Fiocruz vai formar agentes populares de saúde das juventudes do DF 

Mariella de Oliveira-Costa 30 de abril de 2024


Educação Popular e as Juventudes – Construindo “inéditos viáveis” na formação de agentes populares de Saúde. Este foi o tema da aula inaugural do curso de Formação de Agentes Populares das Juventudes do Distrito Federal, realizada no sábado, 27 de maio, no auditório da Fiocruz Brasília, com transmissão pelo canal institucional.

 
A pesquisadora da Fiocruz Pernambuco, Paulette Cavalcanti de Albuquerque, apresentou a Política Nacional de Educação Popular em Saúde, que desde 2013 incentiva a execução de projetos educativos com a população, promovendo saúde. Um dos eixos da Política é a formação, comunicação e produção de conhecimento – daí surgem cursos como o da Fiocruz Brasília, que é financiado por meio de emenda parlamentar. “O conhecimento deste curso não é decoreba, nem tem prova. A gente vai discutir, construindo de maneira compartilhada nosso conhecimento para garantir a emancipação do aluno, que é ter autonomia para seguir em frente sozinho ou em coletivo com seus posicionamentos”, explicou ela, lembrando da atuação de agentes populares e brigadas durante a pandemia de covid-19, na área de alimentação, trabalho e direitos, para auxiliar as pessoas a ter comida em casa, alguma renda e até o cadastro online para receber o benefício financeiro pago via auxílio emergencial. Segundo ela, a classe trabalhadora no Brasil é heterogênea e diferentes ferramentas e metodologias de organização de um curso devem ser desenvolvidas, ensinando três diferentes formas de luta: a de massas, a ideológica e a institucional. “A principal porta de entrada para o trabalho popular é resolver problemas concretos do povo, para ganhar confiança das pessoas.  É preciso se desdobrar para fazer uma disputa ideológica sobre vacinas, racismo, machismo, lgbtfobia, etc…” 


O método de trabalho da educação popular tem quatro fases: a entrada, o enraizamento e a permanência nos territórios. A expectativa é que os alunos sejam multiplicadores de conhecimento aprendido. Segundo ela, a proposta do presidente Lula e da ministra da saúde Nísia Trindade é que sejam formados oito mil agentes populares de saúde, fora os agentes de juventude e que, até 2027, sejam 50 mil agentes que trabalhem e sejam formados segundo a portaria que criou o Programa de Formação de Agentes Educadoras e Educadores Populares de Saúde. “Estamos numa fase em que os movimentos sociais propõem as turmas, que farão rodas de conversa, comitês populares em defesa do SUS nas comunidades”, ressaltou. Ela finalizou a conferência de abertura do curso agradecendo a Lula, Paulo Freire e ao Zé Gotinha, pela possibilidade de falar para aquele público.  

Mesa de abertura 

Após a execução do hino nacional, a abertura do evento foi realizada pela educadora popular Valéria Bonifácio, que declamou um poema de Mel Lisboa, lembrando a ancestralidade, luta e religiosidade da mulher negra.  Representantes de diferentes instituições formaram a mesa de abertura. A diretora da Fiocruz Brasília, Fabiana Damásio defendeu que cada vez mais os jovens ocupem a instituição para que a pedagogia da esperança chegue a todo canto, e que o DF seja referência de consciência das desigualdades, para enfrentá-las. “O Angicos surge para ser presença amorosa no território, em que a educação popular seja espaço de construção com quem está no território. Precisamos de políticas públicas para dar visibilidade ao que deve ser defendido, em diálogo com os diversos atores”. Emocionada, ressaltou como é bom ver o auditório lotado e motivou os alunos parafraseando um poema da escritora Conceição Evaristo. “Nas vozes de vocês se fará ouvir o eco: liberdade. Que a gente não desista, não desista, não desista. Que a gente possa seguir juntos, cada vez mais de mãos dadas, cirandando por aí”, disse. 



O coordenador do Núcleo de Educação Popular, Cuidado e Participação em Saúde (Angicos), Osvaldo Bonetti, informou que o curso fortalece os laços com os jovens do DF e o sentido de pertencimento ao SUS.  Responsável pelo núcleo mais jovem da Fiocruz Brasília, ressaltou como a área nasceu repleta de projetos a serem executados, e possui um estandarte vermelho com o rosto da ministra da saúde, Nísia Trindade, e os dizeres “Somos SUS, Nísia, Lula”, impressos em letras de tecido de chita, uma marca visual presente em todos os eventos e atividades do Angicos. “É momento de encontro e sentido de pertencimento. Que a gente mergulhe nesse processo metodológico de ciranda pedagógica da educação popular, no sentido de nos fortalecermos e destacar a juventude nas políticas públicas”, disse.
 


O secretário-executivo do Ministério da Saúde,  Sw
edenberger Barbosa, enfatizou que o direito constitucional à saúde é inegociável. O SUS é oriundo de uma emenda popular, a partir de lutas sociais da Reforma Sanitária. “O governo anterior eliminaria o SUS. Substituímos o autoritarismo e negacionismo pela ciência e democracia”, disse. Ele aproveitou a oportunidade para comemorar que o túnel que liga o MS ao anexo foi nomeado na semana passada de Espaço Cultural Dona Ivone Lara, em homenagem à sambista e assistente social que trabalhou no Ministério da Saúde e com Nise da Silveira na luta antimanicomial. Ao lado deste túnel, estão homenageando as mulheres falecidas que trabalharam pela democracia no SUS. Foi sancionada também uma lei que institui espaço em toda unidade de saúde para acolhimento de mulheres e meninas que sofreram violência. 

