Perguntas e respostas sobre febre maculosa

Fernanda Marques 21 de junho de 2023


A febre maculosa ganhou as manchetes por conta de um surto identificado em uma fazenda de Campinas, no interior de São Paulo. No local, houve um grande evento que reuniu milhares de pessoas e, por conta da presença de carrapatos infectados pela bactéria Rickettsia rickettsii naquela área, infelizmente, houve transmissão da doença e algumas mortes. Entretanto, isso não significa que esteja ocorrendo um surto de febre maculosa no Brasil nem que o risco esteja aumentado, exigindo medidas de prevenção adicionais. A doença requer, sim, cuidados e vigilância, mas não há motivo de pânico. Os sintomas da febre maculosa podem ser confundidos com os de várias outras doenças. A suspeita só ocorre se a pessoa frequentou áreas rurais ou silvestres duas semanas antes e, nessa ocasião, foi picada por carrapato. Caso você tenha sido picado por um carrapato, a maior probabilidade é que ele não esteja com a bactéria e, portanto, não transmita a febre maculosa, a não ser que você tenha visitado uma área com registro de casos da doença. Por isso, a vigilância é tão importante. Igualmente, se você identificou carrapatos no seu animal doméstico, provavelmente, não existe risco, exceto se ele circulou por áreas de infestação com registros da doença. A transmissão da febre maculosa, quando acontece, costuma ser limitada, em áreas silvestres ou rurais, envolvendo mamíferos silvestres ou de criação, de grande porte. O recomendado é que, ao frequentar essas áreas, a pessoa use calças compridas, passe repelente e examine o corpo para identificar se há carrapato preso à pele. Além dos cuidados individuais, também há medidas de prevenção tomadas pelas autoridades. Abaixo, o sanitarista Claudio Maierovitch, coordenador do Núcleo de Epidemiologia e Vigilância em Saúde (NEVS) da Fiocruz Brasília, responde a algumas dúvidas comuns sobre a febre maculosa.

 

O que é febre maculosa e por que tem esse nome?

Claudio Maierovitch: A febre maculosa é uma doença infecciosa causada por uma bactéria transmitida por carrapatos. Tem este nome porque, além de vários sintomas, frequentemente, causa febre e surgem manchas avermelhadas no corpo.

 

A febre maculosa é transmitida de pessoa para pessoa?

CM: A transmissão não acontece de uma pessoa para outra. O carrapato pode adquirir a bactéria ao picar um animal que a hospeda, como capivara, bovino ou equino, e transmitir para uma pessoa.

 

Qualquer carrapato transmite a doença?

CM: O carrapato que costuma ser mais relacionado à transmissão é aquele conhecido popularmente como carrapato estrela. Em lugares em que há muita proximidade dos animais domésticos com os silvestres, e grande quantidade de carrapatos, outras espécies podem transmitir também.

 

Quais os principais sintomas? Quanto tempo eles demoram para aparecer?

CM: Os sintomas podem levar de dois a quinze dias para aparecer. A doença começa com febre alta, dor de cabeça, dor no corpo e mal-estar, podendo surgir manchas vermelhas, em especial nas solas dos pés e palmas das mãos, diarreia, vômito e, nos casos mais graves, paralisia de membros e dificuldades respiratórias.

 

Qualquer pessoa que apresentar esses sintomas é suspeita de ter contraído a doença?

CM: Os sintomas podem ser confundidos com os de outras doenças; por isso é muito importante saber se a pessoa esteve em área rural ou silvestre nas duas semanas anteriores, e se percebeu algum carrapato ou picada no corpo.

 

Caso a pessoa seja picada ou encontre um carrapato aderido ao corpo, o que ela deve fazer?

CM: O carrapato deve ser retirado com cuidado, usando uma pinça de ponta fina, sem apertar seu corpo. A forma adequada é puxar o carrapato para fora, inserir a pinça entre o corpo dele e a pele da pessoa, e então retirar.

 

A febre maculosa tem cura? Como é o tratamento?

CM: Caso haja suspeita, é importante iniciar o tratamento rapidamente, mesmo sem confirmação laboratorial. São indicados antibióticos, em especial a doxiciclina.

 

Como a pessoa pode se prevenir da febre maculosa?

CM: A principal prevenção é evitar o contato com carrapatos. Caso a pessoa vá a áreas onde há circulação de mamíferos silvestres ou de criação, deve se proteger com roupas que cubram a pele. Atenção especial deve ser dada aos membros inferiores, usando calças compridas com as bocas por dentro das meias ou botas, pois os carrapatos podem subir pelas pernas. Também é recomendável usar repelentes, reaplicando conforme orientação do fabricante. Se possível, não andar onde o mato for alto e nem em contato com arbustos, pois é frequente que os animais fiquem sobre eles e passem para as costas ou ombros de quem encosta. Depois, é importante examinar o corpo todo para identificar logo se há algum carrapato preso à pele. É bom lembrar que, quando cachorros andam por áreas com infestação, eles podem carregar carrapatos também.

 

O que causa a infestação de uma área por carrapatos? Qual deve ser o procedimento das autoridades nesses casos?

CM: Em geral, os carrapatos circulam entre animais de grande porte e o solo ou a vegetação rasteira. Tem sido observado que as áreas frequentadas por capivaras merecem especial atenção. As autoridades devem orientar a população, de diferentes formas, quanto aos riscos e cuidados; cuidar para que, nas áreas públicas, o mato seja mantido bem baixo; e garantir que haja barreiras para impedir a presença de animais onde as pessoas circulam. Também compete às autoridades fiscalizar áreas privadas abertas ao público e orientar os responsáveis. Quando forem identificados locais onde houve transmissão, a depender de análise, deve ser impedida a circulação de pessoas.

 

Em quais lugares a febre maculosa costuma ocorrer?

CM: A transmissão acontece em áreas rurais ou silvestres onde há circulação de mamíferos grandes, destacando-se locais próximos de lagos ou rios. Há maior risco no período de abril a outubro, porque é maior a quantidade de carrapatos jovens, chamados micuins. Eles são menores e, às vezes, não são notados na pele.

 

Existe restrição de frequentar ou viajar para algum lugar neste momento devido aos casos de febre maculosa?

CM: Não é recomendável frequentar áreas rurais ou silvestres onde há notícia de que houve casos de febre maculosa.

 

Tem mais alguma dúvida sobre febre maculosa? Envie sua pergunta para ascombrasilia@fiocruz.br que iremos responder.

 

Imagem: carrapato da espécie Amblyomma cajennense. Crédito: Christopher Paddock/CDC, 2008