Heloisa Caixêta
Uma nova forma de contratação para a Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PD&I) para o Sistema Único de Saúde (SUS) foi apresentada na tarde da última terça-feira (7/2), durante evento do modelo inovador para acelerar a transformação digital no SUS. No encontro, foram assinadas cartas de intenção entre a Fiocruz e equipes que desenvolveram soluções inovadoras de produtos, serviços e processos que serão incorporados na Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES-DF). O projeto teve início em 2021, com a execução da “Hackatona: Inovação digital na atenção primária à saúde para o enfrentamento da Covid-19 e suas consequências” e agora se encaminha para a terceira fase, a de incorporação dos projetos.
Fabiana Damásio, diretora da Fiocruz Brasília, avaliou que os últimos anos de trabalho no enfrentamento da pandemia puderam convergir para o modelo apresentado. “O SUS precisa avançar e, cada vez mais, precisamos de soluções inovadoras para enfrentar todas as demandas colocadas pela população. O dia de hoje é a síntese de um aprendizado provocado pela pandemia e por muitos que estão aqui presentes. A estrutura da Plataforma de Inteligência Cooperativa com Atenção Primária à Saúde (Picaps) tornou possível dialogar com o território do Distrito Federal. Então este é um retrato do aprendizado nesses anos e da nossa força quando a gente trabalha de forma articulada, participativa e com um olhar atento, crítico e propositivo para o SUS”, afirmou.
“Nós trabalhamos com a ideia de que a transformação digital traz a saúde digital para um grande espectro de atuação. Quando falamos em saúde digital, vem logo no pensamento a teleconsulta. Mas a digitalização da saúde, nas áreas de prevenção, cuidado, promoção e gestão, forma um conjunto de dados que irão nos ajudar a alcançar a saúde pública de precisão. Ou seja, teremos mais capacidade de colocar recursos onde há maior necessidade”, lembrou Wagner Martins, coordenador do Colaboratório de Ciência, Tecnologia, Inovação e Sociedade (CTIS) da Fiocruz Brasília.
Martins apresentou ao público o histórico de como foi desenvolvido o modelo inovador. Inicialmente, com a criação da Picaps, no início da pandemia de Covid-19, em 2020, foi necessário acelerar o processo da transformação digital na instituição. A partir daí, com o financiamento da Fundação de Apoio à Pesquisa e Inovação do Distrito Federal (FAP-DF), foi possível o desenvolvimento da Hackatona de Inovação digital, iniciativa que proporcionou a criação deste modelo para contratação de soluções digitais para atender a necessidade da SES-DF.
O novo modelo foi baseado no Marco Legal de Ciência, Tecnologia e Inovação, no Marco Legal das Startups e na Política de Inovação da Fiocruz, conforme apresentou Susana Rosa, coordenadora da Assessoria Jurídica da Fiocruz Brasília. “A hackatona é um arranjo construído dentro do Marco Legal de Ciência e Tecnologia, a partir de um mapeamento feito da demanda do território, ou seja, da SES-DF. E com base nisso, a Fiocruz lançou um edital de chamamento público para selecionar empresas ou startups para que pudéssemos incubar essas empresas, para apresentarmos propostas de soluções para o SUS”, afirmou.
O processo da hackatona gerou um Guia de Análise e Acompanhamento Ético dos projetos de Saúde Digital, organizado pelo Núcleo de Estudos sobre Bioética e Diplomacia em Saúde (Nethis) da Fiocruz Brasília. “A ideia é realizar um acompanhamento ético do ponto de vista da privacidade dos dados, do conjunto de segurança sobre onde estão armazenados e como são manuseados, a curadoria dos dados, e como serão utilizados. O ponto principal foi tentar analisar cada projeto e saber como é o ecossistema, como essas informações são protegidas, qual será o uso e como é o respeito à privacidade dos usuários”, revelou Félix Rigoli, consultor do estudo.
