Em comissão na Câmara Legislativa, especialistas apontam fatores que contribuem para a disseminação do mosquito
As más condições de vida da população no Brasil, resultado do fluxo migratório de pessoas do meio rural para o meio urbano, é um dos fatores que contribui para a grande capacidade de disseminação do mosquito Aedes aegypti. Esta afirmação foi feita na última quinta-feira (25), por especialistas durante Comissão Geral na Câmara Legislativa do Distrito Federal.
O epidemiologista do Núcleo de Medicina Tropical da Faculdade de Medicina da UnB, Pedro Tauil, apontou outros fatores que contribuíram para a propagação da dengue, zika e chikungunya no país: o clima tropical; a coleta e descarte inadequado de resíduos; a globalização, que trouxe um aumento de viagens para o transporte de pessoas e materiais; aumento da produção de pneus usados e o descarte incorreto; dificuldade de atender demandas de água e esgoto da população e a resistência do vetor aos larvicidas.
Para o coordenador geral do Programa Nacional de Controle da Dengue do Ministério da Saúde, Giovanini Coelho, o momento atual é uma oportunidade de debater outros problemas sérios e históricos no Brasil, como o saneamento básico e a forma de armazenamento de água, pontos determinantes para minimizar os riscos de proliferação dos mosquitos. Ele explica que o controle do mosquito é de extrema complexidade por se tratar de um vetor urbano, de hábitos diurnos e domiciliares, e que convive muito próximo do ser humano.
Coelho afirmou que este é dos maiores problemas de saúde pública que o país enfrenta, resultando na decretação de emergência nacional de saúde pública pelo governo federal. A última vez que isso tinha ocorrido foi em 1917, com a epidemia de gripe espanhola.
Destacou ainda que é a primeira vez no Brasil que se vê uma mobilização tão grande com relação a esse problema, mas que as ações não podem parar. “É preciso uma mobilização permanente da sociedade e dos governos, para que as pessoas não se acomodem. A prevenção domiciliar contra o Aedes tem que se tornar uma questão cultural”, ressaltou Giovanini Coelho. A atenção no cuidado e assistência aos pacientes que apresentam ou já apresentaram uma das três viroses provocadas pelo mosquito, como as mães e crianças que nascem com má formação, também foram destacadas como fundamentais.
A Fiocruz soma esforços no combate ao Aedes Aegypti com pesquisas, capacitações e projetos. Uma das iniciativas apresentada pelo pesquisador da Fiocruz Brasília, Vitor Laerte, durante a comissão geral, foi a pesquisa zika. O estudo de caso de controle e de diagnóstico nos laboratórios de referência é realizado com gestantes e crianças para acompanhar as alterações durante o tempo. A instituição também promove treinamentos e cursos para médicos e profissionais de saúde, como o curso “Zika: abordagem clínica na atenção básica”, além de elaborar manuais técnicos e guia de vigilância em saúde.
Outra ação em destaque é o Projeto Wolbachia que propõe o uso da bactéria de mesmo nome, que, quando inserida no mosquito, é capaz de bloquear a transmissão de dengue, chikungunya e zika. No momento, está sendo usado em áreas da Ilha do Governador e Niterói (estado do Rio de Janeiro).
Laerte ressaltou que é preciso combater boatos sobre a transmissão da zika que circulam pelas redes sociais. “Nesse momento em que vivemos novas situações que buscam novos estudos, precisamos buscar fontes de informações confiáveis. Os boatos só têm a finalidade de causar pânico e desinformação”, advertiu.
Os especialistas lembraram da necessidade de juntar esforços dos três níveis de governos – federal, municipal e estadual – com a sociedade civil e iniciativas privadas no combate ao vetor.
Aedes Aegypti
Segundo o pesquisador da Fiocruz, o mosquito africano foi erradicado no Brasil na década de 70, quando causou um grande problema de saúde pública com a febre amarela, e, por descontinuidade das ações e não erradicação em países que fazem fronteira com o Brasil, foi reintroduzido. Vitor Laerte alertou que ainda há ainda uma grande possibilidade de reintrodução da febre amarela no território brasileiro. “Quanto mais tempo se demora para erradicar, mais a população se torna vulnerável a novas doenças”, explicou.
O epidemiologista do Núcleo de Medicina Tropical da Faculdade de Medicina da UnB, Pedro Tauil, alerta que o problema que o país enfrenta não é exclusivamente do Brasil, já que existem 2,5 bilhões de pessoas no mundo que vivem em área onde há a presença do mosquito.
Tauil reforçou que os objetivos agora são aprimorar o diagnóstico laboral rápido, vacinas e larvicidas. “A luta vai ter que continuar”, finalizou. O deputado Cláudio Abrantes, responsável pela comissão, a coordenadora de Políticas Educacionais para etapas temáticas e modalidades especiais de ensino da Secretaria de Educação, Hélia Giannetti, e o subsecretário de Vigilância à Saúde da Secretaria de Saúde, Tiago Araújo Coelho de Souza, também estiverem presentes no debate.
Fotos: Ascom Claudio Abrantes