II Seminário Impactos do Racismo na Ciência e na Saúde destaca a luta antirracista no SUS

Fiocruz Brasília 18 de junho de 2024


Gabriel Maia / PSAT


Dez anos após a sua primeira edição, o II Seminário Impactos do Racismo na Ciência e na Saúde voltou a reunir pesquisadores, profissionais de saúde, promotores de políticas raciais e ativistas do Sistema Único de Saúde (SUS) de diversas regiões do Brasil. O evento, promovido pela Fiocruz Pernambuco por meio do Núcleo de Diversidade e Inclusão do Instituto Aggeu Magalhães (IAM), ocorreu nos dias 12 e 13 de junho de 2024, e trouxe à tona os impactos do racismo na produção científica, nas ciências, na saúde, e na realidade da população brasileira.  

O Cortejo de Ogum: Saberes Tradicionais e a Promoção da Saúde  

O Programa de Promoção da Saúde, Ambiente e Trabalho (PSAT) contou com a apresentação de trabalho “Agroecologia e Povos de Terreiro: Um relato sobre o Cortejo de Ogum e a Ação do PSAT”. O Cortejo de Ogum, organizado pelo Centro Espírita Social e Cultural Pai Tomé de Aruanda, no Gama, região administrativa de Brasília (DF), demonstra como a integração de conhecimentos pode gerar benefícios tanto acadêmicos quanto para as comunidades locais. A apresentação foi realizada por Francyslane Vitória da Silva, pesquisadora e colaboradora do PSAT. 

A interseção entre agroecologia, plantas medicinais e religiões de matriz africana revelou as profundas conexões entre práticas agrícolas, sistemas de crenças, ancestralidade, memória africana e a saúde humana. Durante o cortejo, o PSAT, em conjunto com o projeto Eco Ilê da Fiocruz Brasília, montou um estande onde foram oferecidos sachês de plantas medicinais para banhos e escalda-pés, elaborados com ervas comumente utilizadas nos terreiros de Candomblé e Umbanda.  

 

As experiências da Residência Multiprofissional em Saúde da Família com ênfase na Saúde das Populações do Campo 

O seminário contou com os relatos de experiência de Eva dos Santos e Gabriella Rodrigues, residentes multiprofissionais em saúde da família com ênfase na saúde da população do campo, residência da Fiocruz Brasília.  

Eva dos Santos Rosa, quilombola Kalunga do Vão do Moleque, destacou as dificuldades de acesso à saúde enfrentadas pela sua comunidade e a importância do letramento racial no SUS para combater o racismo estrutural no trabalho intitulado “Aquilombar o SUS: Escrevivências de uma Quilombola Kalunga na Residência Multiprofissional em Saúde da Família com ênfase na Saúde da População do Campo”. 

Para sua apresentação, Eva relatou sua inserção no programa e sua atuação na região Leste do Paranoá, em Brasília, área composta majoritariamente por nordestinos que migraram em busca de melhores condições de vida. A presença do racismo estrutural e institucional foram evidenciados, alertando aos seus impactos nos processos de trabalho em saúde no SUS e as repercussões cotidianas dos cuidados oferecidos. 

Gabriella Cristina Bastos Rodrigues apresentou seu trabalho sobre letramento no SUS com o tema “Vivência como Profissional de Saúde Negra e Periférica”. Ela relatou sua experiência como mulher negra e residente de Valparaíso (GO), uma cidade periférica do entorno sul do Distrito Federal. A alta taxa de criminalidade e as dificuldades de deslocamento para Brasília complicam o acesso a empregos e a permanência em espaços acadêmicos, tornando a graduação em nutrição um espaço de resistência. 

A Residência é um processo de formação-ação realizado pela Fiocruz Brasília pelo Programa de Promoção da Saúde, Ambiente e Trabalho, e visa contribuir com a melhoria da realidade local. 

O Futuro é ancestral 

Com o objetivo de fortalecer a luta contra o racismo, o seminário abordou os eixos temáticos: Ciência e Epistemologias Negras, Letramento Racial no SUS, Racismo Ambiental, Comunicação Antirracista e as Novas Tecnologias na Saúde-IA, e Saúde Mental e Racismo.  O tema do segundo seminário foi “O Futuro é Ancestral”. 

A programação do evento contou com palestras no auditório pela manhã e apresentações de resumos e relatos de experiências divididos por eixos temáticos à tarde. Além disso, houve feiras de artesãs negras e quilombolas, e a venda de almoço pelo Movimento Sem Terra de Pernambuco. Cada eixo temático tinha avaliadores específicos, e ao final das apresentações, foi promovido um espaço para trocas sobre pesquisas e vivências. A coordenadora Rita de Cássia ressaltou que “o futuro é ancestral” e que é essencial buscar uma saúde e uma ciência igualitárias.