Dê Letras à sua Ação – Relato de Leticia de Oliveira Evangelista, Luiza Borges Soutto Mayor, Luiza Rosa, Maria dos Reis de Jesus Mesquita e Tatielly Pinheiro Oliveira
Cada uma de um lugar, mulheres negras e brancas, com culturas e vivências diferentes: Piauí, Tocantins, Rio de Janeiro, Goiás e Distrito Federal. Juntas no Distrito Federal, encaramos o desafio de participar do Programa de Residência Multiprofissional em Saúde da Família com Ênfase em Saúde da População do Campo da Fiocruz Brasília. Atuamos na Unidade Básica de Saúde 15 – Núcleo Rural Rio Preto, em Planaltina (DF). Ao chegarmos ao campo, nossa primeira demanda foi realizar a territorialização desse espaço, ferramenta para conhecer o território no qual estávamos sendo inseridas. Não foi uma tarefa fácil, pois trata-se de um território muito vasto, com mais de 300 quilômetros quadrados, poucas opções de locomoção e poucos dados geográficos disponíveis, além de termos chegado durante a pandemia.
Nos organizamos como Núcleo de Aprendizagem e Estudo (NAE) e o denominamos de NAE Deserto Verde, em referência à imagem visual do entorno – o território em que atuamos tem como principal atividade econômica o cultivo de monoculturas (milho, soja, aveia, trigo, canola e feijão) para exportação.
Realizamos diversas ações multidisciplinares com a comunidade, como cuidados com a Covid-19 e dengue, produção de materiais didáticos e atividades recreativas em comemoração do dia das crianças, além de ações relacionadas ao Outubro Rosa e ao Novembro Azul.
Neste relato, queremos abordar o Novembro Azul, visto que, muitas vezes, o homem não recebe tanta atenção dos serviços de saúde, justamente por não procurá-los. Pensando nisso, resolvemos fazer ações que impactassem positivamente o maior número possível de homens do território.
Começamos com uma crítica ao mês de conscientização sobre o câncer de próstata. A definição de novembro como o mês de ênfase à saúde do homem não contempla apropriadamente o homem do campo, pois novembro é um mês em que o trabalhador rural está em ritmo acelerado de plantios. Nesse sentido, para promover atividades com os homens do nosso território nesse período, foi necessário realizá-las nos locais de trabalho e, ainda assim, houve dificuldades para encaixar as agendas.
As empresas se mostraram abertas para receber a equipe de saúde. Visitamos oito fazendas e empresas entre produtoras de monocultura, granjas e frigorífico. Durante as ações, os homens nos confirmaram que, de fato, procuravam pouco o sistema de saúde, seja pelo elemento cultural (segundo o qual eles não precisariam de cuidados), seja pelo ritmo de trabalho exacerbado, ainda mais após a explosão da pandemia de Covid-19.
As atividades desenvolvidas foram rodas de conversas abordando a integralidade da saúde do homem e os motivos da baixa procura dos homens pelo sistema de saúde. Houve também alongamento, cálculo do índice de massa corporal (IMC), aferição de pressão arterial, orientações nutricionais e avaliação do cartão de vacinas. Ao final, era feita uma fala sobre a responsabilidade do homem com a própria saúde.
Pela nossa avaliação, os participantes se sentiram acolhidos e cuidados com essas intervenções em saúde. O SUS está presente em todos os cantos do país e nós fazemos a nossa parte para garantir essa verdade.
Sobre as autoras
Leticia de Oliveira Evangelista, piauiense, fisioterapeuta, especialista em Fisioterapia do Trabalho e Ergonomia
Luiza Borges Soutto Mayor, carioca, farmacêutica
Luiza Rosa, brasiliense, enfermeira
Maria dos Reis de Jesus Mesquita, tocantinense, assistente social, especialista em Serviço Social e Políticas Públicas, e Promoção e Vigilância em Saúde, Ambiente e Trabalho
Tatielly Pinheiro Oliveira, goiana, nutricionista
“Dê Letras à Sua Ação” busca divulgar artigos assinados por estudantes de pós-graduação da Fiocruz Brasília sobre iniciativas relacionadas a seus trabalhos acadêmicos ou de seus colegas. Os relatos são de responsabilidade de seus autores.