Para celebrar os 10 anos do Programa de Alimentação, Nutrição e Cultura (Palin) da Fiocruz Brasília, foi lançada no final de 2022 uma edição especial da Revista de Alimentação e Cultura das Américas (RACA), que reúne diversos artigos e ensaios interdisciplinares. Os autores participam de projetos de pesquisa no campo da alimentação, saúde, cultura e sociedade, no Brasil e em Moçambique.
O lançamento reforça a vocação do Palin de “atuar de forma interdisciplinar por meio de várias afiliações institucionais e regionais no país e por meio da cooperação internacional para promover a compreensão da complexidade da alimentação humana”, conforme destaca o editorial, assinado por Denise Oliveira e Silva, vice-diretora da Fiocruz Brasília e coordenadora do Palin; Flávia Elias, pesquisadora do Programa de Evidências para Políticas e Tecnologias em Saúde (PEPTS) da Fiocruz Brasília; e Erica Ell, pesquisadora do Palin.
Com 12 textos originais, a edição apresenta produções científicas que afirmam o Palin como instrumento de promoção da ciência cidadã voltada para a alimentação humana, em suas diversas dimensões e significados plurais. O número inicia com uma narrativa sobre um prato de tradição ancestral dos povos originários e de matriz africana, a farofa, e reflete sobre os princípios civilizatórios, de circularidade, ancestralidade, continuidade, movimento, força e paciência.
Já na seção de artigos, o primeiro texto apresenta os desafios da posse da terra para os patrimônios alimentares de quilombos em Goiás. A partir dos resultados de uma pesquisa etnográfica, o artigo aborda a importância da manutenção da biodiversidade pelos saberes tradicionais das comunidades quilombolas do cerrado, promovendo sistemas alimentares resilientes e sustentáveis para o planeta. Outro estudo publicado na revista analisou uma experiência vivida em um terreiro do Candomblé na Região Integrada de Desenvolvimento do Distrito Federal e Entorno (Ride-DF). Os autores apresentam os resultados de uma pesquisa de campo e mostram como uma festa religiosa revela as escolhas dos alimentos e a ritualística atua como dádiva comunal, sem intenções egoístas, de acordo com o referencial do antropólogo Marcel Mauss.
Os significados do cuidado alimentar e nutricional para idosos em Instituições de Longa Permanência também foi tema de um artigo, que buscou compreender os sentidos e significados atribuídos ao cuidado centrado na pessoa idosa a partir de uma perspectiva reflexiva, estruturada nas relações de cuidados nutricionais envolvendo idosos e profissionais de saúde durante a pandemia de Covid-19. A edição traz, ainda, uma análise da percepção e satisfação da imagem corporal diante de sua adequação ao peso corporal. O estudo envolveu 235 trabalhadores de instituições de pesquisa e ensino localizadas em Brasília (DF). Outro artigo do número especial trata da desnutrição infantil e seus determinantes em Moçambique. O trabalho consistiu em uma análise temporal de 1997 a 2015 de crianças menores de 5 anos com prevalência de desnutrição crônica.
Entre os trabalhos recebidos pelo fluxo contínuo da revista estão um panorama da comida e do comer na cidade de São Salvador (Bahia) pelos olhares de viajantes no século XIX e a influência da industrialização na oferta de produtos ultraprocessados e suas implicações negativas sociais, culturais, econômicas e ambientais.
Por fim, a nova edição apresenta quatro ensaios sobre as políticas públicas de segurança alimentar e nutricional no Brasil:
– Alimentos ultraprocessados e seus riscos à cultura alimentar e à saúde
– Sistemas alimentares, o cozinhar, o comer e a cultura
– Segurança Alimentar e Nutricional no Brasil: ontem, hoje e o amanhã
– Feijão fradinho nos ensinando sobre a paciência
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