Movimentos sociais, acadêmicos, cientistas, gestores e profissionais de saúde e da comunicação enfrentaram uma série de desafios com a Covid-19, que exigiram uma resposta rápida. Informações diversas e desencontradas que viralizaram em grupos de mídias sociais, fake news, discursos divergentes, medo de se infectar com o vírus e de ter que lidar com a mortes de familiares e pacientes, questionamentos sobre a eficácia da vacina, dificuldade para engajar as comunidades e de acesso das populações vulneráveis a serviços de saúde foi uma parte da realidade encontrada.
O II Seminário Nacional e III Seminário Internacional As relações da saúde pública com a imprensa abriu espaço para a apresentação de estudos e experiências com a pandemia. Foram submetidos 21 resumos na sessão científica do evento, que trouxeram relatos de diferentes lugares do Brasil: interior de São Paulo, Brasília, Rio de Janeiro, Alagoas, Ceará, Mato Grosso do Sul, Pernambuco, Espírito Santo, Pará, Minas Gerais, além de cidades e municípios do Rio Grande do Sul. Destes, 14 alcançaram mais de 75% na avaliação da Comissão Científica e foram apresentação em formatos online e presencial nos dias 9 e 10 de novembro.
A Comissão Científica foi formada por mestres e doutores da área de comunicação em saúde de diferentes instituições brasileiras: Alberth Sant´Anna (Instituto Federal de Brasília), Aline Cavaca (Fiocruz Brasília), Cristiane Fammer (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), Edilaine Vilela (Secretaria de Saúde de São Paulo), Fernanda Cassiano (Ministério da Saúde), Fernanda Marques (Fiocruz Brasília), Ione Barros (Instituto Federal de Goiás), Izamara Bastos (Fiocruz), Leila Gottems (Fundação de Ensino e Pesquisa em Ciências da Saúde do Distrito Federal), Marco Aurélio Santana (Ministério da Saúde), Wagner Vasconcelos (Fiocruz Brasília), Wilson Borges (Instituto de Comunicação Científica e Tecnológica/Fiocruz), Cinthia Bernardes e Cristiane Parente.
No próximo ano, será elaborado um e-book sobre o evento reunindo artigos escritos pelos convidados do VII Seminário Nacional e III Seminário Internacional As relações da saúde pública com a imprensa e os trabalhos aprovados na sessão científica. Enquanto a publicação não é lançada, confira os resumos das experiências abaixo e as apresentações do primeiro e do segundo dia da sessão científica no nosso canal no Youtube.
A experiência “Comunicação de risco sobre Covid-19 em comunidades quilombolas: oficinas com jovens comunicadores da Federação das Organizações Quilombolas de Santarém”, foi o trabalho mais bem avaliado (resumo e apresentação oral), e foi reapresentado no encerramento do Seminário, nesta sexta-feira, 11 de novembro.
O lado obscuro das vacinas no Facebook: quais verdades em disputa?
O estudo buscou analisar a diversidade discursiva difundida através do Facebook entre pessoas que se recusam a vacinar seus filhos ou a receber vacinas, investigando como funcionam os mecanismos e as técnicas de subjetivação, presentes nas redes sociais, com vistas a obter adeptos para a causa antivacinas.
Autores: Angéli do Prado Casagrande, Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Celebridades: uma experiência de comunicação e mobilização do Hospital da Criança de Brasília José Alencar durante a pandemia de Covid-19
O trabalho relata a experiência de uma ação de comunicação nos primeiros seis meses do enfrentamento da pandemia de Covid-19 na unidade de saúde com a finalidade de contribuir para a motivação dos profissionais de saúde do HCB envolvidos diretamente na assistência a crianças e adolescentes no início da pandemia de Covid-19, além de favorecer e reforçar a empatia da comunidade local e nacional para com os profissionais de saúde.
Autores: Carlos Wilson de Andrade Filho, Carolina Oliveira Gontijo e Maria Clara Chaves Oliveira, Hospital da Criança de Brasília.
A experiência da Comunicação do Hospital Risoleta Neves para informar e sensibilizar a comunidade na pandemia da Covid-19
Qual a importância da Comunicação durante a pandemia da Covid-19 em um Hospital porta aberta, 100% SUS, em uma região de grandes vulnerabilidades em BH? O trabalho relata as estratégias adotadas pela equipe do Risoleta Neves, entre 2020 e 2022, para informar e sensibilizar trabalhadores, pacientes, familiares de usuários, imprensa e sociedade em geral.
