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Mulheres que fazem história: evento destaca protagonismo feminino na ciência, saúde e direitos humanos

Nathállia Gameiro 24 de março de 2025


Maria Quitéria, Nise da Silveira, Dandara de Palmares, Bertha Lutz, Marta Vieira da Silva, Conceição Evaristo, Glória Maria, Rebeca Andrade, Dona Ivone de Lara e Jaqueline Goés. O que essas mulheres têm em comum além do gênero? Representatividade, excelência e a luta por equidade, espaço e reconhecimento em áreas como literatura, comunicação, ciência, esporte, psiquiatria e música.

Mulheres brasileiras que marcaram a história em suas áreas, rompendo barreiras e desafiando padrões, foram lembradas no evento de encerramento do curso de Especialização e do curso Livre em Direitos Humanos, Participação Social e Promoção da Saúde das Mulheres. Realizado na última sexta-feira (21/3), o evento foi promovido pelo Programa de Promoção da Saúde, Ambiente e Trabalho (PSAT) da Fiocruz Brasília.

A diversidade feminina em diversos campos do conhecimento também foi destacada pela vice-diretora da instituição, Denise Oliveira. “Campos que poderiam estar invisíveis se não fosse essa formação. É a visibilidade que promove a transformação e o empoderamento feminino para mudanças nessa temática”, afirmou a pesquisadora, ressaltando o impacto do curso na saúde pública brasileira.

Um dos temas abordados na formação foi a resistência das mulheres das águas. Durante o evento, a pescadora Eleonice Conceição Sacramento, da Articulação Nacional das Pescadoras (ANP) e do Movimento de Pescadoras e Pescadores (MPP), destacou a importância da tradição milenar dos povos das águas, comunidades tradicionais que vivem em regiões ribeirinhas, costeiras, ilhas, margens de rios, lagos e mares no Brasil (como pescadores artesanais, ribeirinhos, marisqueiras, caiçaras e quilombolas litorâneos). Ela ressaltou que, apesar da luta por liberdades, é preciso mudar a narrativa de miséria e escravização.

“A gente tem uma luta sistematizada que se dá na Constituinte. O lugar da miséria continua sendo sustentado para falar sobre nós e sobre nossos direitos. Eles precisam ser garantidos para além da miséria. Eu não quero sobreviver, quero continuar vivendo”, declarou Eleonice.

A pescadora enfatizou os direitos já conquistados e a necessidade de ampliar o debate, especialmente diante da crescente cobiça pelo ambiente das águas por políticas desenvolvimentistas. “É necessário sensibilizar um número maior de pessoas para que se tornem parceiras nessa luta. A água é um bem coletivo e um território fundamental para toda a sociedade”, frisou.

Ela também chamou atenção para o impacto ambiental e social sobre a população das águas. “O alimento que produzimos, em quantidade, diversidade e qualidade, é essencial para a sociedade, que tem uma dívida histórica com nossa população. Muitas vezes, estamos com os corpos imersos em lamas e águas contaminadas”, denunciou, citando o aumento de adoecimentos e seus impactos no Sistema Único de Saúde (SUS).

Eleonice reforçou ainda a importância da produção de informação como ferramenta de resistência. “A ciência tem sentido quando está a serviço das causas do povo. Precisamos seguir produzindo conhecimento que enfrente a invisibilidade e contribua para a luta das mulheres pescadoras, ribeirinhas e indígenas”, concluiu.

O evento contou ainda com a participação de Daiana Ferreira, pescadora de Maragogipe e formanda do curso, além da deputada federal Érika Kokay, proponente da emenda parlamentar que viabilizou a formação.

Para mulheres e com mulheres

“Essa é uma formação muito desejada, pensada e executada por mulheres, com mulheres e para mulheres. É um tempo de celebração! Não foi fácil, mas foi necessário para cada uma de nós. Finalizamos o projeto com muito estudo e trabalho”, afirmou Rosely Arantes, pesquisadora do PSAT, ao relembrar o início do curso, em março de 2024.

A capacitação teve como objetivo reconhecer e valorizar a produção de conhecimento das mulheres, fortalecendo sua participação social na promoção da saúde com equidade de gênero. Ao todo, 58 mulheres concluíram a formação, sendo 53 na Especialização e 5 no curso Livre. Durante o curso, elas desenvolveram 38 projetos de integração em comunidades do Distrito Federal e de outros estados. As experiências das educandas nos territórios foram expostas no jardim da Fiocruz Brasília.

A primeira edição do curso reuniu professoras e alunas de diversas regiões do Brasil para discutir temas fundamentais dos direitos humanos das mulheres. Além da promoção da saúde e da participação social, foram abordadas questões como interseccionalidade, vigilância em saúde, políticas públicas, bioética e envelhecimento. Com uma turma diversa, composta por profissionais da saúde, ciências sociais, educação, comunicação, além de membros de movimentos sociais, agricultoras familiares e artesãs, a formação buscou fortalecer redes de apoio e qualificar profissionais comprometidas com a transformação social e a construção de uma sociedade verdadeiramente equânime.

Confira aqui as fotos do evento. 

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