A palavra infodemia quer dizer o excesso de informações que dificultam que as pessoas encontrem fontes verdadeiras e orientações confiáveis sobre um determinado tema. O termo representa um desafio identificado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) no combate à pandemia de Covid-19, e foi citado com frequência ao longo do III Seminário Internacional e VII Seminário Nacional As relações da Saúde Pública com a Imprensa: Covid-19, o que a comunicação tem a ver com isso?. Na mesa “Mídias sociais, terra sem lei”, realizada na tarde de quarta-feira, 9 de novembro, no auditório da Fiocruz Brasília com transmissão pelo Youtube, não foi diferente.
A coordenadora de jornalismo da Fiocruz Brasília, Nathállia Gameiro, e a pesquisadora da Universidade de Glasgow (Reino Unido), Patrícia Rossini, apresentaram reflexões sobre como o cenário digital atual propicia a propagação de desinformação, e também a necessidade de que as instituições qualifiquem sua presença nesses espaços.
O WhatsApp, ao contrário de uma rede social pública, facilita a comunicação privada entre as pessoas próximas, mas também permite a comunicação em grupos específicos, o que garante a circulação de desinformação. Pesquisas realizadas nos Estados Unidos já observaram que as crenças em teorias conspiratórias e desinformação sobre a pandemia estão associadas naquele país a questões de ideologia e partidarismo, atitudes populistas e uso de mídias sociais. Porém, também há evidência de que o acesso aos canais jornalísticos podem ajudar a minimizar esse problema, pois estariam associados a um maior conhecimento sobre Covid-19.
A pesquisadora Patricia Rossini estuda há mais de uma década o tema da desinformação e trouxe os resultados de uma pesquisa online realizada em 2020 usando o Ibope Inteligência, com cotas para idade, sexo, educação e região, para representar os usuários de internet no Brasil. A equipe coletou dados em dois momentos: em julho com 2.010 pessoas e entre agosto e setembro, procurando as mesmas pessoas (1.378 responderam), para medir mudanças de opinião e comportamento ao longo do tempo. Essa investigação buscou compreender o papel das vias de consumo de informação sobre a pandemia para que as pessoas sejam mais suscetíveis ou não às informações falsas.
Com os cálculos e cruzamento de dados realizados, observou alguns fatores que podem explicar a crença persistente das pessoas em desinformação durante a pandemia de Covid-19. A identificação da pessoa como de ideologia de direita, o uso de sites partidários, a confiança no governo federal e o apoio à atuação do presidente do Brasil, Jair Bolsonaro na condução da pandemia foram fatores importantes. Além disso, chamou a atenção da pesquisadora que participar de grupos de WhatsApp com desconhecidos ou pessoas não muito próximas, (tal como o grupo do condomínio, da academia, etc.) também sugere uma tendência a crer em mentiras. Rossini alertou porém, que a pesquisa não demoniza a ferramenta WhatsApp, mas como o seu uso inadequado pode favorecer a desinformação. Outro ponto interessante está no fato de que, a confiança em governos estaduais e cientistas contribui significativamente para reduzir crenças incorretas sobre a pandemia ao longo do tempo.
Comunicar saúde online na prática
Há 12 anos a Fiocruz Brasília está presente nas redes sociais. Em 2010, começou com um perfil no Twitter e, atualmente, o órgão está também no Youtube, Facebook e Instagram, criado logo no início da pandemia. Na condução das redes desde o início, a jornalista Nathállia Gameiro ressaltou em sua palestra que um dos objetivos com essa presença digital é a promoção da saúde, além da maior visibilidade das atividades da instituição. A linha editorial inclui desde o início o reforço da informação de que a Fiocruz é SUS, pois já naquela época já se percebia que parte das pessoas desconheciam que a instituição compõe o Sistema único de Saúde (SUS). A divulgação do conhecimento científico também é algo prioritário. Com a pandemia, além da criação do programa semanal no Youtube, Conexão Fiocruz Brasília, para pautar o tema da Covid-19 sob diferentes perspectivas ao longo do tempo, a equipe usou as ferramentas de interação das próprias redes para buscar possíveis temas e divulgar informações úteis sobre a pandemia, em meio às incertezas na época.
O foco na diversidade e inclusão é uma constante nos conteúdos da Fiocruz Brasília nas redes sociais, que valorizam diferentes perfis e tipos físicos nas pessoas que ilustram os posts com fotos profissionais, de banco de imagens ou mesmo amadoras, mas que auxiliem a uma comunicação assertiva. Ela ressaltou a preocupação em pautar o calendário da saúde, com datas comemorativas importantes para o principal público online hoje, os profissionais da saúde. Ao longo da semana, a linguagem mais leve e engajada com as tendências da rede social são uma constante, o que humaniza o relacionamento com os seguidores.
Como desafios, enumerou a pequena equipe de trabalho, que não é exclusiva para o gerenciamento de mídias sociais e também a necessidade de acompanhar o ritmo de cada rede social e seu sentido de urgência. É notável também o cuidado com não trabalhar com uma abordagem só de transmissão de informações, mas de diálogo e escuta das pessoas. Todos os comentários e mensagens enviadas em privado no perfil são respondidas individualmente de maneira personalizada e sem automação.
Se antes da pandemia, o Youtube era um repositório de pequenos vídeos, hoje, já passa dos 40 mil inscritos. A presença durante a pandemia, no programa Conexão Fiocruz Brasília e também no curso sobre saúde mental na pandemia fazem parte do cenário que possibilitou esse crescimento e engajamento popular online. No Instagram, mais de 42 mil seguidores acompanham os posts e stories diariamente, e mais da metade deste número está no Facebook. A moderação da mesa “Mídias Sociais, terra sem lei?” foi realizada pela coordenadora da Comissão de Divulgação Científica. Clique aqui para assistir à gravação.
As fotos do evento estão disponíveis no Flickr da instituição
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