Autores: Daniela Soares de Souza, Isabela Reis Abalen Dias, Louise Savassi Werkhauser, Sílvia Angélica Amâncio Vasconcellos, Wadson da Silva, trabalhadores do Hospital Risoleta Tolentino Neves.
Comunicação de risco e engajamento comunitário na resposta à Covid-19: a experiência do Comunica Epi na Força-tarefa TiLS Covid-19
O trabalho apresenta as atividades de comunicação de risco e engajamento comunitária realizadas no âmbito do Força-tarefa TiLS Covid-19. O projeto foi construído com base em estratégias de apoio a municípios brasileiros, estendendo-se para a América Latina e Países Africanos de Língua Portuguesa (PALOP) desenvolvidas e implementadas entre outubro de 2020 e janeiro de 2022. Essas estratégias foram construídas para o desenvolvimento de capacidades e suporte direto a profissionais de saúde, com foco na vigilância em saúde, em torno da análise de situação e construção de cenários, preparação e a gestão da crise, resposta oportuna, evidência científica para a tomada de decisão oportuna, comunicação de risco e engajamento comunitário, produção e tradução de conhecimentos.
Autores: Ana Julia Santos, graduanda em Enfermagem pela Universidade Federal de Pernambuco; Mariana Ferreira Lopes, doutora em Comunicação (Unesp) e professora colaboradora externa da Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília; Marcela Lopes Santos, doutora em Saúde Pública (Instituto Aggeu Magalhães/ Fiocruz-PE) e consultora técnica na Coordenação Geral de Arboviroses do Ministério da Saúde; Rayane Amorim – graduanda em artes visuais pela Universidade de Brasília.
Oito tecnologias e arranjos comunicacionais desenvolvidos por populações vulnerabilizadas do Distrito Federal na pandemia de Covid-19
Percebe-se a expressiva produção e circulação de informações relacionadas ao Covid-19 voltadas para grandes públicos, enquanto poucas estratégias educacionais são contextualizadas para públicos específicos, tais como as populações vulnerabilizadas, de modo que a desigualdade social no Brasil amplifica os efeitos nefastos da pandemia de Covid-19 em tais populações, tanto em aspectos sociais, econômicos e sanitários quanto em relação ao acesso à saúde e à informação e comunicação. O objetivo deste trabalho é conhecer os arranjos comunicacionais e tecnologias produzidas no contexto da pandemia de Covid-19 pelas populações vulnerabilizadas do Distrito Federal.
Autores: Isabella Moura de Oliveira, graduanda em Medicina pela Universidade de Brasília e aluna PIBIC da Fiocruz Brasília; Aline Guio Cavaca, pesquisadora do Jacarandá – Núcleo de Educação e Humanidades em Saúde, Escola de Governo- Fiocruz Brasília; Webert da Cruz Elias, bolsista da Fiocruz-Brasília e membro do Coletivo Retratação – Mercado Sul, DF; Ruan Ítalo de Araújo Guajajara, mestrando em Geoprocessamento pela Universidade de Brasília; Inesita Soares de Araújo e Márcia Rodrigues Lisboa, pesquisadoras do Laboratório de Comunicação e Saúde.
Desafios para a promoção da saúde na pandemia da covid-19: infodemia e desinformação
Esse estudo tem por objetivo traçar um panorama sobre os reflexos da infodemia para o processo de promoção da saúde durante a pandemia indicados na literatura científica. Como objetivo adicional busca-se sugerir alternativas para que os profissionais, em especial a equipe de enfermagem, possam contribuir para o oferecimento de informações confiáveis à população, combatendo a desinformação e evitando a sobrecarga informacional. Para atender esse objetivo e o desenvolvimento do estudo foi elaborada a seguinte questão norteadora: “Quais os desafios
para a promoção da saúde durante a pandemia da COVID-19 em virtude da crescente desinformação ocasionada pela infodemia?”.
Autores: Thaynara de Oliveira Mendonça, graduanda do 10o semestre do Curso de Enfermagem da Universidade de Brasília, Faculdade de Ciências da Saúde, Departamento de Enfermagem; Dirce Bellezi Guilhem, enfermeira, doutora em Ciências da Saúde e Bioética, professora Associada da Universidade de Brasília, Faculdade de Ciências da Saúde, Departamento de Enfermagem e orientadora.
