“O que é feito de nossos rios, nossas florestas, nossas paisagens? Nós ficamos tão perturbados com o desarranjo regional que vivemos, ficamos tão fora do sério com a falta de perspectiva política, que não conseguimos nos erguer e respirar, ver o que importa mesmo para as pessoas, os coletivos e as comunidades nas suas ecologias”.
Foi parafraseando Ailton Krenak, autor do livro Ideias para adiar o fim do mundo, que a diretora da Fiocruz Brasília, Fabiana Damásio, chamou a atenção para o papel das instituições frente às emergências climáticas, durante a mesa de abertura do Seminário e Workshop SOS Brasil Ameaçado: crises climáticas e sanitárias, realizado, nessa terça-feira, 22/10, no auditório externo da instituição.
“Pensando que nós somos a natureza e que nós temos ainda muita força para construir as tais ideias para adiar o fim do mundo, que possamos unir esforços para a construção de um outro cenário possível para os nossos filhos e para os que virão depois”, enfatizou a diretora.
Organizado pelo Colaboratório de Ciência, Tecnologia, Inovação e Sociedade (CTIS) da Fiocruz Brasília, o evento reuniu representantes do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), do Ministério da Defesa, da Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES-DF) e da Secretaria de Estado do Meio Ambiente do Distrito Federal (Sema-DF). O Seminário faz parte da programação de aniversário de 48 anos da Fiocruz Brasília, que será celebrado no dia 25 de outubro.
Chuvas torrenciais, provocando enchentes como as que assolaram o Rio Grande do Sul no início do ano, secas severas, queimadas e a fumaça derivada, fenômenos naturais cada vez mais intensificados por conta da ação humana, apenas para citar alguns exemplos de crises climáticas. Abordar essas emergências e os desafios ambientais implicados foram o objetivo do Seminário, que também colocou em perspectiva os impactos do desequilíbrio ecológico para a saúde pública, com a proliferação de doenças, como dengue, leptospirose e até a covid-19, além dos efeitos para a saúde mental dos seres humanos.
Para o coordenador do CTIS/Fiocruz Brasília, Wagner Martins, é preciso ter uma visão holística, integrada de uma só saúde para lidar com esses desafios de modo transdisciplinar. “As mudanças climáticas afetam o meio ambiente e, principalmente, nas periferias, onde estão as populações mais vulneráveis, mais pobres. E que, ao conjugar-se com a crise sanitária, geram novas epidemias. Hoje, estamos vivendo um conjunto de epidemias que muitas pessoas nem associam com a saúde. Por isso, nós chamamos essas instituições para que possamos pensar juntos como ciência, governo e sociedade podem atuar de forma articulada em uma rede sociotécnica que dê continuidade e fortaleça as ações que já vêm sendo desenvolvidas”, sublinhou Martins.
O assessor do Ministério da Defesa, Cleber Ribeiro da Silva, fez uma breve apresentação do Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia (Censipam), ferramenta de monitoração de chuvas e eventos de fogo naquela região, mas que ajudou a monitorar os focos recentes de incêndio pelo país.
Ao lado de Fabiana Damásio e de Wagner Martins, da Fiocruz Brasília, e de Cleber da Silva, do Ministério da Defesa, também participaram da mesa de abertura Rene Oliveira, coordenador-geral de Controle do Desmatamento do MMA; Fabiano dos Anjos, subsecretário de Vigilância à Saúde da SES-DF; e Gutemberg Gomes, secretário de Estado do Meio Ambiente e Proteção Animal da Sema-DF.
O Seminário contou, ainda, com as presenças de Eduardo Alchieri, da Universidade de Brasília (UnB) e Caroline Dantas, das Brigadas Populares do Instituto Cafuringa. A programação seguiu na parte da tarde em formato mesa-redonda, com o objetivo de discutir e estruturar um plano de ação para o enfrentamento de emergências climáticas.
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