Era uma manhã de terça-feira quando 17 jovens ávidos por conhecer melhor o Sistema Único de Saúde (SUS) chegaram à Fiocruz Brasília. O grupo – participante do projeto Viver SUS em sua edição no DF – teria uma programação intensa naquela manhã (26/3), em que percorreria diferentes espaços da instituição e seria apresentado a uma parte das atividades de pesquisa e educação desenvolvidas pelos programas e núcleos da Fiocruz no DF. Já nas boas-vindas duas mensagens centrais foram endereçadas aos jovens que ocuparam o auditório interno do prédio: “aqui somos SUS”, conforme enfatizou a diretora da Fiocruz Brasília, Fabiana Damásio, e “aqui ofertamos várias oportunidades de formação, como residências, especializações e mestrado”, complementou o professor Jorge Barreto, na ocasião representando a diretora da Escola de Governo Fiocruz – Brasília, Luciana Sepúlveda.
O Viver SUS é um projeto da Agenda Jovem Fiocruz, ligada à Coordenação de Cooperação Social da instituição, com sede no Rio de Janeiro, em parceria com o movimento Levante Popular da Juventude. Com ações já realizadas em nove unidades federativas do país, o projeto chegou ao DF em sua décima edição, que ocorreu entre os dias 23 e 31 de março. A metodologia do Viver SUS inclui visitas a diferentes espaços, como Unidades Básicas de Saúde (UBS), Centros de Atenção Psicossocial (CAPs) e hospitais. Às vivências nesses espaços, somam-se momentos formativos de discussão sobre temas relacionados às visitas, como Atenção Primária à Saúde (APS), saúde mental e saúde do trabalhador. O objetivo é proporcionar uma experiência concreta junto ao SUS, com impacto e desdobramento no futuro profissional dos participantes, como Letícia Souza Pereira, nutricionista recém-formada pelo Centro Universitário Instituto de Educação Superior de Brasília (Iesb).
“Eu já tinha uma visão positiva do SUS, entendendo que existem desafios e coisas a serem melhoradas. Mas, quando a gente vai aos espaços, é como se colocasse uma lupa, a gente enxerga muito mais. Os debates agregaram vários pontos de vista, o que abriu ainda mais minha visão. Hoje, tenho muito mais argumentos e posso dizer com propriedade, a partir do que vi e vivi, que o SUS é muito necessário e importante”, contou Letícia. “Pode demorar, mas acontece. Diferente de outros países que não têm um sistema universal de saúde, e as pessoas não têm direito nem oportunidade de um atendimento”, explicou.
Cursando o segundo semestre da licenciatura em Educação do Campo na Universidade de Brasília (UnB), campus Planaltina, Marco Aurélio Pereira da Silva Santos concordou com a colega Letícia. “Geralmente, quando a gente olha as notícias na televisão e em outros veículos de comunicação, é passada a visão de um SUS ruim, que demora muito, e, de fato, ele apresenta problemas, mas, nos bastidores, a gente encontra profissionais que estão se esforçando ao máximo, então você percebe que o problema é a falta do investimento necessário”, avaliou Marco. “Eu vi no Viver SUS uma oportunidade de aprender mais sobre o SUS, porque, normalmente, não nos é passada uma informação completa sobre os aparelhos do SUS e como eles funcionam”, acrescentou o jovem estudante, que também se mostrou interessado nas oportunidades de formação na Fiocruz Brasília
A visita à Fiocruz superou às expectativas da turma, pois muitos não conheciam os diversos trabalhos desenvolvidos pela instituição. Os participantes do Viver SUS visitaram as instalações do Laboratório Marco, onde são realizadas pesquisas sobre o papilomavírus humano (HPV) e novas estratégias para a detecção e tratamento precoces do câncer do colo do útero, e a Sala de Educação e Cooperação Social (Secs), ligada ao Colaboratório de Ciência, Tecnologia, Inovação e Sociedade, que integra tecnologias digitais e sociais para o enfretamento da Covid-19, da dengue e de outros desafios sanitários nos territórios. Os jovens também conheceram projetos do Programa de Alimentação, Nutrição e Cultura (Palin), sobre o impacto social, ambiental e na saúde dos alimentos ultraprocessados; do Núcleo de Saúde Mental, Álcool e Outras Drogas (Nusmad), sobre promoção da saúde e da cidadania de adolescentes que vivem em abrigos da assistência social do DF; do Programa de Promoção da Saúde, Ambiente e Trabalho (Psat), sobre articulação do conhecimento científico e popular com empoderamento das populações do campo, floresta e águas, em especial das mulheres; e do Núcleo de Populações em Situações de Vulnerabilidade e Saúde Mental na Atenção Básica (Nupop), sobre a atuação junto às pessoas em situação de rua. Os projetos foram apresentados, respectivamente, pelos pesquisadores Eduardo Nilson (Palin), Lorena Padilha (Nusmad), Virgínia Corrêa (Psat) e Mayara Araújo (Nupop).
“A vivência na Fiocruz dentro do Viver SUS foi muito importante porque ela é uma instituição renomada de pesquisa e ainda persiste uma dificuldade de compreendê-la como parte do SUS. É fundamental mostrar a Fiocruz como SUS que produz ciência e tecnologia para nossa população”, afirmou a psicóloga Isabela Arrezzo Meireles, da Coordenação Político-Pedagógica do Viver SUS. “Foi muito interessante conhecer os programas de pesquisa e ensino de pós-graduação que procuram resolver as demandas concretas do nosso povo. Na Fiocruz, a gente conseguiu ver aquele quadrilátero de atenção, gestão, participação social e a formação de uma forma muito interligada. A qualidade na atenção à saúde aparece na excelência das pesquisas e no respeito com os usuários nos projetos”, salientou.
De acordo com Luciane Ferrareto, coordenadora da Agenda Jovem Fiocruz, a vivência na Fiocruz Brasília demonstrou que é possível contribuir para o fortalecimento do SUS mesmo sem atuar diretamente na rede de atenção. “Os jovens ficaram muito felizes de ver que as ciências sociais, a história, a comunicação e outras áreas do conhecimento também podem contribuir com pesquisas e projetos de saúde nos territórios”, ressaltou.
Raquel Almeida Vargas, estudante do quarto semestre do curso de saúde coletiva da UnB, campus Ceilândia, já conhecia a Fiocruz Brasília – no ano passado, ela participou do evento Converse com(o) uma cientista, no âmbito do programa Mais Meninas na Fiocruz Brasília. Mesmo já conhecendo a instituição, a visita com o Viver SUS trouxe novas perspectivas para a jovem. “A experiência proporcionou insights valiosos sobre pesquisa, desenvolvimento e inovação no campo da saúde. Atendeu e superou minhas expectativas oferecendo uma visão prática e concreta do que é trabalhar na área. Foi muito enriquecedor”, contou.
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