Projeto Marco na SBPC Jovem

Fernando Pinto 15 de julho de 2024


A Fiocruz Brasília, em conjunto com mais 13 unidades da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), esteve entre os dias 8 e 13 de julho, na Universidade Federal do Pará (UFPA), em Belém, capital do estado do Pará, localizada na região do Baixo Amazonas, participando da 76ª Reunião da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).

 

Essa foi a edição que reuniu o maior número de representantes de unidades da Fiocruz em toda a história da SBPC. No total, 13 das 21 unidades e escritórios, sendo cinco unidades da Fiocruz no Rio de Janeiro. Os representantes das unidades dividiram o estande no espaço da SBPC Jovem idealizado para abrigar as diversas iniciativas e projetos desenvolvidos pelos institutos de pesquisa e escritórios regionais da instituição no país.

 

Foram ao todo 28 atividades diferentes, apresentadas para cerca de 15 mil pessoas que passaram no espaço da SBPC Jovem. O público foi formado, em sua maioria, por estudantes e professores de escolas das redes pública e privada de ensino, além de alunos, docentes e pesquisadores da UFPA. No total, 63 profissionais, entre pesquisadores e bolsistas, integraram a delegação da Fiocruz no evento.

 

Para a coordenadora nacional de Divulgação Científica da Vice-Presidência de Educação, Informação e Comunicação (VPEIC) da Fiocruz, Cristina Araripe, esta edição da SBPC foi, sem dúvida, a de maior representatividade para a Fundação. “Trouxemos para Belém um número de profissionais e projetos nunca antes visto, na história da nossa participação na SBPC, desde a nossa primeira vez, em 2002”, comentou Araripe, ao ressaltar que eventos como o da SBPC são importantes espaços de divulgação e popularização da ciência. 

 

A Fiocruz Brasília foi uma das unidades que compôs a delegação da Fundação na SBPC Jovem, por meio do Projeto Marco. O público presente no evento conheceu de perto o trabalho de rastreio e manejo do Risco de Câncer Cervical, pesquisa inédita da Fiocruz Brasília realizada no laboratório do Projeto em Brasília. Por meio de jogos educativos e equipamentos utilizados no laboratório, a pesquisadora do Marco, Andrelisse Arruda e a bolsista do projeto, a mestranda do programa de pós-graduação de ciências farmacêuticas da Universidade de Brasília (UnB), Rebeca Rubens, apresentaram os novos protocolos para rastreio, triagem e tratamento do câncer de colo de útero com base em testes do Papilomavírus Humano (HPV – sigla em inglês).

 

O laboratório onde o trabalho do projeto é realizado e as amostras são analisadas foi inaugurado em março de 2023. Coordenado pela Fiocruz Brasília e localizado no Hospital Universitário da Universidade de Brasília (HUB/UnB), o laboratório – um Centro avançado voltado para pesquisas na área de saúde da mulher – é fruto de um acordo entre o Ministério da Saúde e o National Cancer Institute (NCI), dos Estados Unidos, envolvendo uma extensa rede de parceiros, como a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), o Instituto Nacional de Câncer (Inca) e diversas instâncias do Sistema Único de Saúde (SUS). O projeto integra também o Consórcio PAVE – HPV e Avaliação Visual Automatizada.

 

Para a pesquisadora Andrelisse Arruda, que participou pela primeira vez como expositora na SBPC Jovem, a experiência de poder apresentar e falar das ações do Projeto Marco para uma população tão diversa foi incrível. “Já participei de muitos eventos para divulgar ciência, mas certamente a SBPC foi memorável tanto pelo interesse da população em saber mais sobre prevenção de câncer provocado por HPV, quanto pelo número de pessoas que visitaram o estande”, ressaltou ao falar da alegria em ver as crianças querendo saber mais sobre a vacina e o vírus. “Meninas e meninos perguntaram sobre diagnóstico, sintomas, prevenção e tratamento. Mulheres e homens queriam saber se tem cura, quem pode se vacinar e se a vacina é eficaz”, disse.

 

O principal objetivo do Projeto é avaliar a efetividade de novas estratégias de rastreio e triagem cervical baseadas em HPV utilizando amostras autocoletadas.  O projeto trabalha com um método de autocoleta, no qual a própria mulher, após ser instruída por um profissional de saúde, realiza a coleta da amostra ginecológica utilizando um swab (instrumento semelhante a um cotonete).  A ideia é facilitar o rastreio do HPV fazendo o exame ser mais confortável e fácil. Após a coleta, o material é levado ao laboratório onde é realizado um teste para detecção do vírus utilizando PCR. Através desse teste, que tem como base a amplificação do DNA, é possível identificar se existe a presença do vírus.

