O campo, ao mesmo tempo que é o lugar da produção do alimento, que sustenta a vida, é também um espaço profundamente atingido pelo uso de agrotóxicos, pela contaminação da água e pelo desmatamento, com foco nas commodities do agronegócio. Contradição de um projeto desumanizador que traz uma série de impactos, entre eles o sofrimento mental. A afirmação foi feita pelo psicólogo e mestre em Educação Maelison Silva Neves, professor da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), que participou, na tarde desta quinta-feira (17/3), da roda de conversa “Saúde mental no campo em tempos de pandemia da Covid-19”, parte da programação da I Mostra da Escola de Governo Fiocruz-Brasília.
A atividade foi realizada em formato híbrido, no auditório interno da Escola, com transmissão pela plataforma Zoom. Ela reuniu estudantes da Residência Multiprofissional em Saúde da Família com ênfase em Saúde da População do Campo e outros interessados na temática.
Maelison lembrou que o poder de decisão democrática sobre o território onde se vive é um processo gerador de saúde, que passa pelo equilíbrio com a natureza, pela sensação de segurança e pelo acesso à terra. Entretanto, num contexto social de exploração e outras violências, e que não possibilita o desenvolvimento dos indivíduos, tampouco respeita sua trajetória e subjetividade, uma das consequências é o adoecimento mental. Embora a pandemia de Covid-19 tenha intensificado os desafios da população do campo, por exemplo, com o fechamento das feiras e a redução da renda, ela não revelou apenas as fragilidades. “É preciso reconhecer as potências do campo. As comunidades assumiram seu protagonismo, com redes de solidariedade e arranjos coletivos auto-organizados para a vigilância popular da saúde no território”, afirmou o professor, reconhecendo as ruralidades ou a diversidade das populações do campo.
Também convidada da roda de conversa, a doutora em Psicologia Clínica e Cultura Jaqueline Tavares de Assis, da coordenação da Residência Multiprofissional em Saúde Mental, Álcool e outras Drogas da Fiocruz Brasília, colocou em pauta a saúde mental dos profissionais de saúde, que estiveram à frente do cuidado com as populações do campo em meio a todos os conflitos acirrados pela pandemia. “Nesse trabalho, entre resistência e esperança, precisamos das duas coisas, especialmente nos momentos de crise”, disse. Há momentos mais difíceis, em que se sente tristeza, raiva, ansiedade, e é preciso lidar com essas emoções, acolhendo-as. “Saúde é um exercício diário de cuidar e cuidar-se”, destacou a psicóloga, explicando que não se trata de um otimismo ingênuo, mas de um processo criativo de reinventar mecanismos para fomentar a resiliência, “por exemplo, usando as tecnologias de informação e comunicação a nosso favor, para nos aproximar”, comentou.
A I Mostra EGF-Brasília continua até sábado (19/3).
Confira a programação completa em www.even3.com.br/mostraescolafiocruzbsb