A Fiocruz Brasília, por meio do Núcleo de Epidemiologia e Vigilância em Saúde (Nevs) e do Projeto Marco (Manejo do Risco de Câncer Cervical), organizaram na manhã da última terça-feira (19/9), uma roda de experiências sobre o rastreamento do câncer do colo do útero na população LGBTQIAPN+. O encontro teve como objetivo criar um espaço para a troca de experiências sobre o rastreio do câncer do colo do útero entre homens transgêneros.
A doença se desenvolve a partir de uma infecção persistente causada por alguns tipos do papilomavírus humano (HPV) – existem 12 tipos conhecidos que podem causar câncer. A via sexual é a principal forma de transmissão. Atualmente, o Sistema Único de Saúde (SUS) utiliza unicamente o exame citopatológico, conhecido como “Papanicolaou” convencional para o rastreio, seguindo as Diretrizes Brasileiras para o Rastreamento do Câncer do Colo do Útero.
No Brasil, segundo dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca), a incidência do câncer do colo do útero é de 16.710 novos casos por 100 mil mulheres a cada ano, enquanto a mortalidade é de 6.385 por 100 mil mulheres por ano. A médica ginecologista do Centro Estadual Especializado em Diagnóstico, Assistência e Pesquisa (CEDAP) da Bahia, Patrícia Maria Almeida Silva, utilizou desses dados para afirmar a importância da ampliação do debate sobre o rastreamento do câncer do colo do útero na população LGBTQIAPN+, já que os dados oficiais só alcançam as mulheres. “Homens transgêneros e transmasculinos também devem passar pelo rastreio e triagem para prevenção ao câncer do colo do útero e os dados deles também devem constar nos índices oficiais”, alertou a ginecologista ao apontar para a necessidade de mais dados sobre essa população com o intuito de melhorar os indicadores de saúde e o acesso aos serviços nos equipamentos do SUS.
Para a coordenadora do Ambulatório de Diversidade de Gênero do Distrito Federal (Ambulatório Trans), Sid Vasconcelos, o encontro atestou a necessidade da continuidade da troca de vivências para a promoção da saúde de forma igualitária para a população LGBTQIAPN+. Em sua fala, a enfermeira apresentou a estrutura do Ambulatório Trans do DF e fez um breve relato de como funcionam os serviços ofertados, bem como os desafios enfrentados pela equipe, em especial nos atendimentos ginecológicos com os homens trans, que muitas vezes por medo ou falta de informação não querem ser atendidos pelo profissional. Dando continuidade à experiência do ambulatório, Kayodê da Silva Silvério, usuário dos serviços no Ambulatório Trans, relatou a sua vivência enquanto uma pessoa trans não binária que utiliza os serviços. Ele falou também da dificuldade de acesso aos serviços fora do ambulatório, enfrentados pela população LGBTQIAPN+, em especial pela falta de treinamento dos atendentes. “O processo de humanização começa quando você olha para o usuário e usuária que buscam atendimento no SUS. Se você busca um serviço de saúde e recebe preconceito, você não volta mais”, enfatizou ao falar da dificuldade no acolhimento dessa população em especial nos exames ginecológicos para homens trans.
A diretora da Fiocruz Brasília, Fabiana Damásio, disse que é preciso ampliar o debate e integrar a atenção e cuidado à saúde da população LGBTQIAPN+ nos programas de residências da Fiocruz, a exemplo do que foi feito com a saúde da PopRua. “É preciso também inserir a saúde dessa população nas políticas públicas e nos programas de residência”, disse ao lembrar do trabalho que foi realizado com a população em situação de rua durante a pandemia. Na plateia, integrantes do Projeto Marco dividiram suas experiências e práticas profissionais, além de tirarem dúvidas acerca dos protocolos e abordagem com a população LGBTQIAPN+. A equipe do projeto está em fase de coleta em campo nas cidades satélites de Ceilândia e Pôr do Sol, localizadas no Distrito Federal.
A vice-diretora da Fiocruz Brasília, Denise Oliveira e as pesquisadoras do Núcleo de Epidemiologia e Vigilância em Saúde (Nevs), Ana Ribeiro e Tainá Raiol também estiveram presentes no encontro que contou com a mediação do assistente de pesquisa do Nevs, Luiz Felipe Zago.
Confira aqui as fotos do encontro.