Adriano de Oliveira, chefe da Assessoria de Atenção Primária à Saúde da Secretaria de Saúde do DF, afirmou que a SES-DF será o maior cliente desta iniciativa. “Estas inovações e o desenvolvimento destas tecnologias vão beneficiar diretamente o nosso sistema de saúde e, portanto, os usuários do SUS”. Oliveira também lembrou que a Coordenação da Atenção Primária à Saúde (CoAPS/SES-DF) participou efetivamente do processo de desenvolvimento e incubação das empresas participantes da hackatona, o que alinhou as necessidades e perspectivas a respeito dos projetos idealizados.
Para Tiago Bahia, coordenador-geral do Departamento de Monitoramento, Avaliação e Disseminação de Informações Estratégicas em Saúde (Demas) do Ministério da Saúde, as inovações são necessárias, porém difíceis. “Não é fácil encarar desafios construindo roteiros tão novos, sobretudo no setor público. Existe muita dificuldade de seguir a trilha da inovação acreditando que não seremos penalizados no final. Mas vimos bem como a segurança jurídica é essencial para que as pessoas possam ser criativas e não ter medo disso”, analisou.
Olgamir Amancia, decana de Extensão da Universidade de Brasília (UnB), lembrou que o processo da hackatona foi iniciado em 2020, com a Picaps, para atender às demandas dos territórios. “Parte do que temos hoje aqui é de um movimento construído em um momento difícil, que foi a pandemia de Covid-19, quando procuramos colocar a ciência e a tecnologia a serviço do atendimento à nossa população, por meio da produção de informação. Isso foi fundamental para o desenvolvimento de políticas de saúde no DF e territórios”, avaliou.
A superintendente científica e tecnológica de Inovação da FAP-DF, Renata Vianna, falou sobre a importância de apoio financeiro de entidades em projetos inovadores. “Ações como a Hackatona de saúde digital incentivam o setor privado a investir na transformação digital, fortalecendo o sistema público e auxiliando nos equipamentos do SUS”, enfatizou ao lembrar que a Fiocruz Brasília foi uma das instituições que recebeu um aporte financeiro, com o intuito de atuar para minimizar os efeitos da pandemia e suas consequências.
Socorro Gross, representante da Organização Pan-Americana de Saúde no Brasil (Opas), lembrou a importância da inclusão social durante a transformação digital. “Quando falamos sobre isso, precisamos pensar em gerações, de possibilidades de conexão, alfabetização digital, e muitas outras coisas. Uma inovação é feita quando é apropriada para uma população. Se não, é simplesmente um elemento que não se transforma, e a inovação tem que transformar. E essa transformação precisa trazer ajuda para o povo”, comentou.
O evento foi realizado pelo Colaboratório CTIS da Fiocruz Brasília, e o projeto contou com parceria da Fundação para o Desenvolvimento Científico e Tecnológico em Saúde (Fiotec), a CoAPS/SES-DF e a UnB, com patrocínio da FAP-DF.
Soluções inovadoras
Durante o evento, três startups qualificadas para a etapa 3 da Hackatona assinaram cartas de intenção de incorporação. São elas: Intercog Soluções, que desenvolveu aplicação de interoperabilidade para o fluxo de trabalho de atendimento clínico nas UBSs do Distrito Federal; DLG-X, que criou um cadastro individual para equipes de Atenção Primária no Distrito Federal; Saúde Conecta, que gerou um método de interoperabilidade para consulta de dados.
A Fiocruz Brasília assinou ainda o termo de intenção de incubação com a empresa Biodev, selecionada durante “Hackathona do Campo à Cidade”, realizada em 2022. O projeto apresentado é uma plataforma de apoio ao agricultor familiar concentrado em um único sistema de informação e mecanismo de venda de produtos oriundos da agricultura familiar no Brasil. Outra importante parceria estabelecida foi com as empresas H4nds e Atlantis, que utilizará drones para transportar amostras biológicas para a estruturação da rede de vigilância genômica do DF.
Também foi assinado termo de intenção de criação de portaria interna para o trabalho em conjunto entre a Fiocruz Brasília e o laboratório do Instituto de Ciência e Tecnologia em Biomodelos (ICTB/Fiocruz), cujo objetivo é estimular a Fiocruz Inovadora.
Assista ao evento completo no canal da Fiocruz Brasília no YouTube.
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Fotos: Sergio Velho Junior / Fiocruz Brasília