Pessoas cuidando de pessoas. Comunicação e assistência na linha de frente da Covid-19
O trabalho relata as primeiras estratégias do enfrentamento da pandemia pensadas pela equipe de comunicação do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Botucatu (HCFMB) , não havia nenhum caso confirmado no HCFMB, localizado em São Paulo. Entre o raciocínio constante sobre o que fazer e para que as mídias sociais passassem a veicular “verdades absolutas”, o tempo foi implacável.
Autores: Bruna Carla Fioruci, diretora da Gerência de Comunicação, Imprensa e Marketing do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Botucatu (HCFMB); Vivian Carolina de Oliveira Abilio, jornalista e Coordenadora do Núcleo de Comunicação Externa e Assessoria de Imprensa da Gerência de Comunicação, Imprensa e Marketing do HCFMB. O trabalho
Mídia, esporte e pandemia no Brasil: interfaces entre o direito de transmitir e a cobertura jornalística
Apesar de, aparentemente, inconteste, o exercício de poder econômico, político e social do fenômeno esportivo durante a pandemia da covid-19, a qual ainda nos assola, a realização das competições e eventos esportivos não passaram sem questionamentos, críticas ou polêmicas. Este estudo buscou compreender como a mídia esportiva brasileira construiu a cobertura noticiosa sobre a realização de competições internacionais e nacionais, durante a pandemia da Covid-19, de acordo com a detenção ou não dos direitos de transmissão dos respectivos eventos esportivos.
Autores: Nicole de Melo Ramos, Instituto de Educação Física e Esporte da Universidade federal de Alagoas.
Pílula milagrosa para Covid-19: O que está por trás da comunicação de medicamentos potencialmente promissores durante uma pandemia?
A comunicação midiática frente à uma situação alarmista da saúde, como uma pandemia, é um fenômeno que vem sendo alvo da comunidade científica. Em retrospectiva de como a mídia lidou com as diferentes epidemias que a população já enfrentou, observou-se comportamentos semelhantes na imprensa, como o uso de títulos alarmistas, o bombardeio de informações pré-maturas e imagens fortes, desconsiderando os seus possíveis impactos. Estas manchetes provocaram medo e pânico, elevando os níveis de ansiedade da população pela cura. O trabalho buscou discutir os pontos centrais que permearam a comunicação de medicamentos potencialmente promissores durante a pandemia da Covid-19.
Autores: Rachel Bedatt Silva, mestranda do Mestrado Profissional em Políticas Públicas em Saúde da Fiocruz Brasília (MPPPS); Mariella Silva de Oliveira-Costa, jornalista da Assessoria de Comunicação da Fiocruz Brasília e docente do MPPPS.
Comunicação de risco sobre covid-19 em comunidades quilombolas: oficinas com jovens comunicadores da Federação das Organizações Quilombolas de Santarém
Limitações de acesso aos serviços de saúde e políticas públicas de saneamento básico e proteção social são pontos comuns de vulnerabilidade de diferentes grupos populacionais: periferias urbanas, indígenas, quilombolas, populações residentes em áreas rurais, no campo e na floresta, ribeirinhas e outras comunidades tradicionais. O impacto das diferentes crises geradas pela covid-19 na região amazônica mostrou-se peculiar e diferente do observado em relação a outras regiões do Brasil e do mundo. No caso da covid-19, estudos demonstraram a expressão do racismo sanitário na região amazônica, em que o acesso a serviços especializados pelas populações negras é proporcionalmente inferior ao vivenciado por outros segmentos sociais. O estudo apresenta a experiência de oficinas de comunicação de risco com jovens comunicadores da Federação das Organizações Quilombolas de Santarém para o fortalecimento de ações de enfrentamento à covid-19.
Autores: Mariana Ferreira Lopes, doutora em Comunicação pela Unesp. Professora colaboradora externa da Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília; Luciana Gonçalves de Carvalho, doutora em Antropologia. Professora associada da Universidade Federal do Oeste do Pará; Marcela Lopes Santos, doutora em Saúde Pública pelo Instituto Aggeu Magalhães/Fiocruz-PE. Consultora Técnica na Coordenação Geral de Arboviroses do Ministério da Saúde; Veridiana Barreto Nascimento, doutoranda em Ciências Ambientais na Universidade Federal do Oeste do Pará. Professora da Universidade Federal do Amapá; Eduardo Stramandinoli Moreno, Doutor em Ciências Ambientais pela Universidade Federal do Oeste do Pará. Consultor epidemiologista para OMS e Unicef; Marluce Coêlho, graduanda em Ciências Agrárias pela Universidade Federal do Oeste do Pará. Assessora de Projetos da Federação das Organizações Quilombolas de Santarém.
