Novo desenvolvimentismo: proposta para a economia do país

Fiocruz Brasília 19 de outubro de 2017


O novo desenvolvimentismo do país foi apresentado ontem (18) durante debate na Fiocruz Brasília como uma proposta para o crescimento da economia do Brasil. O tema foi ministrado pelo professor do Departamento de Economia da Universidade de Brasília (UnB), José Luis Oreiro, dando continuidade ao Ciclo de Debates Avançados sobre Desenvolvimento, Equidade e Saúde da Escola Fiocruz de Governo (EFG). Profissionais de saúde, pesquisadores, estudantes do Mestrado em Políticas Públicas em Saúde da Fiocruz Brasília e estudantes da UnB participaram da atividade.

De acordo com o professor, o desenvolvimentismo é a política econômica baseada no crescimento da produção industrial e da infraestrutura, com aumento do consumo e participação do estado. Já o novo desenvolvimentismo defende um estado financeiramente sólido, que acredita que o mercado seja a solução para os problemas, como estratégia de transformação produtiva que permita um crescimento econômico sustentável com uma melhor distribuição de renda. Oreiro explica que, segundo essa política alternativa, a indústria de transformação é o motor de crescimento de longo prazo das economias em processo de desenvolvimento.

O economista apresentou gráficos que comparam a economia do Brasil com países como Venezuela, Estados Unidos, Nova Zelândia, Portugal e Argentina, levando em consideração taxas de câmbio, poupança doméstica, poupança interna, PIB, renda per capita e crescimento da população.

Quando há a valorização da taxa de câmbio, há influência no valor de produtos e alimentos transacionáveis ou comercializáveis para o exterior. A oferta e os preços deste tipo de bens tem tendência a estar mais dependente das condições econômicas do exterior. Alimentos industrializados, artigos de limpeza, higiene e beleza, mobiliário, utensílios domésticos, equipamentos eletrônicos, veículos, combustível, bebidas, vestuário e material escolar são exemplos de bens transacionáveis.

De acordo com os dados apresentados, entre os anos de 1930 e 1980, o PIB crescia em média 7% ao ano no Brasil. Nos últimos 20 anos, a economia cresceu 3% e a população 1%. A renda per capita cresceu 2%, o que é considerado desastroso do ponto de vista do crescimento econômico.

A comparação da renda per capita de países em desenvolvimento com nações avançadas, como os Estados Unidos, é outra forma muito usada por economistas para medir o retrocesso ou o progresso de países rumo ao desenvolvimento econômico. Em 1950, a renda per capita do Brasil era de 17%, com relação aos EUA e teve um avanço para 23%. Segundo Oreiro, o pequeno avanço não é considerado muito bem sucedido.

De 1750 a 1977, a diferença no nível de renda per capita dos países pobres e ricos era muito pequena. A grande divergência teve início no século 19, fruto da revolução industrial. Os países ricos conseguiram se industrializar fortemente, enquanto os países pobres ficaram para trás. Com a industrialização, os países se tornaram desenvolvidos.

Em 1977, a diferença da renda entre os países desenvolvidos estava em 10 vezes. Hoje a renda média de países ricos é 50 vezes maior que a renda média dos países pobres e pode chegar a 153 vezes se compararmos os Estados Unidos com países da África, como o Zimbabue.

“A indústria é o carro chefe do desenvolvimento. Países com estrutura produtiva mais complexa têm maior nível de renda per capita”, destacou o professor Oreiro. O Brasil tem estrutura produtiva de média complexidade e renda per capita média. A sofisticação produtiva é medida pela gama de produtos que os países que conseguem produzir.

O desenvolvimento econômico é um processo pelo qual a acumulação de riquezas e o progresso técnico permitem o aumento da produtividade do trabalho e do padrão de vida da população. Com a desaceleração da economia brasileira nos últimos anos, o país tem sido deixado para trás. Para países emergentes, as crises de balanço de pagamento estão associadas à queda do nível de produtividade e desemprego. O balanço de pagamento registra o total de dinheiro que entra e sai de um país, na forma de importações e exportações de produtos, serviços, capital financeiro e transferências comerciais. “Financiar investimento com dívida externa é ruim e afeta o crescimento do país”, explica o professor.

O economista defende o aumento da taxa de impostos para o crescimento do país. “A produtividade média da economia vai subir, o que permite que pague salários mais altos por alguns meses. São resultados a longo prazo. Sem aumento da produtividade não tem como ter aumento do padrão de vida de forma sistemática”, afirmou. São fontes de crescimento da produtividade o progresso técnico, avanço da tecnologia e economia de escala.

“O grande desafio do modelo de novo desenvolvimentismo é a economia política. É convencer a população que abaixar o salário real e desvalorizar o câmbio trará uma recuperação a longo prazo e um benefício para todos mais pra frente”, ressaltou.

Para Oreiro, é preciso ainda desmistificar o que tem sido divulgado pela mídia, que o Brasil deveria seguir a vocação natural agrícola, pois um país com 210 milhões de pessoas não consegue empregar todo mundo só com o agronegócio. A taxa de desemprego no Brasil é de 14%, maior que a de empregados na indústria (12%). O pesquisador ressalta que não há relação entre os recursos naturais do país com o desenvolvimento econômico, já que o último é um processo construído com o tempo.

Ciclo de debates

O mediador da conversa, Geniberto Paiva Campos, do Movimento 2022, ressaltou que o ciclo de debates promovido pela Fiocruz tem como objetivo apresentar novas possibilidades de projetar o Brasil e falar sobre o futuro do complexo industrial da saúde, utilizando a economia no processo de discussão. “O SUS não é mais uma situação isolada, precisamos do dobro do orçamento para atender a demanda com qualidade”, completou. Para ele, os estudantes estão aprendendo a importância de estudar a economia e a relação com a inteligência, academia, educação e pesquisa para o desenvolvimento do país.  

O Ciclo de Debates Avançados sobre Desenvolvimento, Equidade e Saúde é uma atividade do Programa de Pós-Graduação em Políticas Públicas em Saúde, da Escola Fiocruz de Governo, na Fiocruz Brasília.


*Fotos: Sergio Velho Junior