. Ele explicou que 40 mil pacientes serão vacinados na Rússia, a partir das próximas semanas, e o país pretende fazer ensaios clínicos no Brasil, Arábia Saudita e Filipinas, além de outros países. A expectativa é que eles já possam fornecer a vacina em outubro. Espera-se atingir, até dezembro, a produção de dez milhões de doses e ampliar essa produção para 50 milhões de doses por ano, no futuro.

 

O embaixador da Russia, Sergey Akopov,  ressaltou que fará o possível para concretizar essa cooperação bilateral Brasil-Rússia, pois quanto mais vacinas existirem, melhor. Ele considera o país um importante centro de produção e distribuição da vacina.

 

O  Instituto de Tecnologia do Paraná (Tecpar) é o responsável no Brasil pela formatação de um protocolo de pesquisa que será submetido à Comissão de Ética em Pesquisa e à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), para avaliação dos testes dessa vacina do Instituto Gamaleya com a população brasileira. O diretor da empresa, Jorge Callado, ressaltou que  prima pela segurança, eficácia e eficiência da ação coordenada com a empresa russa e a fabricação se dará em formato consorciado, após os resultados da fase três da vacina.

 

 A Fiocruz está no complexo tecnológico do Tecpar, com duas instituições: o Instituto Carlos Chagas e também em uma associação no Instituto de Biologia Molecular do Paraná.  O vice-presidente da Fundação,  Marco Krieger,  ressaltou que a instituição fica à disposição para parcerias mas o protagonismo desta iniciativa da vacina para covid-19 do Instituto Gamaleya é do Tecpar.

 

A relatora da comissão, deputada Carmen Zanoto (Cidadania – SC), ressaltou que a vacinação da população é um dos caminhos para a retomada da economia e da normalidade das atividades no país e lembrou que o Brasil tem uma rede logística de imunização capilarizada e institutos como a Fiocruz e Butantã, que possibilitam essa produção das vacinas. O deputado Antonio Brito (PSD-BA) informou que espera que o Brasil valorize todas as iniciativas mundiais, mas que não seja só uma área de testes de vacinas, mas de desenvolvimento e produção de vacinas.

 

O deputado Alexandre Padilha (PT-SP) ressaltou o potencial do Brasil em compor uma estratégia vacinal com diferentes tipos de vacinas, para garantir a imunização dos diferentes grupos populacionais. “O SUS precisa ter recurso para atender as mortes e sequelas da doença, os problemas represados como as mais de 300 mil cirurgias eletivas que deixaram de ser realizadas este ano devido à pandemia, e também para garantir a recuperação econômica, garantindo a produção de vacina por instituição pública.

 

Clique aqui para assistir à audiência.