Milhões de mortes no mundo são evitadas com a vacinação

Fiocruz Brasília 19 de setembro de 2018


 Dois a três milhões de mortes no mundo são evitadas com a vacinação. Este dado foi apresentado durante audiência pública realizada na última segunda-feira (17), na Procuradoria-Geral da República, em Brasília. O evento reuniu pesquisadores, especialistas e membros do Ministério Público para discutir a eficácia do Programa Nacional de Imunizações (PNI).

Além da diminuição do número de mortes, o programa possibilitou que que doenças fossem erradicadas. Em 1930, as doenças infecciosas e parasitárias representavam 45,7% dos óbitos no Brasil. Em 2005, representavam 5,2%. Já em 2010 o índice caiu para 4,3%. No entanto, a queda da cobertura vacinal preocupa pesquisadores e gestores. 

“A vacina precisa ser percebida pela população como um direito”, afirmou a coordenadora geral do Programa Nacional de Imunização (PNI), Carla Domingues. Ela alerta para o risco de que algumas doenças já eliminadas retornem, como poliomielite, sarampo e rubéola, assim como as doenças imunopreveníveis, como a difteria, coqueluche e a varicela. O membro do Departamento Científico de Imunização da Sociedade Brasileira de Pediatria, Eduardo Jorge, atribui a queda da cobertura vacinal à falsa impressão de controle de doenças pela nova geração, já que muitos não conviveram com elas e não têm a memória do risco para a saúde. 

Eduardo falou sobre a proteção indireta, em que as pessoas que estão vacinadas não protegem só a si mesmas, mas ao impedir a circulação de vírus e bactérias e a disseminação da doença nos ambientes que frequentam, estão também protegendo as outras pessoas. “Investir em proteção é melhor que tratar doenças. São muitos públicos e muitos desafios”, ressaltou. 

O retorno de doenças também é a preocupação do diretor de Bio-Manguinhos, Maurício Zuma, que afirmou que em 2016, o Brasil recebeu da Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) um certificado de eliminação do sarampo. E em 2018, foram registrados mais de 1.600 casos da doença em oito estados, segundo dados do Ministério da Saúde. De acordo com o pesquisador, a poliomielite também foi erradicada do país nos anos 90 e ele alerta que a população se vacine para que a doença não volte.  

Zuma destacou que vacinação vai além da produção e desenvolvimento de vacina. Para ele, são necessários outras ações, como as que a Fiocruz faz. Entre elas, a formação de trabalhadores na atenção básica, vigilância e epidemiologia; no controle de qualidade das vacinas; na promoção de eventos para a população; e cooperação com órgãos e entidade. 

Bio-Manguinhos hoje tem 31 produtos no portfólio, sendo 10 vacinas. São elas: DTP e Hib: tetravalente (protege contra difteria, tétano, coqueluche e meningite causada por Haemophilus), Haemophilus influenzae b (Hib), meningite A e C, pneumocócica, poliomielite oral, poliomielite inativada, rotavírus humano, sarampo, caxumba e rubéola: tríplice viral e sarampo, caxumba, rubéola e varicela: tetravalente. Entre 2013 e 2017, a unidade produziu 477,2 milhões de doses de vacinas para o PNI, 52,7 milhões de biofármacos e 31,5 milhões de kits para diagnóstico, além de estudo para dose fracionada de vacinas. 

O pesquisador destacou que hoje só o Brasil e Cuba têm laboratórios públicos para produção de vacinas. Em meados da década de 90, praticamente todos os países produziam as vacinas e agora são abastecidos na América pela OPAS, Unicef e outras agências internacionais, sendo dependentes da disponibilidade internacional. “Não podemos deixar isso acontecer no Brasil. Por isso, a manutenção dos laboratórios é essencial”, destacou. Zuma finalizou citando pesquisa desenvolvida na Universidade Carolina do Norte, que mostra que para cada 1 dólar investido em vacinas, pode-se ter um benefício de até 44 dólares.

Rede de Frio
As vacinas e soros percorrem um longo caminho até chegar à população. Mas como garantir a eficácia e segurança dos produtos? Para isso, o Ministério da Saúde gerencia o sistema Rede de Frio, que assegura a preservação das características dos imunobiológicos na produção, distribuição, transporte, recebimentos, armazenamento e administração nas salas de vacinação de estados e municípios e de Norte a Sul do Brasil. O processo foi explicado pela coordenadora geral do Programa Nacional de Imunização (PNI), Carla Domingues, durante a audiência pública.

Em todo o percurso, o cuidado com os soros e vacinas é intenso. É preciso garantir a temperatura determinada pelos laboratórios em transportes refrigerados. As temperaturas também são monitoradas nas salas de vacinação. Domingues afirmou que para manter a credibilidade e qualidade dos resultados, é preciso controle diário rígido e o treinamento das equipes para armazenamento, manuseio e transporte adequado. 

Segundo ela, há desconfiança ainda sobre os produtos oferecidos de forma gratuita na rede pública, em comparação à rede privada. “80% das vacinas são as mesmas, e ainda são os mesmos produtores. No serviço público eu posso garantir que temos um rígido controle de qualidade”, destacou. 

Como desafios, ela afirmou que é preciso investimento em manutenção e capacitação, além da necessidade de se conhecer a realidade local e do monitoramento e planejamento pelos estados e municípios. “Se tiver problema na cadeia de frio, a vacina não será eficaz. Nesses casos, descartamos o conteúdo para não prejudicar a saúde da população”, completou. Hoje são ofertadas 28 vacinas no PNI. Até os anos 2000, eram apenas sete vacinas. 

A representante do Unicef Jane Santos, apresentou as atividades com foco na comunicação que o órgão realiza para gestores, professores e usuários em ações de mobilização social. Eles trabalham diretamente com dois mil municípios e contam com projetos para conscientizar adolescentes sobre a vacinação. Ela conta a estratégia utilizada: “para agir com resolutividade é preciso pensar em novas estratégias para o novo cenário”, finalizou.