Saneamento básico: promoção de saúde

Adrielly Reis 19 de setembro de 2024


“Quantas mortes são evitáveis somente pelo acesso ao saneamento básico?”, questionou Beatriz Nóbrega, da Frente Parlamentar de Saneamento Básico da Câmara dos Deputados, durante a primeira mesa de debate do Seminário de Direito Sanitário – Saneamento Básico, Dignidade da Pessoa Humana e Direito à Saúde, realizado nesta quarta-feira, 18/9, no auditório externo da Fiocruz Brasília.

 

A fala de Nóbrega está associada aos impactos que a falta de acesso ao saneamento básico e à água potável, sobretudo em regiões com populações mais vulnerabilizadas, produz na sociedade. Como em um efeito cascata, os reflexos são percebidos na saúde pública, com casos de leptospirose e surtos de diarreia, que contribuem para o aumento de mortes na primeira infância, dentre outras doenças; bem como na economia e na educação, quando trabalhadores precisam se ausentar de suas atividades e crianças em atraso escolar por motivos de enfermidades provocadas pela água contaminada.

 

Foi com o objetivo de discutir o cenário nacional atual e os desafios enfrentados para a universalização do saneamento que a Fiocruz Brasília, por meio do Programa de Direito Sanitário (Prodisa), organizou o Seminário. O evento reuniu os ministros Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), e Floriano de Azevedo Marques Neto, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE); além de advogados da Associação e Sindicato Nacional das Concessionárias Privadas de Serviços Públicos de Água e Esgoto (Abcon/Sindcon), da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade de Brasília (UnB).

 

Garantir o acesso universal e equitativo à água potável e ao saneamento básico está diretamente ligado ao Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 6 da Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU), assim como a ODS 3, que prevê a promoção de saúde e bem-estar. Porém, esta não é a realidade de mais de 100 milhões de brasileiros que vivem com alguma privação de saneamento básico, de acordo com o Censo 2022, como retratou a série de vídeos-reportagem do portal de notícias Metrópoles, que abriu o encontro.

 

 

Para o pesquisador da Fiocruz Brasília Wagner Martins, que representou a diretora da instituição na mesa de abertura, é preciso pensar em políticas públicas considerando o conceito de uma só saúde. “É necessário olhar as dimensões de forma integrada, com uma visão sistêmica para promover qualidade de vida e acesso à saúde”, assinalou. A abertura contou também com a presença da coordenadora do Prodisa, a advogada e pesquisadora Sandra Alves. 

 

Universalização do saneamento

 

A discussão dos cenários e desafios para a universalização do saneamento no Brasil por meio de parcerias público-privadas foi o tema da mesa composta pela advogada Christianne Dias, diretora-executiva da Abcon/Sindcon, a advogada Paula Falbo, da USP, o advogado Gabriel Jamur, da UnB, e Beatriz Nóbrega, da Frente Parlamentar de Saneamento Básico.

 

O debate considerou o marco legal do saneamento básico, Lei nº 14.026, de 2020. A norma passou por uma atualização que permitiu investimentos privados para o setor e universalizar o tratamento de esgoto e o abastecimento de água no país.

 

“A atualização do marco legal visa não apenas a ampliação do acesso e ao aperfeiçoamento da distribuição de água potável, coleta e tratamento de esgoto, mas também a promoção de um ambiente mais saudável e sustentável para as gerações presentes e futuras”, afirmou o ministro Gilmar Mendes, que compôs a mesa sobre O Saneamento no Brasil: desafios territoriais, regulação e competências governamentais, ao lado do ministro do TSE, Floriano Marques Neto.

 

O ministro do TSE descreveu a disparidade entre realidades próximas, por exemplo, no bairro de Copacabana, na cidade do Rio de Janeiro, onde moradores dos prédios têm acesso à água e ao tratamento de esgoto, enquanto moradores de comunidades, à distância de uma rua, dependem de caminhão-pipa. Uma situação emblemática que evidenciou bem essa dicotomia foi durante a pandemia da Covid-19, na qual a recomendação era lavar as mãos com frequência como medida preventiva, ao passo que as famílias destas comunidades só tinham acesso à água de 48 em 48 horas, quando o caminhão-pipa passava para reabastecer os baldes.

 

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