Fiocruz Brasília em Moçambique

Mariella de Oliveira-Costa 9 de setembro de 2024


A pesquisadora da Fiocruz Brasília, Kellen Gasque, trabalha desde junho deste ano em Moçambique, como professora visitante. Ela fica até outubro naquele país, em atividades de pesquisa e docência junto ao Instituto Nacional de Saúde de Moçambique, por meio edital da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) do Ministério da Educação, promovido e organizado pela Vice-Presidência de Educação, Informação e Comunicação da Fiocruz. 

 

A docente trabalha com avaliação das ações educacionais e gestão de projetos da Secretaria Executiva da UNA-SUS e coordena o polo do Mestrado Profissional em Saúde da Família (ProfSaúde) na Fiocruz Brasília. Seu trabalho em Moçambique começou com a validação de um projeto de pesquisa sobre a importância do pré-natal odontológico junto ao Instituto Nacional de Saúde. Naquele país, há uma doença grave chamada noma – que destrói as membranas da boca e dos tecidos ao seu redor, e está associada à severa desnutrição infantil. “Delineamos uma pesquisa-ação com profissionais de saúde para verificar seu conhecimento sobre doenças bucais, e conhecer seu trabalho de prevenção dessas doenças e promoção da saúde da gestante e, principalmente, do bebê”, disse. Após a validação do Comitê de Ética daquele país, os questionários serão enviados online para os profissionais que atendem gestantes (no cenário moçambicano, principalmente técnicos em enfermagem e técnicos em medicina).  

 

Este intercâmbio é um marco institucional importante, já que é a primeira vez que uma servidora da Fiocruz Brasília vence esse tipo de edital internacional. “A presença de Kellen Gasque em Moçambique reitera o nosso compromisso com a cooperação sul-sul, a solidariedade entre países e o cumprimento de uma agenda prioritária da unidade que é a segurança alimentar e nutricional. Além disso, a sua atuação lá permitirá a construção de outras agendas de pesquisa e formação que se conectem à realidade do país e construam respostas efetivas para as demandas locais”, ressaltou a diretora da Fiocruz Brasília, Fabiana Damásio.  

 

A professora Kellen sempre teve interesse em conhecer Moçambique por saber de sua cultura, adorar a música e literaturas moçambicanas. Além da pesquisa original ela tem criado outras frentes de trabalho, como a parceria com o Ministério da Saúde daquele país para a publicação de manual sobre prótese dentária, a ser distribuído aos dentistas de lá até o fim deste ano. O conteúdo produzido via Secretaria de Saúde Oral (no Brasil, chamada de saúde bucal) será revisado pela pesquisadora e editado  pela Universidade Federal do Amazonas, por meio da Faculdade de Odontologia e CED (Centro de Educação a Distância), em parceria com a Fiocruz.  

 

Aproveitando a viagem, Kellen também assumiu o eixo de formação de  projeto anterior da direção da Fiocruz Brasília, com foco em Segurança Alimentar e Nutricional (SAN), em parceria com a Agência Brasileira de Cooperação, o INS, o Ministério de Agricultura e Desenvolvimento Regional de Moçambique por meio da Secretaria Especial de Segurança Alimentar e Nutricional e universidades moçambicanas. A docente está construindo o programa político pedagógico de uma especialização na área de SAN. 

 

Além disso, está acompanhando a execução do mestrado e doutorado que a Fiocruz mantém por lá, o Programa Educacional em Sistema de Saúde Brasil-Moçambique, conhecido como SIS-Saúde Brasil Moçambique e está escrevendo um artigo científico sobre o direito à saúde nos dois países, em parceria com o Programa de Direito Sanitário, da Fiocruz Brasília. Outro artigo em construção vai apresentar os resultados da oficina de escuta dos dentistas do INS sobre as necessidades e carências da saúde bucal. Está prevista ainda uma oficina para debate com dentistas de todo o país, durante o tradicional evento da área lá, o Jornadas de Saúde, em novembro, em parceria com a Universidade Federal de Juiz de Fora. “Estou bastante entusiasmada com as parcerias. Creio que teremos frutos muito importantes. É uma troca incrível. Eles usam muito know-how em tecnologias leves para atenção à comunidade e pretendo conhecer melhor”, acredita.  

 

A Fiocruz Brasília tem se fortalecido como espaço de qualificação dos trabalhadores da saúde, e esta troca com Moçambique, com transferência de tecnologias educacionais pode fortalecer o sistema de saúde de lá. “Acho que minha estadia é o primeiro passo, mas tenho certeza de que poderemos buscar novos projetos, como outras turmas de especialização, uma turma especial do mestrado, cursos de curta duração e outras ações educacionais”.  

 

O intercâmbio está no âmbito do Projeto Coopbrass – Edital n°05/2019 da Capes – Rede de Pesquisa e Formação em Saúde: Cooperação Sul-Sul entre a Fiocruz e Instituições Moçambicanas, elogiado pela pesquisadora. “Este intercâmbio fortalece parcerias da Fiocruz Brasília com o INS, e nos permite planear via Agência Brasileira de Cooperação, formações que fortaleçam cada vez mais a docência e pesquisa na instituição. Particularmente, para mim, conhecer um país com muitas dificuldades financeiras e pessoas e profissionais muito qualificados, é motivador e gratificante,” finalizou.   

 

O Projeto Coopbrass fomenta a parceria entre a Fiocruz, o Instituto Nacional de Saúde de Moçambique (INS) e a Universidade Lúrio (UniLúrio) para pesquisas e formação de gestores, pesquisadores e estudantes em duas áreas estratégicas: doenças infecciosas, negligenciadas e emergências sanitárias; e fortalecimento dos sistemas públicos de saúde. Além disso, contribui para a consolidação de redes de pesquisa existentes e para a formação de pessoal qualificado. Participaram da seleção pesquisadores servidores da Fiocruz que tivessem o título de doutor há mais de dez anos.