 

O assessor técnico da diretoria de educação popular da Presidência da República, Gabriel Muñoz Palafox, também citou Paulo Freire, ao lembrar a “defesa de uma sociedade aberta, democrática, livre do fascismo, do negacionismo e do fundamentalismo. Educação popular não tem seu nome consagrado só pela luta dos trabalhadores. A Constituição Federal do Brasil não tem o termo “educação popular”, tampouco a lei de diretrizes e bases. Oficialmente, encontrei o nome da educação popular na Política do SUS que institui e que vem legitimar a importância do tema, que é um projeto histórico de luta. Não é simples ideologia, mas um projeto de nação”. A coordenadora nacional do projeto AgPopSUS da Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde (SGTES) do Ministério da Saúde, Livia Barbosa de Melo, falou sobre a atual agenda da pasta, que se compromete com uma educação libertadora e tem muito orgulho de Paulo Freire ser brasileiro, diferentemente do governo federal anterior, segundo ela. “São os trabalhadores que constroem tudo que a gente come e vive. Quando o presidente subiu a rampa, com aquelas pessoas, era para dizer que a gente vai fazer com o povo. Diferente do governo anterior, se a gente tivesse convocado o povo para construir junto as soluções da pandemia, teria outro resultado”, ressaltou ela, que é professora do curso de saúde coletiva da Universidade Federal de Pernambuco. 

 

A deputada federal, Erika Kokay (PT/DF) é a autora da emenda parlamentar que financia este e outros projetos da Fiocruz Brasília. O curso lembrou que o dj brasiliense Alok tem razão ao afirmar que o futuro é ancestral. “Estamos resgatando os tambores, os maracás e tudo que este país carrega, lembrando que este é o país de Paulo Freire, que falava da boniteza da vida, e de esperançar. O país é de Zumbi de Palmares, dos quilombos, e de Margarida Alves que dizia que é melhor morrer lutando que morrer de fome. É um curso de profunda diversidade. O curso do skate, do hiphop, das tranças, da pele negra como traje de gala, o curso que vai dialogar com nossas realidades e modificar os territórios”. Ela terminou sua fala ressaltando que “a extrema direita nunca mais vai governar este país”. 

 

Durante a atividade, foi apresentado um vídeo institucional do curso AgPopSUS, produzido pelo Núcleo Angicos. Houve espaço para batalha de rimas e leitura de poesias. Ao final, os participantes formaram uma ciranda no jardim da Fiocruz Brasília. Acesse o canal da Fiocruz Brasília para assistir à gravação da aula inaugural deste curso. 

 

O curso  

Além de formar Agentes Populares junto a jovens dos territórios do DF, o curso busca desenvolver nos participantes as competências e habilidades em educação popular em saúde, a construção da identidade de grupo e o espírito de coletividade entre movimentos na luta pelo direito à saúde e pela qualidade de vida, o fortalecimento e a participação popular e o controle social na saúde. Brazlândia, Ceilândia, Santa Maria, Guará, Sobradinho, Taguatinga, Estrutural, Planaltina, Sol Nascente, Lúcio Costa, e Samambaia são as regiões que têm jovens inscritos no curso. A expectativa é que o projeto chegue a mais de mil jovens do DF. Os cursos são organizados em tempo escola e tempo comunidade. O primeiro, abrange discussão de teorias e o segundo, ação no território, reflexão sobre a ação, leitura, estudo e sistematização. 

 

Confira abaixo a lista dos 18 movimentos sociais e seus  representantes que vão fazer  parte desta formação da Fiocruz Brasília: 

 

 – Oficina de Slings Segura Bebê – Odilson Sousa Medrado 

– Groove do Bem – Ricardo Leonardo R. De Almeida Da Silveira 

– Hip-Hop Break de Brazlândia – Roni Cezar Da Silva Santos 

– Hip-Hop Batalha do Relógio – Brener Saboia Martins 

– Instituto Ceilândia (Nação Afro Africana) – Daniel Angoti Cortes 

– Instituto Mãe África (Capoeira e Outros) – Sara Saboia Do Nascimento 

– Juventude Kizomba – Beatriz Da Rocha Nobre Cavalcante 

– Liga Acadêmica de Saúde da Família e Comunidade – Pedro Emanuel N. Fernandes 

–  MAM – Movimento Pela Soberania Popular na Mineração – Matheus Vinicius O. das Neves 

– MATR (Sobradinho) – Oficina Violão – Lúcio Mauro Monteiro 

– Oficina de Tranças e Penteados Afro – Cinde Angélica de Souza Pascoal 

– Projeto Rap – Socioeducativo Dança – Lurdes Laysa Gomes Dos Santos 

– Samba da Guariba – Edson Rodrigues Da Silva 

– Samba No Pé – Valéria Amaro Bonifácio 

– Skate Brazlândia – Antônio Silva Gomes 

 – Garagem Cultural de Sobradinho – Ana Carolina Franklin Alencar 

–  Mães Guerreiras Estrutural – Patrícia Sousa da Conceição 

– Coletivo das Cidades Estrutural – Denyse Furuhashi 

 

Veja as fotos da abertura, no Banco de Imagens da Fiocruz Brasília