Combater a fome, promover a segurança alimentar e nutricional e, muito mais: saúde e cidadania nos territórios. Estes são os motivos que movem as cozinhas solidárias, política pública que atende populações vulnerabilizadas, e está diretamente relacionada ao Objetivo de Desenvolvimento Sustentável número 2 da Organização das Nações Unidas (ODS/ONU), o qual preconiza fome zero e agricultura sustentável.
Foi com o propósito de promover a troca de experiências, discutir os desafios, o papel e a estrutura necessária para o bom funcionamento destas cozinhas solidárias, que a Fiocruz Brasília reuniu representantes da instituição e do Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS), na terça-feira, 3 de setembro.
As boas práticas de alimentação e manipulação correta dos alimentos, vigilância em saúde e normas sanitárias, bem como condições higiênico-sanitárias, higiene pessoal e vestimenta adequada, além de infraestrutura – fornecimento de água, instalação elétrica e equipamentos – permearam a pauta da reunião. O grupo debateu, ainda, a formação conjunta das equipes que compõem as cozinhas: trabalhadores, voluntários e agricultores familiares para que sejam multiplicadores em seus territórios.
“É preciso pensar as cozinhas solidárias para além do enfrentamento da fome com distribuição de refeições, mas sim como tecnologia social, e estruturá-las em redes articuladas, que geram valor social, estimulando a economia solidária com ampliação do acesso ao trabalho e à geração de renda”, destacou José Leonídio Santos, coordenador de Cooperação Social da Fiocruz.
Experiências
Os pesquisadores do Laboratório de Educação Profissional em Vigilância em Saúde da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (LAVSA/EPSJV/Fiocruz), Lásaro Stephanelli e Paulo César Ribeiro, falaram sobre a experiência com as cozinhas solidárias na cidade do Rio de Janeiro e na Baixada Fluminense. Na iniciativa fluminense, o curso de formação, oferecido em 2023, capacitou 29 educandos de 20 cozinhas, que atendiam população vulnerabilizada, pessoas em situação de rua e refugiados afegãos.
Já a Fiocruz Pernambuco, por meio da campanha Mãos Solidárias – do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) -, formou 700 agentes populares nas cozinhas solidárias da periferia de Recife e da Região Metropolitana, em um primeiro momento. Segundo a pesquisadora Paulette Cavalcanti de Albuquerque, do departamento de Saúde Coletiva da Fiocruz Pernambuco, a ação possibilitou o aumento das cozinhas solidárias, de 15 para 36, após o curso.
No Distrito Federal, a iniciativa é encabeçada pela Fiocruz Brasília, por meio do Colaboratório de Ciência, Tecnologia, Inovação e Sociedade (CTIS) e do Programa de Alimentação, Nutrição e Cultura (Palin), que desenvolve ações na Região Administrativa do Sol Nascente, com foco em agricultura familiar e cultivo de hortas.
Fiocruz e as cozinhas solidárias
Para o vice-presidente de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde (VPAAPS) da Fiocruz, Hermano Castro, é preciso ter claro o papel institucional da Fundação em relação às cozinhas solidárias. “Não podemos pensar nas cozinhas solidárias descoladas do que é o entendimento da Fiocruz sobre o tema, qual é a mensagem que a instituição quer passar para a sociedade”, ponderou.
A opinião também é compartilhada pela vice-diretora da Fiocruz Brasília, Denise de Oliveira e Silva, que chamou atenção para a transição dos sistemas alimentares no Brasil e no mundo. “É necessário questionar o modelo alimentar global atual, que gera, ao mesmo tempo, a desnutrição e a obesidade”, sublinhou.
O grupo pretende realizar o Primeiro Encontro de Cozinhas Solidárias no mês de novembro, com o objetivo de criar uma rede de comunicação com as cozinhas. Também está previsto o lançamento da segunda edição do Caderno do Observatório Brasileiro de Hábitos Alimentares (OBHA) da Fiocruz Brasília com o tema Cozinhas Solidárias.
Veja as imagens da reunião aqui.
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