“Ninguém caminha sozinho”

Fernanda Marques 18 de outubro de 2021


O caminho trilhado pela Fiocruz Brasília nestes 45 anos é fruto de muito trabalho coletivo e agregador. Professor e pesquisador da Universidade de Brasília (UnB) e assessor da Fiocruz Brasília, o médico Gerson Penna chegou à unidade da Fundação na capital federal com a incumbência de construir um Núcleo Federal de Ensino, atendendo à necessidade de formação de quadros para o Sistema Único de Saúde (SUS). Ex-diretor da unidade e atual coordenador do Fórum das Unidades Regionais da Fiocruz (FUR), ele compartilha, nesta entrevista da série Fala aê – 45 anos da Fiocruz Brasília, alguns aspectos do trabalho em equipe ao longo de sua trajetória junto à instituição. 

 

https://youtu.be/D3-EKyO_s_k

 

Como sua trajetória e a da Fiocruz Brasília se cruzam?
Sou pesquisador da UnB e, em 2000, quando concluí o doutorado, aceitei o convite do então presidente da Fiocruz, Paulo Buss, de vir para a Fiocruz Brasília com a incumbência de construir um Núcleo Federal de Ensino, que precedeu a Escola de Governo Fiocruz – Brasília. Naquela altura, já havia aqui duas iniciativas, uma na área de direito sanitário e outra na área de alimentação e nutrição, coordenadas por Maria Célia Delduque e Denise Oliveira, respectivamente. Começamos um movimento, chamando pessoas e captando cursos. Celina Roitman, que foi superintendente das Ciências da Vida do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), e Fabíola de Aguiar Nunes, ex-secretária de Programas Especiais do Ministério da Saúde, foram extremamente importantes. Começamos a desenhar um projeto que pudesse responder à demanda de formar quadros para o SUS, o que culminou com a necessidade de uma sede para a Fiocruz Brasília. Esse processo caminhou lado a lado com a criação da UNA-SUS. Quando o projeto da sede foi licitado, fui chamado para ser secretário de Vigilância em Saúde do Ministério. Nesse período, a sede foi construída. Quando saí do Ministério, voltei para a Fiocruz Brasília, a convite do presidente da Fiocruz à época, Paulo Gadelha. Iniciou-se um processo de descentralização da administração até que, no último Congresso Interno, órgão máximo que delibera as políticas dentro da Fiocruz, a unidade em Brasília foi definida com dupla missão: responsável por dar todo o apoio às ações da Presidência da Fiocruz na capital federal e, simultaneamente, uma Escola que atenda às demandas do SUS. Trabalhamos com uma equipe grande, coletivamente, para construir aonde chegamos até aqui.

 

Essa dupla missão torna a Fiocruz Brasília diferente?
A Fiocruz Brasília está na capital do país e dá conta de estabelecer, formalizar e sustentar relações políticas de toda as unidades da Fundação. Para além das atividades de ensino e pesquisa, a unidade em Brasília foi designada a partir das necessidades da instituição de ter aqui uma representação forte da Presidência da Fiocruz, que se relacione com o Congresso Nacional, mantendo assessorias parlamentar e jurídica. Não é mais nem menos que uma unidade técnica-científica, é apenas diferente, atendendo às demandas institucionais.

 

Como é a atuação do Fórum das Unidades Regionais da Fiocruz (FUR)?
As unidades regionais têm características absolutamente diferentes em relação ao Rio de Janeiro e entre si. Elas têm uma responsabilidade sanitária enorme nos territórios em que estão inseridas. Se somarmos as dez unidades regionais da Fiocruz, elas têm responsabilidade sobre uma parcela muito expressiva da população brasileira que mora nesses dez estados. O FUR caminha com esses dois pilares: contribuir para o sistema nacional Fiocruz e melhorar os indicadores daquelas unidades federativas. Isso nos fez ficar fortes no entendimento de que cada unidade regional tem uma obrigação de inserção da Fiocruz no território. O FUR não é um fórum deliberativo, mas contribui formalmente elaborando documentos para a alta direção da Fiocruz sobre ensino, pesquisa, extensão e outros temas específicos. 

 

Dos períodos em que foi diretor da Fiocruz Brasília, o que destacaria?
A gente trabalhou no sentido de agregar as pessoas. Houve alguns encontros em que passamos dois ou três dias inteiramente juntos, isolados, convivendo e construindo um planejamento de longo prazo. Criamos um projeto agregador institucional, que era caminhar no sentido de ter um programa de pós-graduação. Mas isso não é um marco da minha gestão, porque foi feito a muitas cabeças. Trabalhamos fortemente também construindo as assessorias parlamentar e jurídica, e no processo de arrecadação de recursos financeiros, por meio de cooperações técnicas, para dar sustentação às nossas ações.

 

Esse projeto agregador é fruto de uma gestão com matriz no afeto?
Se a gente faz uma matriz de planejamento eminentemente técnica, sem se relacionar com as pessoas, não funciona, porque não agrega. O afeto que a gente cria entre nós, colaboradores da instituição, é que faz a diferença. “Juntos fazemos a diferença”: essa mensagem estava nos elevadores, estampada com o rosto de todos os colaboradores, independentemente de vínculo ou posição. Para mostrar que ninguém caminha sozinho. 

 

O que destacaria em relação aos três eixos do Ciclo de Inspirações?
São eixos necessários a qualquer instituição, seja ela pública, privada ou terceiro setor. Precisamos ter criatividade, que também pode ser chamada de inovação; amorosidade, que é gostar do que você faz; e solidariedade, que é entender que você não faz nada sozinho. São pilares que existem há muito tempo no planejamento estratégico e são fundamentais na construção de qualquer processo, seja no curto, médio ou longo prazo.