Cristiane Parente (especial para a SNCT 2024)
De 14 a 18 de outubro, cerca de duas mil pessoas, em sua maioria estudantes de escolas de Brasília e arredores, estiveram na Fiocruz Brasília para a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia (SNCT) 2024, que teve como proposta levar os visitantes a uma expedição com o tema “Cerrado: do que temos ao que queremos”. Os visitantes puderam aprender sobre as riquezas naturais e culturais do segundo maior bioma do Brasil e da América do Sul, assim como as ameaças que ele vem sofrendo e como podemos ajudar na sua restauração e proteção.
De peça teatral a imersão por aromas, sons, toques e imagens; de bingo estimulando reflexões sobre a relação de cada pessoa com o bioma a um “Passa ou Repassa” disputado entre turmas com perguntas sobre os aprendizados da expedição; de totem digital com informações sobre economia, biodiversidade, proteção e ameaças – com direito a trilha musical para não tirar o Cerrado da cabeça – a um jogo de “Certo e Errado” sobre nossas escolhas diárias em prol de um meio ambiente melhor para o planeta… Os visitantes experimentaram várias formas de aprender e apreender o Cerrado, afinal, não se protege o que não se ama; e não amamos o que não conhecemos.
Um bioma para todos
A professora de matemática Michelle Carvalho, que leciona nos segundos anos do ensino médio do Centro Educacional 310 de Santa Maria, esteve na exposição com uma turma superanimada. Há 27 anos na educação, ela coordena dois projetos (“O clube da matemática” e “A galera da arte”) que buscam trabalhar a autoestima dos estudantes de periferia, por isso, quando soube da SNCT na Fiocruz Brasília, lembrou dos outros grupos que levou à instituição: “Com o acolhimento, oficinas e exposições o resultado foi acima do esperado. Além do aprendizado, os alunos sentiram que são importantes e capazes”.
Ela escolheu o Dia do Professor (15/10) para a visita, porque queria comemorar essa data com seus companheiros de pesquisa, mostrando a importância de cada um no processo de aprendizagem que, para ela, vai além da sala, dos horários e dos dias efetivos de aula. O resultado? Ela nos conta: “Foi muito legal. Durante as exposições, eles observaram conteúdos já estudados em sala de aula de geografia e também na matéria eletiva em que fotografaram o cerrado; o aproveitamento das informações para o estudo de funções exponenciais e logarítmicas e, por fim, o amadurecimento enquanto estudantes”.
A Rosa Martins tem oito anos e estuda no 1º ano da Escola da Árvore, no Lago Norte. Ela também visitou a expedição ao Cerrado e compartilhou suas impressões: “Na exposição da Fiocruz a gente viu várias coisas que a gente vê na escola, como as plantas”. Ela também destacou a beleza do painel no teatro e o personagem Cerradim, que apesar de lobo, não tinha nada de mau. Era apenas um lobo guará. O que ela levou para casa e deixou de recado depois de uma manhã de “expedição” no Cerrado? “Se a gente maltratar a natureza a gente vai morrer, porque as plantas limpam o ar pra gente respirar e fazem um monte de coisas pra manter a gente saudável e bem”. E será que a Rosa gostou da exposição: “Eu adorei. Achei super legal”.
Quem também adorou a expedição foi a monitora Thaise Dias Neto de Assunção. Para a estudante de veterinária, responsável pela atividade ‘Bingo do Cerrado’, “a gente precisa falar mais desse bioma nas escolas; conhecer mais sobre o Cerrado e se sentir parte dele”. A monitora destaca o fato de ter crescido comendo cagaita, mas nunca ter encontrado a fruta facilmente nos supermercados. “Por que as nossas crianças conhecem a castanha do Pará, mas não conhecem a castanha do Baru?”, pergunta. Ela ressalta a importância de exposições como a da Fiocruz e atividades lúdicas para popularizar o conhecimento sobre o Cerrado, já que para ela, as pessoas possuem um conhecimento muito superficial do bioma.
Que o foco da expedição era o Cerrado, todo mundo sabia! Mas tinha um personagem no meio disso tudo, de nome Cerradim, que encantou adultos e crianças que foram ver “Chapeuzinho Vermelho e o lobo Cerradim” e conseguiu mostrar que a arte também ensina. E muito! Por outros caminhos, talvez mais próximos ao coração, tornando cada conteúdo dito e cantado na peça significativos para a plateia, que saiu dali com nomes de animais do bioma na ponta da língua, curiosos para ver uma lobeira e uma caliandra, por exemplo, e com muitas informações para compartilhar em casa e com os colegas.
Saindo da exposição e indo para o teatro ou vice-versa, junto com as lembranças da escola, os conteúdos passavam a fazer cada vez mais sentido, despertando a sensação de familiaridade e pertencimento ao bioma, objetivo último da expedição. Apesar de difícil: “Todo dia faça suas escolhas. Todo dia escolha o Cerrado”.
Para Kelly Costty, roteirista e diretora da peça, criada em 2016, a ideia da adaptação de um clássico infantil foi justamente chamar a atenção para o Cerrado e as crianças terem mais consciência sobre ele: “Todo mundo que assiste se toca muito com o espetáculo. As crianças têm gostado bastante e o retorno é maravilhoso”. Segundo ela, a equipe recebe muitos desenhos após a peça e as crianças passam a querer conhecer o lobo guará e outros animais do bioma.
E engana-se quem pensa que apenas a plateia aprende e se emociona. Os atores e atrizes foram unânimes em confirmar que passaram a estudar o Cerrado para fazer seus personagens e continuam aprendendo ao longo do tempo, além de escutar do palco frases que os emocionam e os fazem segurar as lágrimas.
“O barulho do lobo a gente não sabia e teve que pesquisar muito”, disse Thais Amorim, intérprete de Chapeuzinho, que também destaca como é incrível estar no palco e escutar as informações que conseguem passar. Vitor Rezende, que interpreta o lobo Cerradim, diz que, pelo fato de ser o mais novo, teve que pesquisar muito: “se não a gente não consegue falar sobre o que não sabe.” A peça conta ainda com Letícia Lins (mãe e avó de Chapeuzinho) e Gustavo Jorge (caçador) e tem música e arranjos de Kelly Costty e Paulinho Moreno (Arranjos Mastering Estúdios).
Acesse a galeria de imagens da 21 ª Semana Nacional de Ciência e Tecnologia (SNCT) na Fiocruz Brasília nos links abaixo, organizados por data:
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