Cura mágica, alienígenas e microchips. Valores humanos e crença em informações enganosas a respeito da Covid-19
A pesquisa objetivou investigar associações entre os valores propostos pelo modelo de Schwartz e o consumo de informações enganosas, difundidas através das mídias sociais, a respeito da Covid-19, durante o período de pandemia no Brasil.
Autores: Rafaella S. Daudt, graduada em Artes Visuais, graduanda em Psicologia pela Universidade Feevale, mestranda e bolsista (CAPES) no programa de Pós-Graduação em Processos e Manifestações Culturais pela mesma universidade; Sabrina Daiana Cunico, Doutora em Psicologia (PUCRS), Pesquisadora e professora do curso de psicologia da Universidade Feevale; Marcus Levi Lopes Barbosa, doutor em Ciências do Movimento Humano (UFRGS) Professor do curso de Psicologia e coordenador do Mestrado Acadêmico em Psicologia da Universidade Feevale.
Efeitos da participação em uma comunidade online de saúde no itinerário terapêutico relacionado à Covid-19
O estudo buscou analisar como os fluxos de informação e comunicação produzidos e compartilhados em uma comunidade on-line de saúde sobre Covid-19 afetam o processo de tomada de decisão dos participantes em seu itinerário terapêutico relacionado à doença, sobretudo em relação à adoção de medidas preventivas, à busca de atendimento médico, ao consumo de medicamentos e à vacinação.
Autores: Leticia Barbosa, pesquisadora em Estágio de Pós-Doutorado – Laboratório Internet, Saúde e Sociedade (LAISS/CSEGSF/ENSP/Fiocruz); André Pereira Neto, Pesquisador em Saúde Pública – LAISS/CSEGSF/ENSP/Fiocruz.
Divulgação de dados da covid-19 à imprensa capixaba: relato de experiência da implementação do painel covid-19 no Espírito Santo
O trabalho apresenta a experiência da Assessoria de Imprensa da Secretaria da Saúde do Governo do Espírito Santo sobre a implementação do Painel Covid-19, um sistema público de consulta de dados referentes à pandemia, e de sua importância para a gestão de dados, tal como o acesso por parte dos jornalistas e o fortalecimento do jornalismo de dados.
Autores: Thaísa Guimarães Côrtes, mestranda em Comunicação e Territorialidades pela Universidade Federal do Espírito Santo. Atua, desde 2019, na assessoria de imprensa da Secretaria da Saúde do Governo do Espírito Santo; Cristiano Soares da Silva Dell´Antônio, doutorando em Ciências da Saúde pelo Hospital Sírio-Libanês. Atualmente é fisioterapeuta da Secretaria da Saúde do Governo do Espírito Santo atuando na Sala de Situação da Covid-19.
Fake news e covid-19: a checagem da desinformação em saúde pela imprensa
No atual cenário de desordem informacional, de infodemia, o fact-checking tornou-se uma das principais ferramentas do jornalismo profissional. Durante a pandemia, a estratégia foi bastante utilizada e merece atenção: o que o combate à desinformação, especialmente em saúde, revela sobre a relação entre ciência e jornalismo? Este trabalho analisou o serviço de checagem do Grupo Globo, o “Fato ou Fake”, lançado em julho de 2018 para compreender como os temas de saúde são tratados no serviço de checagem e como se dá a construção de legitimidade e confiabilidade nos discursos jornalístico e científico.
Autores: Bárbara de Jesus Souza, Jornalista pela UFRJ, mestre em Divulgação da Ciência, Tecnologia Saúde pela COC/Fiocruz.
Confira aqui as fotos do evento
Saiba mais sobre o Seminário:
“Para superar um jornalismo que desumaniza”
Comunicação em saúde: minicursos capacitam profissionais e estudantes
Os desafios e lições de quem comunica evidências
Do ódio à empatia: diálogos sobre divulgação científica
Da assessoria à redação: os desafios de fazer jornalismo numa pandemia
Empatia: a chave para uma comunicação eficaz
Mídias sociais, terra sem lei?
Pelo fortalecimento do SUS e da comunicação em saúde
Cerimônia marca formatura de Especialização em Comunicação em Saúde
LEIA TAMBÉM