Fiocruz tem pesquisadores citados em ranking mundial de cientistas que mais contribuíram no combate a doenças negligenciadas

Nathállia Gameiro 29 de janeiro de 2021


Nathállia Gameiro/André Freire (Fiocruz Brasília) e Ricardo Valverde (Agência Fiocruz de Notícias) 

Três pesquisadores da Fiocruz estão entre os cientistas que mais contribuíram para os estudos sobre doenças negligenciadas em todo o mundo nos últimos 10 anos. Em primeiro lugar, a pesquisadora Euzenir Sarno do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz); em sétimo, Milton Moraes, também do IOC/Fiocruz, e Gerson Penna, ex-diretor da unidade e pesquisador da Fiocruz Brasília e da Universidade de Brasília, em oitavo lugar.

 

A Fiocruz se destaca também na lista de instituições com mais experiência no tema, ocupando o primeiro lugar.

Entre os dermatologistas, Gerson Penna é o primeiro dessa lista. Doutor em Medicina Tropical, pela Universidade de Brasília, e pós-Doutoramento em Saúde Pública no Instituto de Saúde Coletiva na Universidade Federal da Bahia, Penna é membro do Comitê Assessor em Hanseníase do Ministério da Saúde e Deputy Editor do PLOS Neglected Tropical Diseases.

O pesquisador já publicou mais de 200 artigos ligados ao tema, sobre pesquisas em novos tratamentos e novos medicamentos, determinantes sociais da hanseníase e determinação genética de transmissão da doença.

“Fico alegre de estar neste ranking mundial e saber que as pesquisas contribuíram e tiveram esse impacto; e humilde por saber que as pessoas pelas quais a gente trabalha nem sabem que a gente existe. Ainda temos um caminho pela frente no combate à hanseníase”, afirmou Penna. Para ele, é gratificante estar em duas instituições, Fiocruz e Universidade de Brasília, que incentivam e valorizam a ciência, tecnologia e pesquisa. 

 

Fiocruz ilumina Castelo no Dia Mundial para Doenças Tropicais Negligenciadas

 

Está marcado para este sábado (30/1) o segundo Dia Mundial das Doenças Tropicais Negligenciadas (conhecidas em inglês como NTDs), que tem por objetivo chamar a atenção para o fato de que mais de 1,7 bilhão de pessoas, em todo o planeta, continuam a sofrer com essas enfermidades. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), as NTDs são um grupo diversificado de doenças transmissíveis que prevalecem em condições tropicais e subtropicais em 149 países, matam milhões de seres humanos e custam bilhões de dólares às economias em desenvolvimento a cada ano. Elas são causadas por agentes infecciosos ou parasitas e consideradas endêmicas em populações de baixa renda. Essas enfermidades, como a malária, a doença de Chagas, a leishmaniose visceral, a filariose linfática, a dengue e a esquistossomose, entre outras, apresentam indicadores inaceitáveis e investimentos reduzidos em pesquisa, produção de medicamentos e no controle delas. Para marcar a data, monumentos em todo o mundo, como o Cristo Redentor, o Coliseu e a Muralha da China, serão iluminados nas cores laranja e roxo. O Castelo da Fiocruz também faz parte dessa lista e ficará iluminado de sábado para domingo (31/1). O projeto é liderado pela iniciativa Medicamentos para Doenças Negligenciadas (DNDi, na sigla em inglês) e pelo Fórum Social para Enfrentamento das Doenças Infecciosas e Negligenciadas (FSBEIN).

 

O vice-presidente de Produção e Inovação em Saúde da Fiocruz, Marco Krieger, disse que o dia serve para destacar os esforços dos atores da saúde global no enfrentamento das NTDs. “Vale a pena salientar a importância da data, no contexto de pandemia, porque as doenças infecto-contagiosas, associadas a populações vulneráveis, ainda tiram muitas vidas. Nós podemos usar o legado do enfrentamento da pandemia para enfrentar esses velhos problemas. E a Fiocruz pretende usar esse legado em inovação, trazido pelas novas tecnologias de diagnósticos e de obtenção de vacinas, na luta contra as NTDs”.

 

Segundo o coordenador do Centro de Relações Internacionais em Saúde (Cris/Fiocruz) e ex-presidente da Fiocruz Paulo Buss, as doenças negligenciadas são enfermidades que, por afetarem as populações pobres, “não interessam às indústrias farmoquímica e farmacêutica. A negligência que adjetiva essas enfermidades se deve a esse fato, centralmente, embora o próprio sistema de saúde desconsidere muito, em seus programas, essas doenças. Esse título foi utilizado pela primeira vez há 25, 30 anos por um médico americano, Kenneth Warren, e esse conceito foi sendo incorporado até chegar à OMS”.

 

Buss ressalta que doenças como Chagas, dengue, hanseníase e leishmaniose são enfermidades que não recebem atenção para medicamentos e apenas muito perifericamente para vacinas. “No caso da dengue, como se espalhou demais, afetando populações com melhores condições, passou a receber atenção para  que se desenvolva uma vacina. A doença de Chagas tem razoável controle desde as décadas de 1980 e 1990, com programas de erradicação no Brasil, mas as demais grassam, se reproduzindo em função da desigualdade”.

 

A presidente da Fiocruz, Nísia Trindade Lima, fala sobre o Dia Mundial das Doenças Tropicais Negligenciadas.

 

Na lista das doenças negligenciadas estão úlcera de Buruli, doença de Chagas, dengue, dracunculíase (doença do verme-da-guiné), equinococose, platelmintos, tripanossomíase africana (ou doença do sono), leishmaniose, hanseníase, micetoma, filariose linfática, oncocercose, raiva, esquistossomose, helmintíase transmitida pelo solo, envenenamento por picada de cobra, tracoma, teníase e bouba.

 

Janeiro Roxo

 

O Brasil ocupa o segundo lugar mundial em número de casos de hanseníase, ficando atrás apenas da Índia. O país também concentra 90% dos casos da América Latina. Por ano, são registrados cerca de 30 mil casos novos no Brasil. Para conscientizar a população e informar sobre medidas de tratamento e alertas aos sinais da doença, o Ministério da Saúde oficializou, em 2016, o mês de janeiro como Janeiro Roxo.


A hanseníase é uma doença infecciosa e contagiosa causada por uma bactéria. A transmissão acontece por tosse, espirro ou fala, de uma pessoa que tenha uma forma transmissível da doença e não esteja em tratamento, para outra pessoa. A doença tem cura, quanto mais cedo o tratamento, menores são as agressões aos nervos e é possível evitar complicações.