Exame piloto de carga viral de hepatite D, criado na Fiocruz, é implantado no SUS

Fiocruz Brasília 26 de julho de 2024


José Gadelha (Fiocruz Rondônia)


O método molecular para diagnóstico e quantificação da carga viral do vírus da hepatite Delta (HDV), desenvolvido pelo Laboratório de Virologia Molecular da Fiocruz Rondônia, passa a integrar o Protocolo Clínico e as Diretrizes Terapêuticas (PCDT) de hepatite B e coinfecções no Sistema Único de Saúde (SUS). A informação foi oficializada em Nota Técnica emitida pelo Departamento de HIV/Aids, Tuberculose, Hepatites Virais e Infecções Sexualmente Transmissíveis (DATHI) da Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente (SVSA) do Ministério da Saúde.

 

Com isso, a partir de agora, o Ministério da Saúde recomenda a utilização do exame de carga viral do vírus da hepatite D ou Delta no SUS. Com a nova metodologia, o rastreamento da hepatite D é indicado a indivíduos ou filhos de indivíduos diagnosticados com o vírus da hepatite B, que sejam provenientes dos estados da região amazônica ou que possuam algum vínculo epidemiológico com pessoas desses estados ou em casos de exacerbação da hepatite B crônica.

 

O documento também estabelece a frequência de solicitação do exame de carga viral do vírus da hepatite Delta no SUS e os procedimentos a serem adotados pelos profissionais de saúde durante a implantação piloto na rede pública de saúde. A Nota Técnica indica as unidades de recolhimento das amostras para a carga viral de HDV em todos os 26 estados e no Distrito Federal. O fluxo estabelecido pelo Ministério da Saúde ressalta que todas as amostras recolhidas serão encaminhadas para o Laboratório de Virologia Molecular da Fiocruz Rondônia, em Porto Velho, que atenderá a demanda para a realização do exame de carga viral para HDV de todo o país.

 

A pesquisadora Deusilene Vieira, chefe do Laboratório de Virologia Molecular da Fiocruz Rondônia, explica que esse trabalho é resultado de um esforço de 31 anos dedicados ao acompanhamento das hepatites virais crônicas realizado pelo Ambulatório Especializado em Hepatites Virais (AHV/RO), vinculado ao Centro de Pesquisa em Medicina Tropical (Cepem/Sesau), sob a coordenação do médico infectologista Juan Miguel Villalobos-Salcedo, além dos mais de dez anos de suporte ao entendimento, análise e caracterização molecular das hepatites virais dedicados pelo Laboratório de Virologia Molecular da Fiocruz Rondônia. 

 

Segundo ela, a ausência de um teste molecular para a hepatite Delta no SUS representava uma grande barreira no diagnóstico e tratamento dos casos, “considerando a alta endemicidade da doença na região, os desafios geográficos e as dificuldades na realização do diagnóstico, podemos dizer que a Fiocruz Rondônia dá um importante passo para o fortalecimento do SUS e, consequentemente, à qualidade de vida das populações mais vulnerabilizadas”, destaca.

 

O médico infectologista Juan Miguel Villalobos-Salcedo enfatiza que o principal avanço é poder disponibilizar, por meio do SUS, os testes moleculares para outros estados, que têm casos de hepatite Delta, onde os pacientes já vêm sendo acompanhados sem a confirmação diagnóstica e sem um elemento fundamental no tratamento, que é a queda da carga viral, chegando à sua negativação. Ele também faz um alerta para os registros de hepatite Delta fora da Amazônia, de indivíduos que não nasceram na região, além daqueles casos de indivíduos que foram infectados em estados da Região Norte e estão residindo no Sul e Sudeste, o que aponta para a necessidade de uma maior atenção em relação à doença. 

 

Para nós, “é motivo de orgulho poder ver aplicado no SUS aquilo que já vínhamos realizando em Rondônia há mais de cinco anos, o que nos deu total credibilidade, por isso, nos orgulhamos de que o Ministério da Saúde tenha visto e reconhecido a importância do teste molecular para hepatite Delta, como método que pode ser aplicado no restante do país”, afirma.

 

O coordenador da Fiocruz Rondônia, Jansen Fernandes de Medeiros, ressalta o compromisso institucional da Fundação com a saúde pública e o desenvolvimento da região, e assegurou que esse resultado é “o reflexo de um trabalho contínuo dos pesquisadores, que não medem esforços para trazerem respostas concretas aos inúmeros desafios da saúde e da pesquisa que enfrentamos na Amazônia”.

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