Um (re)encontro presencial, marcado por momentos de muita emoção e compartilhamento de experiências, aconteceu na manhã da sexta-feira (16/09), em comemoração aos 72 anos do Instituto Aggeu Magalhães/Fiocruz Pernambuco. A comunidade da instituição teve a oportunidade de se reunir para refletir sobre as perdas ocorridas nesses mais de dois anos vivendo a pandemia de Covid-19 e os caminhos para promover a saúde mental, em especial no ambiente de trabalho.
O público presente e os que acompanharam a transmissão pelo Youtube foram convidados a pensar a saúde mental de forma coletiva, conduzidos pela diretora da Fiocruz Brasília, Fabiana Damásio, e pela pesquisadora da Fiocruz PE Islândia Carvalho, coordenadora do Observatório Nacional de Saberes e Práticas Tradicionais, Integrativas e Complementares em Saúde (ObservaPICS) da Fiocruz. Observando questões que afetam a todos, como o ambiente onde se vive, as cobranças em torno de produtividade, o uso do próprio tempo, entre outras que representam desafios, na busca de formas de viver melhor e com mais qualidade de vida.
Fabiana Damásio construiu sua fala pela temática O fio da vida (ou a vida por um fio?), lembrando as perdas que todos tiveram para chegar no momento atual e o processo de luto envolvido nessa trajetória. A precarização das relações de trabalho, o aumento do número de pessoas que passam fome no país e em situação de rua, a violência contra a mulher, o machismo, o racismo e a violência contra os povos indígenas foram alguns dos temas lembrados nesse contexto. A partir dessas informações, ela inspirou várias reflexões sobre como está o território em que todos habitam e como pensar saúde mental coletivamente, além de trazer iniciativas exitosas da Fiocruz Brasília nesse campo.
A partir da pergunta “Porque tanta pressa?”, Islândia Carvalho falou em seguida, alertando para a necessidade de cada um reivindicar o controle do próprio tempo, que lhe foi tirado por ideias de produtividade – contidas em frases como “tempo é dinheiro” – e estruturas vigentes, como o patriarcalismo, o economicismo e o utilitarismo. A partir dessa ideia, amparada em estudos científicos e teorias como a da Complexidade (Edgar Morin), Islândia convocou os ouvintes a não ter medo de pensar diferente, de construir outras formas de viver e enxergar o mundo, sinalizando para novas perspectivas, para além destas que estão postas na sociedade e que favorecem o adoecimento. “Prazos que nos sufocam são muitas vezes construídos por nós mesmos”, explicou.
Entre os exemplos mostrados, destacou a ideia equivocada de sempre competir, em vez de colaborar. Em contraponto, a formação de redes foi um recurso – apontado pelas duas palestrantes – no caminho para mais saúde nas relações em todos os âmbitos: no trabalho, na família e na comunidade. Ao lembrar a pessoa como ser integral, a pesquisadora trouxe à reflexão outras racionalidades e cosmologias para além da biomedicina, que não fazem uma separação entre o corpo e a mente nem separam o indivíduo do “todo” – espaço no qual a cooperação e a solidariedade são fatores de saúde.
Temas sensíveis como o assédio e o suicídio também estiveram presentes na discussão. No final, foi aberto um espaço para que o público presente também fizesse considerações e questionamentos à mesa. Na ocasião, o vice-diretor de Pesquisa da Fiocruz PE, Manoel Lima Jr falou sobre a tentativa que alguns cientistas fazem de reproduzir o modelo de produção científica dos Estados Unidos ou da Europa aqui no Brasil – com as limitações estruturais e de investimentos existentes – e o sentimento de frustração que isso gera no pesquisador. Para ele, essa visão ainda individualista tem um preço e acaba causando problemas e transtornos psicológicos. “Quando a gente começar a entender que fazemos parte de um coletivo, que a nossa atitude tem um impacto geral e não isolado, vamos ter uma responsabilidade melhor como instituição”. E complementou, falando da necessidade de amadurecer para essas questões, para trabalhar de forma mais integrada, facilitando o convívio, o trabalho em rede e evitando as divisões.
Anfitrião do encontro, o diretor da Fiocruz PE, Pedro Miguel Neto, declarou que a saúde mental tem sido uma preocupação estruturante da Fiocruz como um todo, discutida no Conselho Deliberativo que reúne todas as unidades da Fundação, e reafirmou o compromisso da sua gestão com o tema. “Se tem uma coisa que a Fiocruz não pode abrir mão é de ser uma instituição de saúde, inclusive dos seus institucionalizados”, concluiu.
Logo após o debate, ocorreu uma vivência de meditação, ministrada pelo terapeuta Nicolas Daniel, do Serviço Integrado de Saúde (SIS) da Universidade Federal de Pernambuco.
Assista a íntegra do evento, que está disponível no canal da Fiocruz PE no Youtube, clicando aqui.