Yuri Freitas, da Agência Saúde-DF
Profissionais da Rede de Hortos Agroflorestais Medicinais Biodinâmicos (RHAMB), iniciativa da Secretaria da Saúde (SES-DF) com apoio da Fiocruz Brasília, organizaram seminário sobre os desafios e as perspectivas da Agricultura Urbana e Periurbana (AUP) no Distrito Federal. O encontro contou com a participação do Ministério do Desenvolvimento Social, Família e Combate à Fome (MDS) e do Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA), e reuniu mais de 200 participantes entre representantes diversas de secretarias distritais, pesquisadores acadêmicos e coletivos de agricultores urbanos na capital. A pesquisadora da Fiocruz Brasília, Socorro Souza participou da abertura da atividade.
A AUP se define como um conjunto de atividades agrícolas localizadas nas áreas urbanas ou nas regiões periurbanas (situadas na vizinhança imediata de uma cidade), contemplando diversos sistemas agrícolas como quintais produtivos e biodiversos, agricultura de ativismo, agricultura periurbana e agricultura de resistência, no DF.
Outra importante característica da AUP consiste no potencial de promover uma economia circular – conceito que associa desenvolvimento econômico a um melhor uso dos recursos naturais –, a partir de sistemas de compostagem de resíduos orgânicos, iniciativas de reuso de água, geração de energia pela queima de biomassa, além de outros serviços associados à gestão de resíduos.
Uma das organizadoras do evento, a pesquisadora bolsista do Colaboratório de Ciências, Tecnologia, Inovação e Sociedade (CTIS) da Fiocruz Brasília, Ximena Moreno, enfatiza a necessidade de promover debates sobre o tema. “O evento ressalta a importância da soberania alimentar dentro das cidades, promovendo agricultura urbana para a produção de alimentos e de plantas medicinais, e reforça que o DF tem potencial para produção e abastecimento de alimentos saudáveis e redução da insegurança alimentar e nutricional”, diz.
A pesquisadora relembra, ainda, que a RHAMB é uma parceria pioneira entre a SES-DF e a Fiocruz Brasília para implantar hortos comunitários dentro das Unidades de Saúde do DF. “Nesse encontro, temos a presença de mais ou menos 50 profissionais da SES-DF que foram capacitados no último curso de aperfeiçoamento da RHAMB. Estão presentes, também, membros da Sociedade Civil que já praticam a agricultura urbana, além de pesquisadores e professores da Universidade de Brasília (UnB) e de várias universidades diferentes”, afirma Moreno.
Rede de Hortos Agroflorestais Medicinais Biodinâmicos
À frente da Gerência de Práticas Integrativas em Saúde (Gerpis) da SES-DF, o médico de família e comunidade Marcos Trajano explica que a iniciativa da RHAMB, a primeira no Brasil, vai além do combate às doenças. Segundo o especialista, as ações promovidas nos hortos agroflorestais – que já chegam a 15 em todo o DF – incluem uma série de atividades que incorporam desde a produção de alimentos e plantas medicinais à políticas de enfrentamento às mudanças climáticas.
“Falar de agricultura a partir do ponto de vista da Saúde é fundamental para que possamos trazer à pauta o uso de agrotóxicos e venenos no cultivo de hortaliças, o desaparecimento de espécies, o empobrecimento da diversidade alimentar, o racismo ambiental, o acesso ao alimento e, especialmente, o contexto da insegurança alimentar e nutricional bastante prevalente nos territórios do Distrito Federal hoje”, defende Trajano.
Saúde do corpo, da mente e da terra
A agricultora periurbana Josefa Ataídes produz hortaliças, temperos e chás na cidade de São Sebastião. Aos 63 anos, “Dona Josefa” – que é filha de pequenos agricultores e dedicou quase a vida inteira à agricultura – possui uma visão holística sobre a arte de trabalhar a terra. “Toda vez que eu me dedico ao cultivo, eu estou para além da produção de folhas de alface para a minha alimentação. Eu também trabalho o conjunto da minha saúde física, mental, espiritual e intelectual, porque a agricultura passa por todos esses caminhos. Eu não consigo ver esses eixos de forma separada”, conta.
Dona Josefa explica que o processo de cuidar do território – o que inclui tratar do solo, da água e dos resíduos orgânicos – gera efeitos em seu próprio corpo e na maneira com que ela lida com a vida. “Quando eu pratico a agricultura, eu estou, ao mesmo tempo, zelando pelo meio ambiente, fazendo com que esse ambiente seja mais saudável. Eu pratico a educação, porque eu digo para outras pessoas e para mim mesma o quanto é importante a saúde desse espaço. Eu pratico, ainda, a saúde física, porque além desse “mover” – e a agricultura também é exercício físico – eu estou gerando comida, e eu jamais vou produzir algo para o meu corpo que seja agressivo, que não seja saudável para mim”.