“Precisamos reforçar os princípios de solidariedade e colaboração”

Fernando Pinto 16 de setembro de 2021


A diretora da Fiocruz Brasília, Fabiana Damásio, participou do Programa “2022/2030: o Brasil e o mundo que queremos”, parceria da União Planetária com a Universidade de Brasília (UnB), com apresentação do professor emérito da UnB Isaac Roitman. O Movimento “2022/2030: o Brasil que queremos” propõe ações com foco em alternativas para melhorar a situação do país em questões nacionais amplas, como saúde, educação, ciência e tecnologia, ecologia e sustentabilidade, política e relações internacionais, entre outras.

 

Confira abaixo um recorte da entrevista da diretora para o Programa, transmitido no dia 2 de setembro pelo canal Supren da União Planetária.

 

 

Isaac Roitman: Revisitando sua trajetória, como se deu sua formação acadêmica e suas experiências profissionais antes da Fiocruz Brasília?

Fabiana Damásio: Me graduei em psicologia na Universidade Federal da Bahia (UFBA) e fiquei por lá sete anos, até a conclusão do meu mestrado. Na UFBA, pude vivenciar a afirmação das políticas educacionais e de ciência e tecnologia. Estudei na década de 90 e, na minha passagem pela Universidade, vivenciei a experiência dos programas de iniciação científica, o que me fez reconhecer a necessidade das evidências científicas para a construção do conhecimento na área que escolhi, em especial a psicologia do trabalho. Outro ponto que destaco foi a interlocução da teoria com a prática, de buscar experiências de estágios e vivenciar os diversos campos de atuação, o que enriqueceu muito meu processo formativo. Na Universidade, tive grandes mestres e participei de grandes discussões da psicologia como ciência, como no campo da avaliação psicológica, área em que fiz meu doutorado na UnB. Sobre minhas experiências profissionais, destaco o início da minha trajetória na psicologia social e do trabalho, com foco em saúde mental e trabalho, e, em paralelo, minha dedicação à educação, em que participei de processos formativos de psicólogos na Bahia. Trabalhei nesse campo por nove anos, buscando fazer a interlocução da experiência com a reflexão crítica. Só depois ingressei na Fiocruz.

 

Isaac Roitman: Você foi diretora da Escola de Governo Fiocruz (EGF) – Brasília. Poderia ressaltar a importância dessa Escola na formação de recursos humanos para a área de saúde?

Fabiana Damásio: Antes de falar da minha experiência na direção da EGF-Brasília, eu não poderia deixar de registrar a minha chegada à Fiocruz. As instituições por onde a gente passa nos ensinam muito e elas são grandes espaços de aprendizado e troca.  Foi na Fiocruz que pude me aprofundar e me dedicar à agenda do fortalecimento do Sistema Único de Saúde (SUS) e das políticas públicas em saúde e sociais, em defesa da vida. Quando cheguei à Fiocruz Brasília para trabalhar como analista de gestão de ensino, a EGF estava em processo de instalação aqui no Distrito Federal. A Escola, que vai completar 11 anos, foi crescendo em função das demandas que recebíamos aqui para cursos de direito sanitário, vigilância sanitária, alimentação e nutrição etc. Quando cheguei, ela tinha apenas um ano de existência, e ela se instalou seguindo a necessidade de articulação com a realidade local e com a necessidade do território. A nossa Escola foi criada com o espírito de reforçar a formação dos trabalhadores do SUS e a governança em saúde. À época, fui convidada pelo então diretor da Fiocruz Brasília, Gerson Penna, para assumir a direção da Escola, onde permaneci por cinco anos e pude vê-la florescer com as reflexões, críticas e proposições para o fortalecimento das políticas de saúde e do direito universal à saúde. Demos continuidade aos cursos isolados da Unidade e, após uma mobilização dos docentes, iniciamos nossa primeira turma do Mestrado Profissional em Políticas Públicas em Saúde, em paralelo com a Especialização em Saúde Coletiva, e com o desafio de expansão: instalamos nosso Núcleo de Educação a Distância (NEAD) e implementamos o Programa de Residências, reforçando nosso compromisso da integração entre ensino, serviço e comunidade. Uma das vocações da nossa Unidade é a educação. Além da Escola de Governo, contamos também com a Universidade Aberta do SUS (UNA-SUS). Somando todas as ofertas presenciais e a distância, na EGF-Brasília, temos 90 mil estudantes. Já na UNA-SUS, uma rede composta por 35 universidades, temos cerca de 1,6 milhão de estudantes. Consolidamos, assim, nosso compromisso de atuação, de seguir discutindo políticas públicas, direitos humanos e equidade em saúde, na agenda da promoção de territórios saudáveis e sustentáveis, da vigilância em saúde e da Atenção Primária em Saúde (APS).

 

Isaac Roitman: E a parceria entre Fiocruz Brasília e UnB?

Fabiana Damásio: Essa articulação com a UnB é histórica. Ela vem desde a participação de colegas nossos, como o professor Carlos Morel, que atuou na UnB e trabalha aqui conosco, na Fiocruz, reiterando a importância dessa articulação de longa data. A construção da Fiocruz Brasília, sua institucionalidade e seu avanço se deram nessa articulação com a UnB. A decisão de construir a sede da Fiocruz Brasília no campus da UnB foi um reconhecimento da natureza desse trabalho integrado entre as duas instituições, aproximando as suas agendas prioritárias, que giram em torno da educação e da ciência. Ao longo dos últimos dez anos, a gente vem estreitando ainda mais essa parceria, seja na formação, na oferta de serviços ou na pesquisa. Neste período da pandemia, nos aproximamos mais dos Decanatos de Extensão e de Pesquisa e Inovação. Juntos, organizamos a Plataforma de Inteligência Cooperativa com Atenção Primária à Saúde (Picaps), que congrega os esforços de cerca de 300 pessoas das duas instituições, entre docentes, técnicos, pesquisadores, estudantes e residentes. Destaco também, entre outras, a parceria com o Departamento de Psicologia, para interlocução e apoio na agenda da saúde mental, com o cuidado aos nossos docentes e discentes. No campo das boas práticas de gestão, a aproximação com a UnB é sempre um grande aprendizado. Existe um intercâmbio entre os nossos professores e, como diretora da Unidade, busco sempre fortalecer essa articulação com a UnB.

 

Isaac Roitman: O Movimento “2022/2030: o Brasil que queremos” procura convocar os jovens para a construção de caminhos para um país e um mundo melhores. Você pode deixar uma mensagem para esses jovens?

Fabiana Damásio: É sempre desafiador falar com os jovens, com toda essa ascensão da tecnologia. Para falar com eles, eu me remeto a uma filosofia africana, “Ubuntu”, que diz “eu sou porque nós somos”, e trata do conceito amplo sobre a essência do ser humano e a forma como ele se comporta em sociedade. Cada vez mais precisamos reforçar os princípios de solidariedade e colaboração para a construção de um mundo melhor, destacando a importância dos direitos universais, em especial educação e saúde. Para encerrar, trago um trecho de uma música dos Novos Baianos, que diz assim: “pela lei natural dos encontros, eu deixo e recebo um tanto”. Que a gente possa fazer da nossa sociedade um espaço de troca, vivência da diversidade e, principalmente, construção coletiva. É sempre necessário um reconhecimento de gerações; devemos reconhecer a interdependência das nossas vidas, para que a gente construa uma sociedade mais equânime e justa.

 

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