“Vacina é vida, vacina é para todos!” 

Nathállia Gameiro 19 de junho de 2023


“Vacina é vida, vacina é para todos. Queremos que a vacinação volte a ser orgulho no nosso país, como já foi. Queremos a população protegida em todos os seus ciclos de vida, com todas as vacinas.” A fala é da ministra da Saúde, Nísia Trindade Lima, proferida durante sessão solene no Senado, realizada na última quinta-feira (15), em comemoração ao Dia Nacional da Imunização.  

Nísia destacou a vacina e o direito à água potável como grandes instrumentos civilizatórios para salvar vidas e melhorar importantes indicadores de saúde, entre eles, a mortalidade infantil e a expectativa de vida. Ela falou ainda sobre as próximas ações e campanhas de vacinação que serão feitas em estados e municípios. Como desafios, elencou a garantia do provimento de vacinas, a luta pela autossuficiência na imunização e a adesão de gestores públicos em todos os níveis, de atores políticos e da sociedade.  

Concorda com ela, o sanitarista e pesquisador da Fiocruz Brasília Claudio Maierovitch. Para ele, a vacinação é um instrumento fundamental, mas que deve se articular com as políticas de saúde, de vigilância e a organização do sistema de saúde em conjunto com a sociedade. 

Os esforços para erradicação de doenças em todo o mundo foram destacados pelo epidemiologista ao citar o trabalho do Brasil, pela capacidade de ciência e inovação e de produção, no fornecimento de vacinas para outros países. “São poucos os países que têm essa capacidade e autonomia em relação à vacinação”, disse ao lembrar das iniciativas da Fiocruz na pandemia de Covid-19, que vão além da vacina e perpassam pela pesquisa, formação e atenção direta aos pacientes.  

A existência de uma vacina, porém, não é suficiente para combater doenças. Maierovitch citou como exemplo, que já se passaram mais de 200 anos entre o início da confecção do imunizante contra a varíola e a erradicação da doença. Ele falou ainda sobre doenças que já contam com vacinas disponíveis há alguns anos e não foram erradicadas no mundo, como poliomielite e sarampo.  

A mudança de comportamento da população é um dos desafios que o pesquisador acredita que o país enfrenta atualmente. Para além do que Claudio chama de tragédia sanitária, que, para o sanitarista poderia ser contornada com os instrumentos conhecidos da saúde pública, da sociedade e da tecnologia, ele afirma que estamos vivendo o início de uma nova tragédia na cultura sanitária do país, “quando atitudes negacionistas não apenas fizeram cair, de maneira rápida, como não imaginávamos que fosse possível ao longo dos últimos anos, mas trouxe marcas que serão difíceis de apagar no comportamento, nas crenças e atitudes das pessoas”.  

Para o pesquisador, a pandemia mostrou o valor do Sistema Único de Saúde (SUS), a capacidade de recuperação da saúde pública e o alerta de que um retrocesso não pode acontecer novamente. “Voltaremos a ser um país com altas coberturas vacinais e com grande capacidade de proteção da população e exportação, não apenas de vacinas, mas dessa cultura de proteção e valorização do ser humano à frente da defesa de interesses menores ou que ameaçam a vida”, ressaltou. 

Produção e pesquisa  

O trabalho realizado pela Fiocruz também foi destaque na fala do presidente da Fundação, Mario Moreira, ao lembrar que vacina e vacinação fazem parte do DNA da instituição, que surge com a missão de acabar com uma crise sanitária que surgia no país. 

Mario afirmou que o Brasil é referência mundial nas estratégias de vacinação, não somente pelo Programa Nacional de Imunização (PNI), sua extensão e a quantidade de vacinas que oferece, mas pelo seu coorte, que abrange crianças, adolescentes, adultos e idosos. Segundo Moreira, um dos mais extensos do mundo. Ele reforçou que a Fiocruz está comprometida com esse esforço nacional de reconquista das taxas de alta cobertura vacinal e lembrou que o país tem sido convocado para conseguir promover um acesso mais igualitário às vacinas no mundo. “A vacina é um produto da ciência e um bem público, que precisa ser acessada por todas as populações em qualquer lugar do planeta”, declarou. 

O médico sanitarista Gonzalo Vecina, também presente na sessão, defendeu a produção de itens essenciais para suprir a demanda de oferta de imunizantes para os mais de 200 milhões de brasileiros. “Além da capacidade de pesquisa, a capacidade de produção é fundamental. Daí a importância da Fiocruz e do Butantan. Para isso, dependemos não só de políticas públicas emanadas do executivo, como também do olhar do legislativo”, disse. Para ele, a queda da vacinação contra doenças não só ocorreu pela falta de campanhas, mas pelas vacinas que o país deixou de produzir, a exemplo da BCG.  

 

Vecina lembrou do início das campanhas de vacinação, em 1973, anos de chumbo da ditadura de 1964, e dos esforços do Ministério da Saúde e dos sanitaristas da época. “É dessa vontade de criar um sistema de saúde que realmente traga um diferencial para o nosso povo que essa campanha nasceu. Temos que lembrar dessa luta para o SUS que estamos construindo, que diminua a desigualdade social e melhore as condições de vida para todos nós”, finalizou.  

A Secretária de Saúde do Distrito Federal, Lucilene Florêncio, apresentou o esforço realizado para que a vacina chegue para todos os moradores, incluindo os locais mais remotos. Além das 130 salas de vacina distribuídas pelo DF, a Secretaria faz a busca ativa, com idas a feiras, zoológicos, praças, campos de futebol e carro da vacina. Mais de 1,3 milhão de pessoas já foram vacinadas no DF este ano, segundo a secretária de Saúde. “A existência de vacina não é garantia, é preciso que as pessoas sejam imunizadas. Não podemos permitir que doenças erradicadas voltem ao nosso território”, afirmou.  

A origem do Zé Gotinha 

“O que seria de nós hoje se a ciência não tivesse criado as vacinas? Só em um ano a vacina evitou a morte de 20 milhões de pessoas no mundo. Imagina se a ciência não tivesse agido com a presteza e rapidez que foi inédita na nossa história. Precisamos estar todos unidos em defesa da ciência. A vacinação é um ato coletivo, eu me vacino pela sociedade, é uma responsabilidade social e reduz a propagação das doenças. A ciência é a salvação da sociedade”, afirmou o senador Marcelo Castro (MDB-PI), médico e ex-ministro da Saúde.  

Ele destacou ainda a importância do Programa Nacional de Imunização (PNI) do Ministério da Saúde. O PNI completa 50 anos em setembro deste ano e é responsável pela distribuição de mais de 300 milhões de doses anuais de vacinas (todas as vacinas recomendadas pela Organização Mundial de Saúde, soros e imunoglobulinas aos estados e municípios brasileiros.  

O Zé Gotinha é o garoto propaganda do PNI. Presente em diversos espaços, incluindo a sessão solene no Senado, seja em forma de pin nas roupas das autoridades, ou em tamanho real, ele faz sucesso por onde passa e também foi destacado pela ministra da Saúde, Nísia Trindade.  

 

O personagem virou símbolo da vacinação e foi criado no fim dos anos 1980, depois da resistência da população à vacina contra a poliomielite. O objetivo da primeira campanha era diminuir o medo das crianças em relação aos imunizantes, geralmente associados a seringas. O mascote caiu no gosto popular e é reconhecido até hoje por diferentes gerações.  

 

Fotos: Agência Senado