 

A previsão é que sejam testadas 10 mil mulheres do Distrito Federal. A equipe do projeto passa em diferentes regiões do DF em postos itinerantes de coleta. Já foram coletados dados em diferentes locais, desde a rodoviária do Plano Piloto, a 5 quilômetros da sede da Fiocruz na capital federal até em Formosa, a 77 quilômetros. Além do DF, que tem o índice de 14,47 casos para cada 100 mil habitantes, a pesquisa vai coletar dados também em Manaus, com mais que o dobro de casos, e incidência de 35,71 por cem mil habitantes. 

 

A bolsista Rebeca Rubens considerou o evento uma excelente oportunidade para divulgar a pesquisa realizada pelo projeto e destacar sua importância para os usuários do SUS. “Quanto mais pessoas tiverem acesso às informações sobre o rastreamento, triagem e tratamento do câncer do colo de útero, menores serão os números de óbitos por câncer causados pelo HPV”, ressaltou.

 

A mestranda também ressaltou que atividades como essa incentivam a participação ativa da comunidade e dos profissionais de saúde, e consequentemente contribuem para fortalecer a saúde pública, promovendo um impacto positivo na pesquisa realizada pelo Marco. “É importante fazer a tradução do conhecimento científico para a população entender a importância da pesquisa e apoiar a ciência brasileira”, finalizou.

 

Detetives do HPV contra o câncer

 

A visita pelo espaço do Marco no estande da SBPC Jovem iniciava com uma brincadeira em que o participante era convidado a caçar o vírus do HPV por meio de um tabuleiro com vários exemplares de vírus. Com o auxílio de uma lupa era possível identificar o vírus do Papilomavírus Humano (HPV), e após a identificação, o participante estava apto a seguir a visitação ao laboratório do Marco.

 

Em seguida, as pesquisadoras apresentavam o trabalho realizado no projeto além de explicar o objetivo da pesquisa. Com um swab de autocoleta, elas falaram de como é realizado a coleta das amostras das pacientes. A própria mulher quem colhe o material, seguido de detecção do vírus por biologia molecular, utilizando um tipo de PCR em tempo real portátil. “Levamos o laboratório para o campo. Se der positivo para um dos 13 HPVs de alto risco para câncer, a mulher passa para o próximo exame”, detalhou a pesquisadora.

 

“Utilizamos as atividades na SBPC Jovem para falar de forma lúdica sobre a prevenção do câncer do colo do útero com rastreio, triagem e tratamento no mesmo dia. É importante fazer a tradução do conhecimento científico para a população entender a importância da pesquisa e apoiar a ciência brasileira”, completou.

 

Fato ou Fake do HPV

 

Homens não precisam se vacinar contra o HPV?

A vacina contra o HPV não é segura?

O HPV pode causar vários tipos de câncer?

Apenas mulheres podem contrair HPV?

 

Essas eram algumas das perguntas que os participantes tinham que responder no jogo Fato ou Fake do HPV. Após a resposta, as pesquisadoras explicavam a importância da vacina que protege de alguns tipos de HPV, das formas de transmissão do vírus, que é transmitido, principalmente, por via sexual e que pode causar câncer de colo de útero, quarto tipo de câncer que mais mata mulheres no Brasil. Além de trabalhar as Fake News que foram disseminadas, principalmente durante a pandemia, elas também abordaram a importância de as mulheres realizarem o teste do HPV e, se tiverem o vírus, realizarem o acompanhamento e tratamento adequados.

 

O uso da Inteligência Artificial no combate ao câncer do HPV

 

O público também pôde conhecer um pouco da tecnologia usada no laboratório em Brasília, por meio do IRIS (thermocoagulator & digital colposcope) – aparelho portátil chamado coloscópio – que faz a imagem do colo do útero com recurso da A.I. (Inteligência Artificial) e treina os algoritmos para detectar lesões a partir desta coleta de imagens que alimenta seu banco de dado. O equipamento de alta tecnologia que auxilia a avaliação de novas estratégias de rastreio e triagem baseadas em HPV e tratamento por termoablação está sendo utilizado nas participantes da pesquisa que testam positivo para HPV de alto risco.  A ideia é que no futuro essa alta tecnologia esteja disponível também para o tratamento do HPV nos equipamentos do SUS em todo o país.

 

As pesquisadoras explicavam o passo a passo da coleta, utilizando o próprio aparelho. “Queremos detectar a lesão antes de virar um câncer. Se tiver uma lesão detectável pelo equipamento, a mulher vai para a última etapa. Fazemos o tratamento no mesmo dia utilizando a termoablação, tecnologia que utiliza calor para destruir o tecido onde o vírus se multiplica”.

 

A SBPC Jovem

 

A SBPC Jovem é um evento associado à reunião anual da SBPC e ocorre desde 1993. As atividades buscam incentivar o contato de estudantes o interesse pela ciência, tecnologia e inovação. São três décadas de atuação, nas quais tem desempenhado papel essencial no fortalecimento das atividades de Ensino de Ciências, Popularização da Ciência, Divulgação da Ciência e Comunicação Pública.

 

Confira aqui as fotos do evento. 

 

Com informações da Agência Fiocruz de Notícias

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